[“O senhor Palomar não se cansa de observar a corrida das girafas, fascinado pela desarmonia dos movimentos”, escreve Ítalo Calvino em um dos contos de seu livro Palomar. O tropel desajeitado é uma metáfora para a própria vida, caótica, cheia de percalços. Gostaríamos, muitas vezes, de ser como jaguares, rápidos e precisos, executando tarefas com primazia. Mas, no fundo, somos exatamente como as girafas. “Talvez porque o mundo se mova de modo desarmônico”, continua o escritor, “ou talvez porque (nos sentimos) procedendo por movimentos não coordenados da mente, que parecem nada ter a ver uns com os outros e que se tornam, cada vez mais difíceis de enquadrar num modelo qualquer de harmonia interior.”]
(Trecho da reportagem Pire na batatinha, assinada por Daniel Vilela, edição 149 da Vida Simples, setembro de 2014)