Depois de passar quatro dias literalmente presa ao inferno da axé music (com todo respeito a quem gosta do estilo, eu detesto!), decidi descontaminar visitando o inferno real. Mais uma vez, na minha necessidade de investigar a origem das coisas, fui beber na fonte primordial – paciência leitores, sou nostálgica desde que me entendo por gente – e revi Nosferatu, o clássico do cinema mudo de 1922, de F.W Murnau. Engatei a fase clássicos do terror, que começou com O Gabinete do Dr. Caligari e agora resta terminar a trilogia: falta O Vampiro de Dusseldorf. Como, durante a reforma do meu apartamento – em dezembro – e para sobreviver ao baticum dos pedreiros, eu também desci aos infernos, desta vez na companhia de Bram Stoker, e como Nosferatu e Drácula são sinônimos, pelo menos a palavra nosferatu é sinônimo de vampiro e Drácula é o pai de todos os sugadores de sangue, está tudo em casa. Deixando de divagar, eis os fatos:
Murnau pode não ter recebido autorização da viúva do escritor irlandês para gravar Nosferatu, daí ter mudado nomes de personagens e mudado a ação da Grã-Bretanha para a Alemanha, até porque, o diretor era alemão, mas sua adaptação do Drácula de Bram Stoker, na aurora do século XX, não deve nada ao filme de Copolla, já no crepúsculo do mesmo século e uma espécie de clássico dos anos 90 (eu, particularmente, gosto muito das duas versões), para usar figuras de linguagem muito caras aos vampiros. Sabe como é, morder pescoços ao anoitecer, voltar para o caixão com os primeiros raios de sol, vampiro legítimo, aquele que se assemelha a um morto-vivo, “um não-morto”, usando a linguagem de Stoker. E não os de hoje em dia, super tecnológicos, cheios de poderes e habilidades de X-Men (adoro os X-Men, que fique bem claro!), que saem ao sol e tem pele de diamante! Nada disso, vampiro de meter medo é que tem minha predileção.
A geração Twilight que me perdoe, mas a saga de Stephenie Meyer não é uma história de vampiros, é um romance teen, bonitinho e tudo mais, entretenimento dos mais leves, para desopilar o fígado e desanuviar a cabeça, eu até acho legal (em doses homeopáticas), mas vampiro de verdade é o conde Drácula. Aaahh, o conde Drácula! Nada de dramas de consciência, nada de paixões recolhidas, um ser amoral e atemporal, que tem servido de metáfora para tudo nesta vida de meu deus. “Este sistema é um vampiro” – e é mesmo, completamente sem alma e sem coração, sem códigos de ética e grudado na jugular até esgotar a última gota.
Bram Stoker cria um ser perverso e incapaz de sentir compaixão e muito menos apaixonar-se. Levemente insinua que num passado remotíssimo, o vampiro, quando não era um ser condenado, amou alguém. E faz isso apenas através de um túmulo. Van Helsing (o caçador de vampiros que não é o bonitão Hugh Jackman e está mais para o fofo Anthony Hopkins, gordinho e já idoso), quando desce até a cripta do conde, vê um túmulo imponente, onde dorme uma das noivas, e pressupõe que a sepultura foi construída para o repouso de “alguém que foi muito amado”. Embora seja uma das noivas que dorme no local, não fica claro se foi para ela que o lugar foi construído. Em outro trecho, num diálogo entre Drácula e as mesmas noivas, quando uma delas o acusa de nunca ter amado, ele responde friamente, “você sabe que já tive esse dom”. E pronto, acabam-se as referências românticas na vida do conde Drácula.
De Mina Harker ele quer primeiro o sangue, porque precisa se alimentar – ora essa, sejamos práticos – e segundo, vampirizá-la para castigar Jonathan Harker, que eu aqui com meus botões (do teclado) desconfio que esse sim, desperta desejo no conde. Desejo, amor não, que o autor deixa bem claro que Drácula perdeu a capacidade de amar em algum momento nos seus longos séculos de não-vida. Sem alma, sem coração, lembram? Ôpa – pisei em terreno minado. Mas ninguém nunca leu Drácula pensando que o vampiro tem predileção por rapazes!? Reparei nisso nessa releitura que fiz da obra, recentemente, e fiquei me perguntando que outro motivo ele teria para advertir suas amaldiçoadas noivas, que na verdade estão mais para assistentes de maldade, de que elas não tocassem no incauto advogado que vai esbarrar no seu castelo, coitado, crente que vai vender um terreno a um magnata exótico da Transilvânia. E por que castigar as vampiras, me pergunto, já que ao aproximar-se de Jonathan, elas davam vazão à sua natureza? O conde ainda adverte textualmente: “Ele é meu”. Eis uma análise que nunca vi fazerem do conde Drácula, mas que pode render pano para a manga. Fica a sugestão.
