“Também penso que o medo de errar nos paralisa. E, ao perderem esse medo, as crianças escreveram o que só elas viam e o que mais descobriram a partir dos seus próprios reparos. Foi dessa forma que a menina Jéssica Cruz, moradora do Alemão, me ensinou: “Quando eu olho o Pão de Açúcar pelo meu binóculo, e balanço a minha mão de um lado para o outro, fazendo o movimento de uma onda, fico em alto-mar dentro de casa”.
Achar alto-mar dentro de casa, ou se sentir em casa no alto-mar, é privilégio de quem sabe se enxergar. E, de uma vista para outra, as crianças também repararam numa cobra rezando na capela para ganhar um rato de lanche no final do dia; na margem de um riso; no fundo de uma beirada; numa menina com cabeça de planeta; num vento escondido na descida; num ralo do tamanho do escuro; numa pipa soltando um menino; num sol pendurado no varal, e em tantas outras imagens irrestíveis”.
(Márcio Vassalo, escritor e jornalista carioca, que cuida do projeto Seu Conto é Nossa História, que realiza oficinas de escrita criativa com crianças de 11 comunidades com UPPs – Unidades de Polícia Pacificadora -, no Rio.)
*Imagem: Instituto Inhotim
Uma pipa (no rio grande se diz pandorga) soltando um menino. que imagem linda