A foto foi tirada do blog That´s All Folk!
“Talvez Geza tenha me perguntado sobre as origens de seu povo para puxar conversa. Não foram muitos os ciganos que encontrei interessados nesse assunto; para eles a história antiga consistia, quase sempre, na memória mais antiga da pessoa mais velha que vivesse no grupo. Mas eu sempre pensava em Geza em minhas viagens e encontrava com ele muitas e muitas vezes. Ao longo de quatro anos, visitei dezenas de comunidades roma no antigo bloco oriental – na Albânia, mas também na Polônia, Bulgária, Checoslováquia, Iugoslávia, Romênia, Moldávia e Alemanha. Falassem ou não sobre identidade nacional e étnica, os ciganos da Europa Central estavam cercados de pessoas que pareciam não falar de outra coisa. E esse não saber os distinguia, mesmo que não tivessem consciência disso. Acabei achando que era um atributo definidor da identidade cigana. Se não sabia dizer de onde vinha, você não era ninguém, e qualquer um podia afirmar qualquer coisa a seu respeito.
Mas, a resposta de Geza era boa: seu lar podia ser qualquer lugar e todos os lugares eram seu lar. Talvez as origens não importassem tanto assim. Com sua presença mítica, essa gente havia estado sempre ali, e sempre tivera de começar de novo, onde quer que se encontrasse. E chegar a qualquer ponto era sempre uma longa e dura jornada.”
(Isabel Fonseca, Enterrem-me em pé – A longa viagem dos ciganos. pp. 103, Companhia das Letras, 1995, São Paulo – SP)