(Im)paciente Crônica: Pra parar com essa mania de querer a vida dos outros

Atualização em 10/09/2017: Prezados (as), antes de prosseguir com a leitura do texto abaixo, algumas recomendações importantes. 1 – Este texto não é uma reportagem, é uma crônica, portanto, um texto de opinião (nesse caso, a minha opinião pessoal como autora do blog, você leitor (a) não é obrigado (a) a concordar, mas tem de aceitar o fato de que a dona do blog pensa diferente de você e como o texto não é seu, se não gosta, basta não ler); 2 – Não foi escrito por uma psicóloga, mas por uma jornalista; 3 – Este site é um blog pessoal e não um portal de notícias, por isso todos os textos daqui são opinativos (blogs são como diários pessoais, cada um escreve o que sente no  próprio blog/diário); 4 – Se você sofre de síndrome da comparação social ou sente algum tipo de inveja que te traz sofrimento e quer dicas para parar de se sentir assim, por favor, não leia o texto, porque ele não tem essas informações e, a depender de como você interprete o que vai ler, pode se sentir desconfortável, já que minhas opiniões são fortes. Minha intenção não é te fazer ficar desconfortável, mas apenas expressar minha opinião no meu próprio blog; 5 – Se você é estudante de psicologia ou áreas correlatas, não use esse texto para fazer pesquisa acadêmica, porque ele não se presta a esse papel e não possui o rigor científico necessário; 6 – Este texto foi escrito em 2012, inspirado no relato de uma leitora da revista Marie Claire, que enviou uma carta para um colunista da revista. Por um capricho do Google, ou porque muita gente gosta do meu jeito de escrever, o texto aparece bastante nos buscadores, mas ele não é um serviço de saúde ou de psicoterapia, repito, então se seu foco é em encontrar ajuda, por favor, busque outro texto; 7 – O livro citado no texto, Mal Secreto, de Zuenir Ventura, é uma ficção que tem como pano de fundo um caso de inveja que vira obsessão; 8 – reeditei o texto para facilitar a compreensão, mas mantive a essência, porque é nisso que eu acredito; 9 – Os comentários do post foram fechados porque, infelizmente, muita gente tem dificuldades para interpretar texto e os desaforos para a autora estavam caindo demais de nível. Como diria aquela personagem da Glória Pires: “não sou obrigada” a ler ofensas. E não, o fato da página estar na internet não dá direito de ninguém ofender o autor, é falta de educação. Discordar é possível, lógico, mas ofensas são inaceitáveis…
Zuenir Ventura, em toda sua sabedoria, já disse certa vez que não existe inveja boa. Concordo com o autor de Mau Secreto e fiquei esses dias pensando no escritor e jornalista. De secreta, em tempos de redes sociais, big brother e celebridades instantâneas, a inveja se torna um dos “pecados” mais declarados da atualidade e o fato dela ser tão divulgada, cada dia tem mais gente dizendo sentir inveja de alguém, não a torna um sentimento bom. “Inveja branca”, como definem alguns, não existe. O invejoso, mesmo quando diz a frase torpe – “olha, tô com inveja, mas é do tipo boa, tá?” -, na verdade sente é despeito amargo e gostaria de ter a vida ou de ser a pessoa alvo da inveja. Querer ter o que é do outro, querer ser a outra pessoa, querer a vida dela, não pode nunca ser um sentimento considerado bom. A inveja não é branca e nem preta, ela é abissal, profunda, tenebrosa, mesquinha e danosa. Não vamos envolver as cores nessa baixaria…

Lembrei de Zuenir Ventura e da inveja por causa de um texto que li outro dia. Um blogueiro de uma revista famosa respondia a carta de uma leitora que se sentia frustrada, deprimida e com raiva das postagens de seus amigos no Facebook. A leitora criticava os amigos e conhecidos por postarem fotos de momentos felizes de suas vidas, por mostrarem o churrasco do fim de semana, a viagem com o amor, os filhos, as conquistas profissionais. No texto, ela dizia que sabia que na “vida real” todos tinham uma existência tão medíocre, um emprego tão mais ou menos, quanto ela mesma, que se intitulava uma solitária. A moça dizia ainda que o Facebook a cansava e decepcionava por parecer um grande comercial de margarina. Ainda assim, ela não conseguia largar a rede social ou parar de medir sua vida pela dos outros.

