Resenha: Somos todos adultos aqui

Somos todos adultos aqui foi lançado em 2021 no Brasil, inicialmente em edição especial para assinantes do clube TAG Inéditos e, depois, em versão para o mercado editorial
Foto: Andreia Santana (@blogmardehistorias)

Somos todos adultos aqui lembra filmes como Parenthood (Ron Howard, EUA, 1989). O romance de Emma Straub traz a mesma estrutura narrativa: uma família às voltas com as próprias disfunções. A diferença é que os mais de 30 anos que separam o livro de Straub, de 2021, do filme de Howard, serviram para os dramas familiares ganharem outros contornos, com debates mais contemporâneos.

O livro conta a história de Astrid Strick e sua família. Ela é viúva, mãe de três e avó de uma adolescente e dois bebês gêmeos. Astrid beira os 70 anos e depois de décadas de viuvez, o marido morreu jovem, decide sair do armário após presenciar a morte de uma vizinha atropelada por um ônibus escolar.

Ela reúne toda a família em um jantar e apresenta a namorada, a cabeleireira e dona de salão Birdie, que até então, aparecia apenas como uma amiga de longa data da matriarca.

Ao mesmo tempo, o filho mais velho da protagonista, Elliot Strick, pai dos gêmeos, está estressado tentando trazer um negócio milionário para a cidadezinha onde a família mora, Clapham, enquanto  tenta si provar para a mãe; Porter, a filha do meio, criadora de cabras e fabricante de queijo, decide engravidar por inseminação artificial aos 39 anos e não sabe muito bem o que fazer com a paixão juvenil que ainda sente pelo ex-namorado, Jeremy, um dos veterinários da cidade; e Nick, o caçula, ex-ator adolescente que decide abandonar a fama, envia a filha Cecelia para a avó cuidar depois que a menina enfrenta problemas na escola em Nova York, onde vivia antes com o pai e a mãe, uma bailarina e beldade francesa.

Gravitando em torno da família há os demais moradores da cidade e seus dramas. Como Robin, uma menina transgênero que se torna a melhor amiga de Cecelia na escola de Clapham. Robin é filha de um casal acolhedor e de mente aberta que tem uma mistura de loja de antiguidades e brechó. As cenas dela e de Cecelia são as mais fofas do livro. A neta de Astrid é minha Strick preferida.

O que acontece com cada personagem e como resolvem seus dilemas, só lendo para saber. Mas já adianto que essa história, que tem aquela atmosfera gostosinha indie, não traz grandes reviravoltas ou injeções pesadas de adrenalina. Para quem costuma reclamar que ‘nessa história não acontece nada’, aviso que Somos todos adultos aqui tem vários acontecimentos, mas todos deliciosamente cotidianos.

Trata-se de uma história confortável, cheia de otimismo e simplicidade, na medida para quem aprecia as sutilezas. É a vida dos personagens acontecendo no dia a dia, suas interações, a capacidade de dizerem ou não o que sentem em relação uns aos outros e a si mesmos, como lidam com os problemas em conjunto e de forma individual. É uma leitura em ritmo suave, para confortar, sem sustos ou revelações bombásticas.

Uma das coisas que mais gostei é a forma como a temática LGBT+ é tratada de forma bem sincera, verossímil e sensível pela autora. Cada personagem lida com suas potencialidades e limitações nessa área de uma maneira muito autêntica. A história de Robin é cheia de afetividade e mostra outra perspectiva, a das crianças trans que são aceitas e encorajadas. Embora a realidade seja mais dramática para muita gente, é bom quando a literatura mostra também o lado das famílias e amizades que dão suporte.

O que mais posso dizer é que, Somos todos adultos aqui é o tipo de leitura para quem está sedento de finais felizes em meio ao desamor no mundo real…

Ficha Técnica:
Somos todos adultos aqui
Autora: Emma Straub
Tradutora: Camila von Holdefer
Editora: HarperCollins Brasil/TAG Inéditos, 2021
352 páginas
R$ 39,80 (livro físico, capa para o mercado, na Amazon) ou a partir de R$ 15 (usado, capa da TAG, na Estante Virtual. A edição da TAG está esgotada na Livraria Dois Pontos, que é o site oficial de venda dos kits antigos do clube de leitura).

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