O funeral de tia Otaviana – parte I

A notícia da morte de tia Otaviana pegou a família inteira de surpresa. Ninguém esperava que a velha morresse de repente, porque já havia enterrado três maridos, os dois filhos e todos os irmãos. A opinião geral era de que a culpa pelo infarto da velha foi de João, o sobrinho que ela deserdou depois que ele se divorciou da mulher. Tia Otaviana não gostava de modernidades e divórcio para ela era pecado. As sobrinhas, preteridas no testamento, bem que comemoraram a derrocada de João, o preferido. Mas nenhuma delas pretendia que a velha morresse. Morta, ela não teria como acrescentar os nomes das sobrinhas ao testamento. Tia Otaviana deixou tudo para a igreja. Nem João ou as meninas iriam ver um centavo da fortuna acumulada ao longo dos três bons casamentos. Sem herdeiros naturais e sem ter legado nem uma moeda aos parentes, a velha deixou tudo para as obras de caridade. Que desperdício! – pensava João na capela onde velavam o corpo da parenta. As primas, umas cascavéis, comemoravam mais o fato dele continuar pobre e endividado, – agora ameaçado de ir preso por não pagar pensão alimentícia, – do que lamentavam o fato de não terem sido contempladas com uma parte da herança…

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>>“Devo, não nego” – Fragmento de um conto

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