Na ladeira do Extra, notório endereço onde os adeptos do Candomblé fazem suas oferendas aos orixás – existem diversos pequenos terreiros na região de Vila Laura / Luiz Anselmo -, um prato de barro cheio de frutas descansava à sombra de uma das últimas mangueiras da região. As outras foram derrubadas para hospedar o Vila Privilege, empreendimento imobiliário em construção na área. Até a grama verde da rotatória, que ficava colorida de bombons em época de Cosme e Damião, foi sacrificada em nome dos caminhões que transportam as vigas de sustentação do condomínio classe média alta. Justiça seja feita, o Vila Privilege, embora seja chique, não chega aos pés do Horto Bela Vista, nem no quesito devastação, porque duas ou três árvores não se assemelham a bosques inteiros. O que são algumas mangueiras onde esfarrapados mendigos matavam a fome, comparadas às últimas matas do Cabula?
Do lado de cá da Rótula do Abacaxi, o vale que separa Vila Laura do Cabula, um mendigo, na falta das mangas, refestelava-se com a oferenda de frutas ao orixá de algum devoto. Uvas, maçãs e ameixas desceram goela abaixo, sem tempo para respirar, sem guardanapo a não ser as costas da mão. Pelo menos, enquanto não colocarem uma cancela e uma cerca para impedir que os pobres circulem nas imediações dos “privilegiados” e enquanto houver ebó, aquele mendigo já garantiu uma refeição diária e saudável.
Faltou uma câmera na mão, para registrar a cena, mas ideias na cabeça vieram tantas que até entonteci.
P.S.: O porquinho onde junto as moedas para a câmera ainda está meio vazio, mas sou persistente.
Oi João,
Eu não sabia dessa relação.
abs
andreia
Os mendingos nada mais são que a representação dos eguns (vagantes) e muitas vezes os ébos são um atrativo para eles!