Copolla explora magistralmente “o provável desejo” (coloco entre aspas porque é uma suposição minha, sem base de pesquisa) de Drácula por Jonathan nas cenas passadas no castelo. A deferência com que Jonathan é tratado, Drácula servindo-lhe jantar, Drácula questionando sobre sua vida pessoal, o tom lascivo do conde ao falar com o advogado, o lamber de beiços enquanto o rapaz faz a barba e o erotismo da cena em que, uma vez que o rapaz se corta no barbear, Drácula agilmente toma a navalha de suas mãos e lambe o sangue. Metáfora e das boas. Muito sutil seu Bram Stoker, afinal o homem escreveu seu romance no século XIX e homofobia naquela época era praticamente lei (não mudou tanto assim de lá para cá). Menino sabido esse Seu Copolla, conseguiu jogar toda a carga de sensualidade, de tensão do livro nesta cena, embora, evitando pisar tanto assim no tal do terreno minado, invista na fictícia relação de amor entre o conde e Mina. No entanto, não é em Bram Stoker que ele busca elementos para traçar essa história de amor às avessas, mas na “biografia” quase mítica de Vlad Tepes, o conde romeno que lutou contra os otomanos e tinha o hábito de empalar suas vítimas e que, por sua vez, serviu de inspiração à Bram Stoker para criar o vampiro.
Em nenhum trecho do livro de Bram Stoker é sequer insinuado que Drácula deseja Mina para sua consorte. Ele só se interessa por ela ao perceber que aliou-se aos seus “inimigos” e que é a Miss Harker de Jonathan. Diz com todas as letras antes de mordê-la, que irá puni-la transformando-a numa criatura igualzinha a ele. Frustrada no seu desejo? Incapaz de amar? Afastada do marido por virar uma não-viva? E quem sofre mais o castigo ao ver a esposa “contaminada” pelo vampirismo? Jonathan! Um rapaz de boa fé, bonzinho, daqueles cavalheiros de fina estirpe. Murnau preserva essa bondade quase ingênua da personagem e, mais fiel ao texto original, não cria laços de amor onde não existem. “Essa é sua esposa? Que belo pescoço”, diz Nosferatu ao ver uma foto de Mina Harker entre os objetos pessoais de Jonathan. Nos instantes finais do filme (de Murnau), ao ver a jovem Miss Harker à janela de casa, Nosferatu decide fazer-lhe uma visitinha. O olhar fascinado do vampiro ao ver Mina é o olhar de um caçador que cobiça uma presa valiosa, “sangue é vida”, uma frase que tanto Copolla quanto Murnau exploram muito bem nas suas releituras do clássico de Stoker.
Qual das duas versões é a melhor? Eu não consigo dizer, porque sou realmente fã das duas. Melhor dizendo, das três (os dois filmes e o livro que as inspirou). Cada uma, no seu tempo histórico e cultural – e não dá para analisar nenhum produto artístico sem essa contextualização, mesmo obras atemporais – é magistral. Nosferatu é lúgubre e sombrio. O Drácula de Copolla é dramático, quase barroco. O livro de Stoker tem um quê de segredo de alcova (até por ser todo escrito em forma de diários) e ao mesmo tempo é de uma agilidade narrativa, um vórtice na sucessão de acontecimentos, que nos dá vertigem. Descobrir as predileções sexuais do conde Drácula nem é de tanta importância diante do engenhoso jogo de mostra/esconde criado pelo autor e talvez até, intencionalmente, ele tenha criado o vampiro como um ser elemental, caprichoso como os antigos deuses do Olimpo, elegendo favoritos e favoritas ao seu bel prazer. Sem contar na grande sacada do autor: são pelo menos cinco versões, cinco pontos vista diferentes, porém complementares, para a mesma história – a de Mina, a de Jonathan, a de Van Helsing, a do Dr. Seward – o médico e diretor do manicômio, amigo de Van Helsing; e a de Lucy, a amiga transformada em vampira.
