Resenha: Meus dias com os Kopp

Meus dias com os Kopp pode ser lido no Skeelo Books
Foto: Andreia Santana/@blogmardehistorias

Meus dias com os Kopp tem algumas coincidências com A retornada (resenhado na postagem abaixo ou acesse aqui). Primeiro, é o livro de estreia da autora espanhola Xita Rupert, assim como A retornada é a estreia da italiana Donatella Di Pietrantonio. Mas, as semelhanças não param por aí: o livro de Xita também é sobre amadurecimento e relações familiares complexas, tem uma adolescente como protagonista, é narrado em primeira pessoa por essa personagem principal e traz aquele assombro de quem está crescendo, diante dos paradoxos do mundo adulto.

A diferença é que a adolescente de Meus dias com os Kopp, Virgínia, tem 17 anos e não 13 como a garota não nomeada de A retornada. E, embora esteja viajando com o pai, é mais madura e responsável do que ele. De certa forma, é ela quem cuida desse pai, um acadêmico bipolar e pouco acostumado a resolver as coisas da vida prática. Um homem que tem dificuldade de se impor mesmo que as atitudes de seus amigos causem constrangimento e dor na própria filha.

A dupla encontra o casal Kopp, os amigos em questão do pai de Virgínia, na Espanha. Ricos e acadêmicos de prestígio, eles viajam junto com o filho Bertrand para que o Sr. Kopp receba uma homenagem do governo espanhol. O pai de Virgínia, por sua vez, é convidado para prestigiar o momento de glória do amigo, saindo da cidade pequena onde vive com a filha para a capital.

Além de refletir sobre a entrada de uma garota na vida adulta, com todos os dilemas que amadurecer traz, e focar na relação delicada entre um pai emocionalmente dependente e uma filha negligenciada em suas necessidades mais básicas de amparo e orientação, o livro também faz refletir sobre os choques de cultura provocados pelo encontro de Virgínia com esse casal britânico peculiar.

Os Kopp são, em certa medida, pessoas que vivem de aparências e que mantém uma relação ambígua com o próprio filho, um jovem apresentado como um genial ‘artista performático’ e que o leitor leva um tempo para descobrir se é também uma vítima de negligências com consequências trágicas ou só alguém egocêntrico e mal-educado.

Bertrand está fascinado por Virgínia e a garota, inicialmente hesitante, acaba também desenvolvendo um apego pelo rapaz, como se reconhecesse nele uma alma tão à deriva quanto a sua. Os Kopp e suas particularidades e excentricidades hipnotizam Virgínia, principalmente a Sra Kopp, que parece ser quem assume as rédeas para manter marido e filho minimamente sob controle. Ou ao menos ela tenta arduamente.

Virgínia deseja uma figura materna forte e acredita que a Sra Kopp possa ocupar esse lugar, mas a mulher mais velha a hostiliza a partir do momento em que o seu marido repara que a garota ‘já é quase uma mulher’. Ao mesmo tempo, esses adultos que julgam Virgínia com tanta velocidade, por sua roupas e suas atitudes típicas de alguém de 17 anos, mal deixam que a garota abra a boca. Falam sobre ela como se não estivesse presente, da mesma forma que fazem com Bertrand, um homem de mais de 30 anos. Virgínia é requisitada ou invisibilizada de acordo com a conveniência dos adultos.

De certa forma, a temporada curta na companhia dos Kopp é um choque de realidade em Virgínia, que percebe ali o fim dos dias despreocupados da infância. A garota entende que precisará superar as próprias fragilidades para navegar no mundo sendo sua própria bússola, porque seus pais, principalmente o pai, são incapazes de apontar um caminho. Com seu melancólico romance de formação, Xita Rupert reinventa a célebre frase de Simone de Beauvoir. Nesse caso, para Virgínia e para tantas jovens como ela, tornar-se uma mulher, muitas vezes, é uma construção solitária.

Ficha Técnica:
Meus dias com os Kopp
Autora: Xita Rubert
Tradutora: Elisa Menezes
Editora: DBA Literatura
128 páginas
R$ 43,92 (livro físico, Amazon) ou acessível pelo plano Leer+ do Skeelo (assinatura de R$ 19,90/mês)

***************

*Livro lido para o desafio #50livrosate50anos, brincadeira que criei para comemorar meu aniversário. Em abril de 2024 eu faço 50 anos. A ideia é ler 50 livros até lá e, se possível, resenhar ou fazer algum breve comentário aqui no blog e no Instagram, sobre cada um deles. Meus dias com os Kopp é o livro 30 do desafio. No total, até agora, 35 foram lidos, tem 15 na fila de leitura e cinco dos lidos aguardam postagem.

Deixe um comentário