João acordou pouco antes das 10h com a campainha tocando. Pelo olho mágico viu que era um oficial de justiça executando a cobrança do aluguel seis meses atrasado. “Droga, antes do café-da-manhã!”, pensou enquanto tirava a corrente de segurança e destrancava a porta. Depois de assinar o comprovante de recebimento, pegou o envelope e o deixou cuidadosamente ao lado de outros envelopes de conteúdo semelhante. Um do cartão de crédito, outro do banco cobrando “juros abusivos” pelo cheque especial. O envelope por cima de todos na pilha era um ofício chamando-o para a audiência de conciliação com a ex-mulher. “Pensão alimentícia dá cadeia…”, coçava a cabeça enquanto catava no armário o café e o coador. “Nada de pensar em problemas antes do café da manhã”… Mas ele pensava. Impossível não pensar com a chuva de envelopes se acumulando sobre a estante da sala. “O problema – concluía João enquanto jogava colheradas de café no coador – é que tia Otaviana me deserdou. Logo eu, que era seu sobrinho favorito”…
Pingback: O funeral de tia Otaviana – parte I « Mar de Histórias