Um crítico literário poderia apontar falhas de estilo aqui e ali, mas acredito que Stoker inaugurou um estilo próprio que vem sendo recriado em todas as histórias de vampiro depois dele. Até a menção aos super poderes de Drácula estão lá, embora não tenham a proporção das produções atuais, em que o vampiro é humanizado ao invés de demonizado, e se refiram bem mais às artimanhas “de uma criatura velha como o tempo, esperta feito uma raposa”. As referências à lascívia e sensualidade inerentes a essa criatura das trevas vem sendo atenuadas nas versões recentes, no entanto, nem o vampiro com pinta de galã da série Twilight deixa de ter seu lado puro instinto, desejo que atrai e seduz, como o Drácula de Copolla, e provoca ao mesmo tempo repulsa e pavor, como o Nosferatu de Murnau.
E para quem não conhece o clássico de 1922. “São Youtube” dá de brinde a quem aguentou o post até agora, o filme na íntegra:
P.S.: O motivo de ter passado quatro dias imersa em axé chama-se Festival de Verão. Por força da profissão, carrego essa cruz.
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Mt bacana seu texto, mas uma coisa que me intrigou foi como o Stoker lembra o Weber – fisicamente, hhehe.
P.S.: ainda eram contemporâneos.
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Adorei! :)
Gosto muito dessa história.
Perfeita descrição e interpretação, tanqo quanto aos filmes como ao livro. Ótimo texto. Já li o livro de Bram Stoker por diversas vezes, agora estou revendo os filmes.
Muito bom mesmo.
1berto rodrigues
marcelino ramos -rs
Obrigada, 1berto :)
Acho estranho quem diz que a versão do Copolla é a menos fiel ao livro Drácula. OK teve o romance com a Mina, mas tirando isso foi sim o mais fiel. Nos outros filmes existem mudanças horriveis em relação ao livro.
É a Mina ser a Lucy e a Lucy ser a Mina (como no filme com Frank Langella de 1979), Ou o Dr. Seward se velho e pai da Mina, (como no filme de 1931) é o Arthur ser noivo da Mona ou o Harker ser o maluco Renfield, ou o Renfield ir para o castelo do Drácula.
Como alguém pode achar que um filme assim é mais iel ao livro?
o filme de 1992 é o mais fiel ao filme, pois os personagens são como deveriam ser…. ok tem o romance e tal… mas ficou muito bem no filme.
Dark,
Como já respondi em um comentário anterior: Bram Stoker´s Drakula comete licenças poéticas, justamente porque une o argumento da história de Stoker com os mitos antigos da Romênia. Copola funde a vida de Vlad Tepes (o drácula histórico) com o personagem criado por Stoker, que por sua vez, também faz uma releitura – bem ocidentalizada e cristã (dai a demonização do conde) – da vida desse antigo governante romeno que é tido como herói por ter libertado seu país do jugo dos otomanos (turcos), mesmo tendo usado expedientes cruéis aos olhos do mundo de hoje. Em nenhum momento no meu texto é dito que o filme de Copola não é fiel ao romance, digo apenas que ele cometeu licenças poéticas, como aliás era de se esperar na transposição de um livro para um filme. Murnau foi mais fiel à essência do livro, mas também teve de fazer adaptações, pois a família Stoker não lhe permitiu adaptar a obra. Inserir um romance entre Mina e o Conde não é “só essa modificação”, é mexer literalmente no significado do livro! Quando cria o romance no cinema, Copola está usando os recursos narrativos do cinema para moldar a obra de Stoker ao gosto das plateias, ficou fantástico, aquele amor barroco, dramático, a jovem que é a reencarnação da esposa suicida, é lindo, de arrepiar. Mas, ao mesmo tempo, ele sacrificou um significado primordial da obra literária, que é a tentação do mal, a sedução do inferno, e com isso esvaziou o verdadeiro romance que Stoker criou, que não é o de Mina e Drácula, mas o de Mina e Jonathan! As passagens no livro, de Jonathan desesperado porque Mina foi vítima do vampiro, são emocionantes, trágicas e sombrias como só uma obra do soturno século XIX consegue ser. Quanto ao leitor, no comentário mais abaixo, que enumerou os seus dráculas preferidos e achou o filme de copola o menos fiel à obra original, podemos concluir duas coisas: 1 – que ele não conhece o romance de Bram Stoker, só as adaptaçõs do cinema; ou 2 – que ele conhece o romance de Stoker, mas tem predileção por adaptações cinematográficas anteriores a 1992, ou seja, anteriores a Copola e nesse caso, meu caro, é dever nosso respeitar a opinião dele (que cita inclusive uma adaptação em comédia, quando estamos aqui nesse texto analisando obras góticas e barrocas!). Mesmo que a opinião esteja equivocada ou que nós não concordemos com ela, respeitá-la é um dever.