Eu não consegui sentir pena dessa leitora com uma alma tão atormentada. Ela parecia mesmo sofrer com a felicidade alheia, mas ao invés de empatia pelo drama da moça, fiquei chateada, achei que era desnecessário alguém se torturar tanto. Acredito que ela tenha um transtorno psicológico chamado Síndrome da Comparação Social. Uma doença associada ao sentimento de inveja mórbida. Mas, na minha opinião de não especialista, toda inveja adoece. Essa síndrome, explicam os psicólogos, leva a pessoa a ficar o tempo inteiro medindo a própria vida pela vida dos outros. Ela compara desde a própria aparência física até empregos, casas, bairro onde o outro mora, relacionamentos… Em resumo, a criatura que sofre desse transtorno é do tipo que sempre acha a grama do vizinho mais verde e que se sente um injustiçado por não ser a dona, ou dono, daquela grama tão reluzente. A síndrome, segundo uma reportagem que li sobre o assunto, muito tempo atrás, leva a ansiedade, depressão, agressividade e baixa estima.

Acredito, embora não seja psicóloga, que é o contrário. A falta de autoconfiança, a baixa estima, a imaturidade e a incapacidade de lidar com o mundo real e suas limitações, discernindo o que é ilusão do que é concreto, a incapacidade de ter ilhas de consolo em meio às decepções, é que devem contribuir para o surgimento da Síndrome da Comparação Social, que no fundo seria mais uma das tantas paranoias que tiram o sono dos psicanalistas.

As fotos sorridentes na internet são carinhos que fazemos em nós mesmos justamente porque a vida é uma grande mistura de prazer e dor, de momentos lindos e de outros bisonhos. Viver pressupõe tanto ter momentos maravilhosos quanto outros genéricos. É uma ilusão achar que tudo sempre vai ser perfeito, todos temos dias ruins.

Acredito que o invejoso é acima de tudo um paranoico. Não tem outra explicação – na minha opinião – para definir alguém que passa a vida monitorando a existência alheia e cobiçando aquilo que não lhe pertence de forma tão obsessiva. Gente, vamos viver mais a nossa vida ao invés de querer a dos outros!

Invejosos são, acredito, pessoas compulsivas, que sempre buscam um alvo e, tal qual os ciumentos, colocam lentes de aumento em cada pequena conquista desse alvo.

Exemplo: Uma pessoa vai viajar a trabalho para alguma cidade que é ponto turístico famoso. Provavelmente, não terá tempo de se divertir, pois é uma viagem bate e volta, de negócios, com reunião, voos em horários mais baratos (nenhuma empresa paga voo caro para funcionário). Mas, para quem olha vida com mais afeto e encara os problemas com bom humor, mesmo sendo uma viagem bate e volta, no voo corujão, a pessoa hipotética do exemplo pode, no trajeto entre o aeroporto e o hotel, fazer umas fotos bacanas para registrar o fato de que esteve naquele lugar bonito, de repente para mostrar aos familiares. Eu faria fotos e acho que muita gente que conheço também faria, lógico, porque, como eu disse acima, todos precisamos de recordações para viver, todos temos de ter nossa reserva de bons momentos para lembrarmos deles nos dias ruins. Mas, um invejoso iria olhar as fotos do colega com o despeito característico e obviamente teceria um filme na sua imaginação de que aquela pessoa se divertiu à beça na viagem, que era uma sortuda pelo chefe tê-la levado e que ele (o invejoso) nunca tinha essa sorte, etc. Num segundo estágio da paranoia, o invejoso começaria a dizer que o colega que viajou deve ter prestado algum favor escuso para o chefe (se for uma colega então, vocês imaginam como estará a reputação dela na empresa, alvo de todo tipo de comentário maledicente). Por fim, o invejoso no seu delírio, diria que a pessoa escolhida para a tal viagem é na verdade uma incompetente, que quem merecia ter ido não era essa pessoa e que sim, ele, o invejoso, é que devia ter viajado, porque tem mais qualidades e blá blá blá…

