Os três livros que formam a série As crônicas dos Kane, de Rick Riordan [no Brasil publicados pela Editora Intrínseca], deslocam o protagonismo das histórias inspiradas em mitologias antigas do mundo greco-romano ou da Escandinávia para o continente africano, mais especificamente para o Egito, o primeiro grande império humano.
Essa trilogia, iniciada em 2010, segue a mesma premissa de ‘Percy Jackson e os Olimpianos’ e de ‘Os heróis do Olimpo’, séries bastante populares de Riordan inspiradas nos deuses da Grécia e de Roma.
O autor norte-americano tem uma fórmula que funciona bem e ele vai fazendo variações dentro dela em suas sagas mitológicas. As histórias geralmente unem a rotina de protagonistas adolescentes, com as respectivas famílias, vida escolar e namoros, à descoberta surpreendente de que esses mesmos adolescentes são ora semideuses ora dotados de alguma forma de magia poderosa.
Não falta à receita, os sacrifícios típicos da jornada do herói das histórias clássicas. E tem sempre uma grande batalha contra forças sinistras no final; além de pitadas de muito bom humor e informações no melhor estilo ‘Almanaque Abril’ sobre a mitologia explorada na série da vez. Nesse caso, os deuses egípcios em toda a sua glória!
Os três livros da saga – A pirâmide vermelha, O trono de fogo e A sombra da serpente -, além de aplicar a fórmula de sempre e suas variações – porque os fãs de Riordan gostam mesmo é do conforto de suas historinhas fofas e previsíveis – tem o mérito de abrir pertinente e necessária discussão sobre o racismo a partir dos protagonistas afro-americanos e descendentes de antigos faraós.
Acredito que seja muito estimulante para adolescentes pretos e pardos encontrarem um espelho tão cheio de representatividade e de poder em Carter e Sadie Kane, a dupla de irmão e irmã que protagoniza as três histórias. Principalmente porque a literatura ainda peca em garantir espaço de destaque para protagonistas negros em histórias para o público jovem.
Sobre a trilogia
A série As crônicas dos Kane conta a história de Carter e Sadie. Carter, o irmão mais velho, vive viajando com o pai, um egiptólogo de prestígio. Sadie, a irmã caçula, mora na casa dos avós maternos. O casamento dos pais da dupla é inter-racial e cada uma das crianças tem traços mais parecidos com um lado da família:
Carter é negro como seu pai e escuta dele diversos conselhos sobre como sobreviver em um mundo racista [adolescentes que ouvem o mesmo de suas famílias em um Brasil onde a violência é maior a depender da cor da vítima, vão se identificar com muitas das frases ditas pelo Senhor Kane]. Já Sadie tem a pele e os cabelos claros de sua mãe e vive uma vida mais privilegiada com os avós brancos em Londres, no Reino Unido.
Irmão e irmã foram separados após a morte da mãe em circunstâncias misteriosas e, em um feriado natalino, quando Carter e o pai vão para a Inglaterra passar as festas com Sadie é que a história das heranças mágicas familiares dos jovens começam a se revelar.
No primeiro livro, A pirâmide vermelha, os leitores são apresentados aos personagens principais e embarcam com Carter e Sadie na longa jornada da dupla para descobrirem mais sobre suas famílias, a morte de sua mãe e uma sinistra conspiração do Caos contra a humanidade. No segundo, O trono de fogo, os adolescentes e um grupo super treinado de guardiões e magos precisa resgatar Rá, o deus do Sol, porque só ele tem a força necessária para lutar contra o Caos. O terceiro, A sombra da serpente, é o desfecho da história, quando os mistérios são desvendados e ocorre a tão esperada luta final que já é tradição nas sagas mitológicas de Rick Riordan. O final, inclusive, traz uma surpresa para os fãs de outras séries do autor.
Em 2020, a Netflix anunciou a compra dos direitos de adaptação de ‘As crônicas dos Kane’ para uma série de filmes. O projeto, no entanto, ainda não teve atualizações do andamento da produção até a publicação dessa resenha, em novembro de 2022. No site de Riordan, por sua vez, o fandom do autor encontra material extra e contos que fazem crossover entre as sagas.
Os exemplares que eu li
A saga pertence à coleção do meu filho, que é um grande fã das histórias de Rick Riordan. Escolhi ler a série durante minhas férias, para descansar das durezas da vida, e me surpreendi, mais uma vez, com a grande capacidade desse autor americano de contar histórias envolventes, divertidas e que falam a linguagem universal dos adolescentes como poucos autores são capazes. Já tinha lido anteriormente as séries Percy Jackson e os olimpianos e Os heróis do Olimpo. Na estante do filhote e na minha fila de leitura – quem sabe nas férias de 2023 – estão ainda os livros da saga As provações de Apolo e a trilogia Magnus Chase, essa última inspirada nos deuses nórdicos (Asgard, me aguarde!).
Fichas Técnicas:
A pirâmide vermelha
Autor: Rick Riordan
Tradução: Débora Isidoro
Editora: Intrínseca
448 páginas
R$ 42,10 (livro físico na Amazon), R$ 24,90 (e-book Kindle) e R$ 23,60 (Estante Virtual)
O trono de fogo
Autor: Rick Riordan
Tradução: Débora Isidoro
Editora: Intrínseca
400 páginas
R$ 34,90 (livro físico na Amazon), R$ 24,49 (e-book Kindle) e R$ 39,90 (Magalu)
A sombra da serpente
Autor: Rick Riordan
Tradução: Débora Isidoro
Editora: Intrínseca
352 páginas
R$ 42,90 (livro físico na Amazon e Magalu) R$ 24,90 (e-book Kindle) e R$ 25,00 (usado, Estante Virtual)
*Pesquisados em 13/11/2022
**Crédito das imagens: Andreia Santana/Blog Mar de Histórias e Divulgação/Intrínseca
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