A Ilha, de 1962, é o último livro de Aldous Huxley publicado com o autor ainda vivo, exatos 30 anos depois de sua obra mais famosa, Admirável Mundo Novo. O escritor morreu em novembro de 1963. O livro foi pensado para ser um oposto de Admirável Mundo Novo e Huxley dizia que com esse livro “quis dar uma chance ao Selvagem”.
Com essa premissa, é de pensar que se trata de uma singela utopia que confronta a distopia escrita e lançada primeiro. Mas não é bem isso, ao menos não parece nada utópico se o leitor ficar atento aos sinais. A Ilha é quase um ‘canto do cisne’ e essa “chance para o Selvagem” soa mais como os estertores de um mundo perfeito em vias de destruição.
Ambientado na idílica ilha de Pala, concebida para abrigar todas as ideias libertárias e humanistas do autor, o livro é um sonho que, lentamente, avança rumo a angústia opressiva de um pesadelo. Huxley, visionário, já previa o quão ineficiente – e venenoso – é o otimismo que se cobre com um manto de miopia profunda diante da realidade.
A Ilha, embora tenha sido escrito bem depois, simboliza o mundo puro de antes de Admirável Mundo Novo, se é que alguma vez o mundo já foi puro. É basicamente um prequel de Nosso Ford antes da segregação e da tirania se instalarem.

Nesse livro, Aldous Huxley bebe na fonte da filosofia, do hinduísmo e do budismo para imaginar uma sociedade perfeita, onde as crianças são educadas sem os vícios nocivos da sociedade ocidental, machista, patriarcal e capitalista com todos os seus derivados: a objetificação e submissão da mulher; a tirania de pais tóxicos, infelizes e frustrados sobre os filhos e do Estado sobre os cidadãos; o peso da religião opressiva e calcada na punição e na aniquilação do pensamento crítico; o consumismo desenfreado que leva à exaustão ambiental e à extinção das espécies.
Como obra escrita e publicada nos anos 1960, A Ilha traduz o zeitgest da época, com a contracultura, o amor livre, as lutas da juventude por autonomia, a experimentação com drogas [Huxley é também o autor de As portas da percepção, onde ele narra suas experiências com LSD e, por isso, a sua visão sobre drogas não é nada conservadora).
O livro se assemelha bastante ao testamento que guarda os anseios de um homem de pensamento muito à frente até para os anos 1960 e que idealiza uma sociedade onde as pessoas colaboram umas com as outras e educam novas pessoas para a felicidade, a beleza e a leveza espiritual. Mas que, justamente por ser uma utopia, praticamente uma quimera, não cabe na crueza da realidade.
Prepare o lenço para a cena final de partir o coração…
O exemplar que eu li: É a versão em e-book da edição da Biblioteca Azul disponibilizada no Skeelo, aplicativo que oferece um livro digital por mês para assinantes. As assinaturas podem ser feitas em planos próprios da ferramenta ou via operadoras parceiras de telefonia móvel ou TV por assinatura.
Ficha Técnica:
A Ilha
Autor: Aldous Huxley
Tradução: Bruno Gambarotto
Editora: Biblioteca Azul (2017)
400 páginas
*R$ 38,94 no Kindle e R$ 39,78 (Amazon, capa comum) ou para assinantes do Skeelo
*Pesquisa em 15/12/2022
**Imagem na postagem: Biblioteca Azul/Divulgação
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