O menino que não gostava de dormir II

Da série, Migrações

Escrevi esse conto inspirada no meu filho, que não gosta de dormir e tem uma imaginação contagiante. Ele já foi publicado no blog Estação de Sonho, que desativei e estou migrando aqui para o Mar de Histórias. Talvez, se tudo der certo, seja publicado em um suplemento infantil de um jornal aqui de Salvador.  No momento, o texto está sob análise. Clique no link abaixo para ler a primeira parte da história.

O menino que não gostava de dormir I

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Viajar para o céu tinha suas inconveniências. A distância, os meteoros e meteoritos, a falta de placas de sinalização e os anjos estagiários, sem carteira de motorista, eram sem dúvida os maiores incômodos. Morpheu não gostava muito de sair dos seus domínios. Ele era um rei recluso, taciturno. Alguns diriam que era mau-humor por tantos milênios sem dormir. O rei dos sonhos chegou às portas do reino dos anjos, sacudiu a poeira estelar da capa e esperou que viessem abrir a porta. Veio um anjo muito solene, vestido em túnica azul celeste, com as asas brancas dobradas atrás das costas. Não usava auréola. “Auréola só serve para impressionar os crédulos humanos, mas é muito desconfortável”. Morpheu se identificou muito a contragosto. Como todos os reis, esperava ser reconhecido e por isso ficou muito aborrecido quando o anjo porteiro pediu para ver a sua carteira de identidade. Depois de toda a burocracia para entrar no palácio do céu, finalmente ele foi levado à presença do rei dos anjos, que não tinha nome nem nada, simplesmente era conhecido como o Arcanjo.

O Arcanjo era mais alto que Morpheu e isso aborreceu o rei do sono, que gostava sempre de ser mais importante que todo mundo. Ele era metido, mas era um bom rei, cuidava direitinho dos sonhos e dos pesadelos das pessoas. O rei dos anjos era um sujeito muito prático, que não perdia tempo com cortesias e foi direto ao assunto. O rei Morpheu gostava de caminhos mais demorados para resolver os problemas e apreciava gestos de boa educação, como mandar a visita sentar na cadeira ou almofada mais confortável da sala e oferecer um suco de limão geladinho. No céu não tinha suco de limão. Anjos se alimentam de luz, mas da última vez que comeu luz, Morpheu teve azia. O Arcanjo foi direto ao ponto:

– Você veio me visitar para falar de um menino que não gosta de dormir?
– É isso aí – respondeu Morpheu displicentemente -, eu não gosto muito de sair de casa, ainda mais com esse trânsito hoje em dia. As estradas para o céu estão muito esburacadas sabia? Você devia mandar arrumar…

Um pigarrinho do Arcanjo fez o rei do sono parar de enrolar:

– O negócio é o seguinte colega, – os dois eram reis, Morpheu achou que podia chamar o Arcanjo de colega, mas o outro não gostou muito da intimidade – tem um menino na terra que não dorme porque os seus anjos ficam lá puxando conversa com ele e se ele não dorme, significa que eu não consigo fazer meu trabalho direito, que é botar o menino para sonhar. Então, eu vim aqui para você resolver a situação.

O Arcanjo arqueou uma sobrancelha:

– Caro senhor Morpheu, eu não posso me meter nas atividades que os anjos executam nos seus momentos de folga. Eles são livres para ir aonde quiserem e falar com quem bem entenderem.
Morpheu não estava gostando nadinha daquele rei dos anjos. Além de péssimo anfitrião, ainda era malcriado!

12 pensamentos sobre “O menino que não gostava de dormir II

  1. Está história e a cara do meu filho (6anos)
    Ele diz, a mesma coisa que o menino da história fala!! Kkkk
    Adoramos. Um conto inspirador!!!
    Ps: Ele ainda não conseguiu ouvir até o final, pois bem antes já está aninhado em seus sonhos.bjs bjs!!

  2. Muito criativo e palavras menos infantis. A história da língua dos anjos aconteceu mesmo com o menino?

    • Oi Cristiane, a língua dos anjos é uma metáfora que usei para o fato do meu filho, quando era pequeno, falar dormindo. A história é inspirada na infância do meu filho, que tinha 10 para 11 anos quando escrevi o conto. Por isso as palavras um pouco menos infantis, porque a criança para quem escrevi, já era maiorzinha. Abraços!

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