Dica de leitura: a biografia de Ataulfo Alves

ataulfoFeminismo a parte, a verdade é que gosto de Amélia. A música é machista de doer. Mas existe também uma nostalgia que me invade quando ouço “Ai que saudade da Amélia”. E apesar de não achar graça em passar fome ao lado de ninguém e muito menos ter como sonho de vida lavar, passar e cozinhar para um marido farrista e boêmio, tenho uma curiosidade que vem da infância, em relação a boemia e ao estilo de vida dos antigos compositores da MPB.

Mulheres de batom vermelho, ambiente nublado de fumaça de cigarro, wisky ou a cachaça nacional, batuque em caixa de fósforo marcando o compasso de uma nova canção, todas essas imagens estão associadas às canções que minha mãe ouvia e as que cantava para eu dormir. Embora hoje entenda o sentido de tantas canções de dor de cotovelo e das descrições das mulheres pérfidas, traidoras e levianas das canções, discordando delas racionalmente, seria injusta se não reconhecesse a poesia naquelas letras de homens desesperados e abandonados, cativos da beleza e da sensualidade das femme fatale.

Essa época de amores e dores intensas me intriga e estimula aquela curiosidade natural de quem era muito nova ou nem tinha nascido quando o mundo era mais ingênuo, se que é que já foi ingênuo algum dia…

Uma vez escrevi uma reportagem falando sobre as mulheres na música e atualmente ando fascinada com a ideia de transformar o tema em dissertação de mestrado. Daí que, na tentativa de botar ordem nas ideias e na provável dissertação, ando coletando informações sobre as amélias da vida. Este ano, inclusive, o compositor que cantou loas a “esta mulher de verdade” faria 100 anos se estivesse vivo. O jornalista Sérgio Cabral, que uma vez socorreu uma repórter desesperada por telefone, dividindo com ela um pouco da sua vasta sabedoria em MPB, lançou justamente a biografia deste compositor: Ataulfo Alves. Está aí uma boa dica de leitura.

O pai de Amélia – escrita em parceria com Mário Lago -, nasceu em 2 de maio de 1909, em Miraí, Zona da Mata mineira. Tinha de ser mineiro! Só porque os mineiros, sejam escritores, poetas ou amigos, me fazem perder a cabeça. A culpa é do sotaque.

Sérgio Cabral foi amigo pessoal de Ataulfo Alves. No livro, além de algumas curiosidades, como o fato do compositor ser fã de Getúlio Vargas (e quem não era naquela época?)  e ter vencido uma eleição como um dos dez homens mais elegantes do Brasil, o escritor apresenta a trajetória do artista, suas grandes composições como Saudade da Professorinha e Laranja Madura; além de músicas nem tão conhecidas, mas que foram gravadas por Carmem Miranda (Tempo Perdido) e Clara Nunes (Você passa, eu acho graça).

Ataulfo Alves foi ainda um dos fundadores da União Brasileira de Compositores (UBC), além de grande defensor da questão dos direitos autorais. O artista morreu em 1969, em decorrência das complicações de uma úlcera.

Ficha Técnica
ataulfo_livroAtaulfo Alves: vida e obra
Autor: Sérgio Cabral
Editora: Lazuli / Companhia Editora Nacional
Páginas: 176
Preço: R$ 30,00

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