Sds e obrigada pela visita ao blog e por deixar sua contribuição ao post.
O de Murnau, que na verdade é de 1921, é o melhor de todos, depois vem o de 1931 (Com o Bela Lugosi), em 3º lugar o de 1958 (com Christopher Lee), em 4º lugar o de 1979 (Com Frank Langella) do 5º ao 11º lugar as continuações do de 1931 (com Bela Lugosi), do 12º ao 23º lugar as sequências com Christophe Lee, em 24º Drácula, Morto Mas Feliz, com o inesquecível Leslie Nielsen, e finalmente o mais fraco e menos fiel ao livro de todos, o de 1992 Drácula de Bram Stoker.
Olá Felipe,
Obrigada por dividir com os leitores do Mar de Histórias o seu ranking de preferência das produções sobre Drácula. Mas, vale ressaltar, esse texto é uma opinião pessoal minha, enquanto autora do blog, inspirada por três experiências: a leitura da obra de Bram Stoker e os dois filmes que na minha preferência, são muito bons: o de Murnau (fiel à essência do livro, mas que por não ter autorização da viúva do escritor, teve de mudar nomes e locais onde a história se passa); e o de Copola, que é uma leitura pessoal desse fantástico diretor, muito mais barroca e romantizada e que, conforme eu digo no post, embora se chame Bram Stoke´s Drácula, comete inúmeras licenças poéticas ao original do autor irlândes. E com cinema e literatura funciona bem desse jeito, cada leitor ou cinéfilo faz seu ranking pessoal de preferidos e todos devem respeitar a opinião de todos, já que são pautadas no gosto e na subjetividade. A forma como eu vejo um filme ou leio um livro, e o que eles significam para mim, é diferente da forma como você vê/lê, ou como um terceiro vai ver/ler os mesmos filmes ou livros. Isso porque, embora as pessoas tenham referências culturais parecidas, a forma de absorver essas referências é única, pois cada pessoa é única. Abraços!
Boa tarde, acabei justamente de ler a obra de Stoker, pois já havia visto o filme(só pra ressaltar, viciada na versão de Copolla,devo ter visto umas mil vezes)bom, hipérboles a parte, concordo com você que não é possível escolher entre as versões, no entanto enquadrando meu critério de desempate(particularmente) fico com a versão mais barroca com um cunho romântico penso eu, pois mesmo gostando muito do livro,este não satisfez minhas expectativas quanto ao desfecho do personagem maravilhoso dominador, autoritário e diabólico do conde, senti uma decepção ao ver o quanto os personagens “bonzinhos” tentam e quase sempre obtém sucesso em prever ou descobrir os planos do conde, odiei a sucessão de acontecimentos em picadilly, gostaria que stoker ousasse um pouco mais e tornasse o conde menos oprimido e mais cruel, também queria que mina se tornasse vampira enquadrando melhor o caráter diabólico no livro.mesmo assim é um livro magnífico e que até hoje inspira muitas criações desse gênero !mas só pra ressaltar novamente e terminar, minha preferida é mesmo a versão de copolla, já que sou fâ dos romances épicos e dramáticos. E adoro a história de Vlad Tepes. Adorei as cenas do conde se revoltando contra a religiosidade, as cenas em que seduz mina, trocando carícias ou a cena em que tomam absinto…..simplesmente amo esse filme!!!!!beijos adorei seu blog(até me esqueci de comentar sobre Nosferatu…mas comentarei em outra oportunidade)até mais!