Honestamente, para mim isso é coisa de alguém que precisa de ajuda médica. Psicoterapia talvez ajude esse (a) invejoso (a) a descobrir porque a vida dos outros é tão mais interessante a ponto dele (a) não querer a sua própria, mas a do outro, sempre. Por que será que o invejoso não enxerga que todas as pessoas, independente de mostrarem seu perfil mais bonito numa rede social, tem seus momentos bons e também os ruins? Por que ele (a) obsessivamente persegue cada sucesso alheio e os toma como uma ofensa pessoal? O problema está mesmo nas pessoas que compartilham fotos, sorrisos (algumas compartilham mágoas e chateações também) e ideias na internet? Ou o problema está em quem não sabe dividir, não entende o que é compartilhar, não sabe o que é curtir a felicidade alheia de forma desinteressada, principalmente quando se trata de amigos? Fico impressionada como vejo pessoas se ressentindo do sucesso daqueles que elas dizem ser amigas! Se você realmente admira um amigo (a), não pode sentir inveja. Para mim as duas coisas são inconciliáveis e por isso eu não acredito em “inveja boa”.

Não digo que não existam pessoas que usem as redes sociais para se exibir e assim se sentirem superiores aos outros. Claro que existem! No mundo existe todo tipo de gente. Mas, será que todo mundo que posta as fotos dos seus momentos de felicidade na internet é um exibido em potencial? Será que todo mundo que envia um link para os amigos de uma descoberta bacana feita na web está só querendo demonstrar o quanto é cool e inteligente? Será que todo  mundo que comenta um livro ou um filme está querendo só que os outros babem e digam “oh, como fulano é culto?” Imaginem se cada pessoa que tem algo de bom para passar aos seus semelhantes, se calar? Se as discussões acadêmicas pararem porque alguém sempre vai achar que o outro está querendo posar de gênio da raça? Voltemos todos então ao tempo das cavernas, porque pelo visto, invejosos mórbidos acreditam que conhecimento é algo ofensivo e não algo a se dividir. Então, para mim, a inveja é mesquinha.

A verdade é que todos sempre queremos ser amados, admirados e respeitados. É da natureza humana buscar aceitação e também unir-se por afinidade. E para isso mostramos nosso lado mais bacana, mais cordial, mais elegante aos outros. Pior seria se o Facebook, ou qualquer outra rede social, servisse apenas para mostrar as inseguranças, incertezas, egoísmos, fragilidades, birras e calundus que de uma forma ou de outra todo mundo comete, ou sente, nem que seja uma vez na vida.

Mostrar o tanto de beleza que há nesse vasto mundo, seja na própria vida ou na dos outros, no cosmos, na matéria sobre aquele resort que não temos grana para ir, mas nem por isso deixa de ser bonito, fotografando a cena do ângulo mais simpático, não é hipocrisia e nem polianismo. Curtir ou deixar que os outros curtam o que há de melhor em nós não é fugir da realidade ou querer enganar os outros posando de “última coca cola do deserto”. Hipocrisia é o que muitos invejosos fazem, que é ir lá e curtir o status alto astral dos outros e depois resmungar pelos cantos: “que falso (a), tem uma vida tão merda quanto a minha e fica de pose no Facebook”. E por acaso, ao mostrar uma cena bonita na web, no álbum de casamento ou na vitrine do shopping, alguém está dizendo que a sua vida não tem lá seus dias de penico cheio, que o trabalho não está tão interessante quanto gostaríamos ou que o namorado gostoso da imagem não tem  um chulé insuportável? Uma coisa não exclui a outra, só que geralmente, a dor a gente só divide com aqueles amigos e familiares mais íntimos. Querer discrição nas derrotas é perfeitamente compreensível.

Só os invejosos enxergam um lado único da moeda, de preferência o lado que sempre os desmerece em detrimento dos méritos de outra pessoa. Mas a verdade é que eles não precisam se sentir assim. Ninguém precisa de tanto sentimento negativo para existir e, de minha parte, se encontro gente invejosa no caminho, corro léguas, na direção contrária!