“Entrou-lhe um dia, pelo escritório adentro, um negro que desejava libertar-se e que ia entregar-lhe o montante do pecúlio necessário para que Gama trata-se de alforriá-lo. Enquanto o preto expunha o seu caso, apareceu o senhor, que por sinal era amigo do advogado. Estava visivelmente inquieto, triste, abatido. E entrando em explicações, pergunta ao negro porque pretende abandoná-lo, a ele que sempre lhe dera trato e carinho iguais aos de seus filhos.
– Por que queres deixar-me, abandonando o cativeiro de um homem bom como tenho sido, arriscando-te a seres infeliz quando estiveres sozinho pela vida?
O escravo não respondia. Não tinha o que reclamar, pois o amo fora sempre, mais que humano, solícito e bondoso. O senhor não se conformava com a atitude do escravo:
– Por que me abandonas? Que é que te falta lá em casa? Dize…fala…
– Falta-lhe – interveio Luiz Gama, dando uma palmada no ombro do preto – falta-lhe o direito de ser infeliz, onde, quando e como queira!”
(Sud Menucci citado em O advogado dos Escravos, de Nelson Câmara, Ed. Lettera.doc, São Paulo, 2010, pág. 142)