Pois é Amanda, como eu disse no texto e repeti num comentário, a obra de Bram Stoker é do século XIX e o filme de Copolla dos anos 90 do século XX. Copolla deu a interpretação dele, preenchendo as lacunas e entrelinhas do romance de Stoker com um exagero barroco, foi a opção do diretor e muito acertada, pq o filme realmente é fantástico. Mas Stoker escreveu de acordo com a cultura de seu tempo e é impossível ler Drácula sem contextualizar com o século XIX. Impossível tb assistir Nosferatu sem ter em mente que 1 – o filme é das origens do cinema e 2 – Murnau não tinha autorização da família Stoker para adaptar Drácula, então ele tb teve de cometer diversas licenças poéticas. Bjos e obrigada por deixar seu depoimento no blog :)
Olá, Andreia!
Sou professor de uma universidade aqui em Londrina-PR e estamos preparando um debate sobre Cinema, Literatura e Linguagens (com foco em Drácula e Crepúsculo), que será feito por professores de várias áreas e oferecido ao Brasil todo via EAD, para alunos da UNOPAR e, talvez, comunidade externa também.
Gostei do teu blog, em especial deste texto sobre Drácula.
Gostaria de saber se autorizaria o uso do material, caso precisemos mencioná-lo.
Ficaria grato se me respondesse por e-mail.
Abraços,
Marcelo
Oi Marcelo,
Te enviei o email solicitado. Abs!
Acho que vale lembrar, a contraponto da sua teoria, que a Mina é a Reencarcação da Esposa do Conde, que foi a razão para que ele se revoltasse contra “Deus” (pode se entender igreja) e fosse amaldiçoado.
Uma coisa interessante, no material usado para campanhas de RPG, chamado Vampiro a Mascara, relata que na verdade o primeiro vampiro da história foi CAIM, que a o matar seu irmão ABEL foi amaldiçoado. Um argumento bem interessante, pois na Bíblia as maldições impostas por Deus a CAIM são muito parecidas com as maldições que os vampiros tem, basta olhar no Livro de Genesis.
Essas versões de Vampiros X-MEN como voce citou, também tem origem no livro de RPG, ali está absolutamente sistematizado todos os poderes vampiricos, baseados claro tanto na obra de Stoker, quanto nas lendas romenas, poque, claro que na romenia existem varias lendas relacionadas a vampiros, tanto que no livro mostra a moça da Taverna dando um amuleto de proteção contra o mal para Jonathan, aquele que assusta o Drácula na cena do Barbear.
Outro ponto interessante, os Romenos praticamente ODEIAM Stoker, por ele ter transformado uma figura histórica e querida da Romenia em um monstro demoniaco e sugador de Sangue, o Conde Vlad é uma figura muito querida por lá, por mais que se tenha provas que ele matou centenas de pessoas queimadas nos jardins de seu castelo.
Alguns devem estar pensando, nossa esse deve ser um desses que jogam RPG, mata pessoas no cemitério e acredita que vampiros realmente existem. Bom, jogo RPG sim, nunca fui ao cemitério e nao creio na existencia real dos vampiros, apenas fiquei com vontade de somar algo ao post, se é que isso é possivel, pois foi muito bem escrito e bem interessante e digamos que mudou um pouco minha vida, estou chocado… Dracula mordia a fronha…
Parabens pelo texto
Oi Franco,
Eu que agradeço suas contribuições, realmente somaram muito ao post! E quanto a você jogar RPG, não tenho nada contra, acho muito interessante. Quem ama Tolkien acaba flertando com o RPG. Mas só um adendo: Fiz uma análise do Drácula de Bram Stoker, um comparativo na verdade do livro, com o filme de copolla e o nosferatu de murnau, e nessa obra (de stoker), em nenhum momento, é dito ou mesmo insinuado que Mina Harker é a reencarnação da esposa do conde, isso ocorre no filme de Copola, que embora seja denominado “Bram Stoker´s Drakula”, comete várias licenças poéticas, justamente porque une o argumento da história de Stoker com os mitos antigos da Romênia. Copola funde a vida de Vlad Tepes com o personagem criado por Stoker, que por sua vez, tb faz uma releitura – bem ocidentalizada e cristã (dai a demonização do conde) – da vida desse antigo governante romeno que é tido como herói por ter libertado seu país do jugo dos otomanos (turcos). Entender a vida de Vlad Tepes requer um olhar sobre a história medieval. Os governantes daquele período eram sanguinarios ou pagavam para outros serem. Vampiro por vampiro, os cruzados tb seriam sugadores de sangue (metaforicamente falando) pois eles cometeram diversas atrocidades para libertar jerusalém das mãos dos árabes, que por sua vez, tb retribuiram com igual carnificina. Não defendo o vlad tepes ou os cruzados ou qualquer outro povo sanguinário ao longo da história da humanidade, mas é preciso analisá-los sob o contexto histórico de suas épocas. Havia práticas antigamente que hoje não são mais socialmente aceitas, mesmo numa guerra.
