Resenha: Prazer em queimar – histórias de Fahrenheit 451 (Ray Bradbury)

Prazer em queimar pode ser lido em versão e-book no Skeelo
Foto: Andreia Santana/@blogmardehistorias

Mais do que um exercício de escrita do autor e uma imersão do leitor na gênese de um clássico das distopias, Prazer em queimar: histórias de Fahrenheit 451 é Ray Bradbury lapidando o próprio texto. O leitor acompanha, no decorrer da repetição de versões do conto que originou o romance, a sutil arte da auto edição, o refinamento das frases, a extração ou acréscimo de trechos, o trabalho de ourivesaria que os autores fazem em suas histórias antes de entregá-las como concluídas.

Essa coletânea reúne 16 contos, 13 escritos antes e três depois de Fahrenheit 451. Algumas já foram publicadas em outras antologias do autor, como A cidade inteira dorme ou O homem ilustrado. Juntas, simulam um universo expandido da distopia.

O tema das histórias, mesmo das que antecedem o romance, é a queima de livros ou alguma forma do Estado regular o acesso à leitura, esse hábito perigoso por estimular o pensamento, o senso crítico e o questionamento.

Todas as histórias também fazem uma crítica ácida ao american way of life [modo de vida norte-americano], uma característica marcante da obra de Bradbury, que viveu e produziu boa parte de sua bibliografia no boom tecnológico e econômico dos Estados Unidos após a II Guerra Mundial, ou seja, nos anos 1950 e 1960.

O primeiro conto do autor é de 1938, quando tinha apenas 18 anos, mas as obras que marcaram a história das distopias e da ficção especulativa são todas do pós-guerra: Crônicas Marcianas (1950), O homem ilustrado (1951) e Fahrenheit 451 (1953). Em comum, as três obras trazem a forte crítica social como marca registrada.

Embora a inspiração do autor para Fahrenheit 451 tenha sido as queimas de livros promovidas pelos nazistas durante a II Guerra, que começou quando Bradbury era um rapaz no finalzinho da adolescência, 19 anos, uma parte significativa da atmosfera do livro e dos contos que o antecedem ou derivam desse romance, traz a descrição de um futuro sombrio, onde a humanidade está idiotizada, mesmerizada, pela publicidade e por programas de TV e, por isso, não se dá conta de que vive sob governos tirânicos.

Fico imaginando o que ele escreveria se tivesse visto a era das redes sociais…

Ficha Técnica:
Prazer em queimar: histórias de Fahrenheit 451
Autor: Ray Bradbury
Tradutores: Antonio Xerxenesky e Bruno Marques
Editora: Biblioteca Azul, 2020
416 páginas
R$ 59,00 (livro físico, Amazon) ou na versão e-book para assinantes do Skeelo

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