Resenha: Histórias de fadas

Essa edição de 2001 é do acervo do meu filhote
Foto: Andreia Santana/@blogmardehistorias

O escritor irlândes Oscar Wilde, mundialmente conhecido por O retrato de Dorian Gray, mas autor de dezenas de outros títulos de vários gêneros (ficção, ensaios, peças teatrais), escreveu uma série de contos de fadas para os filhos Vyvyan e Cyrian.

Essas histórias, na melhor tradição dos contos de fadas originais de Hans Christian Andersen ou aqueles coletados pelos irmãos Grimm no século XIX, revelam uma preocupação do autor em mostrar aos filhos que a vida podia ser perversa, imperfeita e intensa. Mas, ainda assim, cheia de uma beleza lírica.

Vale lembrar que os contos de fadas, na sua origem, tinham uma função social: a de oferecer lições moralizantes e exercer um controle social, como, por exemplo, ditar comportamentos aceitáveis, principalmente para as mulheres. Então, as histórias de Andersen, as reunidas pelos Grimm e essas de Wilde, eram bem mais sinistras do que as versões atenuadas das animações da Disney.

A Nova Fronteira, em 2001, editou uma versão desses contos de Wilde para a coleção Clássicos da Literatura Universal, distribuída como material paradidático nas escolas. Depois, em 2020, lançou uma edição mais completa, com capa dura. Ambas têm tradução de Barbara Heliodora, ensaísta e crítica de teatro.

Na versão reduzida para o FNDE – Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação – estão reunidas quatro histórias: O príncipe feliz, O gigante egoísta, O amigo dedicado e O rouxinol e a rosa.

Em O príncipe feliz, um conto sobre altruísmo, a bela estátua de um príncipe que era belíssimo em vida chora pela miséria em que seu povo vive enquanto o prefeito da cidade gasta fortunas em futilidades. A estátua faz amizade com uma pequena andorinha que passa a ajudá-la a mitigar, na medida do possível, o sofrimento dos vulneráveis.

O gigante egoísta, sobre solidão, mostra o dono do jardim mais belo da cidade, mas que decide cercar tudo com muros altos e proibir as crianças de brincarem entre as flores e árvores, atraindo um inverno eterno para o local.

Já O amigo dedicado, sobre amizade verdadeira, dedicação e falsidade, conta a história do gentil Hans, um rapaz generoso que é explorado até o limite pelo perverso moleiro do vilarejo.

Por fim, O rouxinol e a rosa é uma história sobre os sacríficios feitos por amor e que nem sempre são reconhecidos ou valem o esforço, porque o objeto amado pode se revelar um poço de ingratidão.

As histórias não têm finais felizes convencionais e, em alguns casos, nem mesmo os desfechos mais agridoces salvam os protagonistas. Mas são extremamente atuais por descreverem sentimentos universais e atemporais.

Acredito que esses contos, que são belíssimos em suas tragédias e atmosfera melancólica, sejam mais indicados para adolescentes com um grau de maturidade maior, porque tratam de sentimentos mais complexos. Alguns são sombrios para crianças pequenas. Adultos que gostam do texto irônico e inteligente de Wilde, também vão apreciar muito.

Ficha Técnica:
Histórias de fadas
Autor: Oscar Wilde
Tradução: Barbara Heliodora
Editora: Nova Fronteira, 2001
48 páginas
A partir de R$ 6,00 (capa comum, usado, Estante Virtual)

*A editora Saraiva tem uma edição de 2015 e a própria Nova Fronteira tem uma versão ampliada, com mais histórias, e em capa dura, de 2020.

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*Lido em 25/05/2024, para a tag #1livroinfantilporfinaldesemana. A intenção é ler um livro infantil a cada final de semana do ano, até dezembro de 2024. Histórias de fada é o livro 21 desse desafio.

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