Concordo com vc, é impossível escolher, os dois filmes são maravilhosos. Tinha esquecido do capitão, aliás, toda a sequencia no navio é fantástica, tanto no livro quanto nos dois filmes. O de Murnau, literalmente me dá medo e o de Copolla, aquelas ondas batendo, a fúria da natureza se manifestando, enquanto Drácula se metamorfoseia na sua versão mais jovem e os marinheiros vão morrendo. É genial! E vc tem razão, o livro tem um desfecho meio brochante, mas no conjunto, gosto muito.
1) Impossível escolher entre essas duas versões, mesmo que a de Murnau seja universalmente aclamada e da Coppola seja vista como um delírio excessivo. Pra mim, tão no mesmo nível.
2) O livro me parece francamente perder força no final. Inacreditável que um livro tão empolgante termine de maneira tão… brochante, com o Conde a virar poeira e pronto. Há uma outra versão de cinema, de Werner Herzog (a segunda foto desse post é dele) em que Drácula vence no final. As alterações de Coppola também buscam cobrir essa queda narrativa, e funcionam muito.
3) No entanto, acho que o auge do livro em termos de terror é o diário do capitão – mais um ponto de vista. Incrível.
Também acho que o livro no final faltou um tcham, ia terminar muito melhor se o Dracula ficasse com a Mina kkkk
A questão Angélica, é que Drácula é uma obra do século XIX. Não tem nenhuma relação com os vampiros “bom moço” da Stephenie Meyer, por exemplo. Drácula é a sedução do mal, da amoralidade, da crueldade instintiva e animal, a sedução dele é literalmente a sedução do inferno, e a sociedade do período não deixaria barato um livro que permitisse que a Mina Harker se perdesse para o mal (perder no sentido de condenar a alma). A diferença para a saga Twilight – um romance “menina mortal boazinha que ama vampiro” -, é que a novela teen da autora norte-americana investe na reabilitação. O amor salva em Crepúsculo, enquanto no caso do conde Drácula, o desejo condena, porque Drácula é incapaz de amar e não está escrito em nenhuma página do livro, nem nas entrelinhas, que o conde e Mina Harker sejam amantes. Eles não são. Mina tem medo dele, tem nojo, e tem o descontrole do desejo pelo magnetismo animal dele e que foi a perdição de sua amiga Lucy. Ela passa o livro todo se maldizendo porque o vampiro a mordeu, ela ama Jonathan harker e lamenta perdê-lo uma vez que ela está perdendo-se para o mal.
Quando respondi em outro comentário que a obra tem um final brochante, quis dizer que apesar do climax criado ao longo da história, que cresce e torna-se opressivo, Bram Stoker esfriou bastante o desfecho. Copolla, quando filmou o livro, criou um final muito mais estimulante. Se não viu o filme, veja, porque vale muito a pena. O romance de mina e do conde só existe no cinema, na versão de copolla, cujo vampiro é um romântico adepto do dandismo. Um final não brochante no livro, para mim, seria a morte da Mina Harker ou a sua transformação em vampira para sempre, condenação mesmo, no sentido de que o vampiro é um pária, um “não-vivo”, como diz o autor. Algo bem trágico, sem concessões ao amor dela e de Jonathan. O momento em que ele, jonathan, diz que se ela for condenada para sempre, ele quer a mesma vida, ou seja, ele tb vai querer ser vampiro, é onde está o romance da obra. Nunca há romance com o conde drácula, que é descrito de forma repulsiva, como seria repulsivo beijar um cadáver (bem mais a cara do nosferatu de murnau). Pelo clima do livro, esperava algo bem sombrio, bem a cara do século XIX, quando os vampiros não brilhavam na luz, por serem definitivamente, seres das trevas. Ainda assim, considero essa história inimitável e tudo o que foi feito depois de Bram Stoker, para mim, é releitura.
Abs e obrigada pela visita ao meu blog!