
(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, da Universidade de São Paulo (USP) criou um site com exposição virtual sobre os 100 anos do lançamento do livro A menina do Narizinho Arrebitado, de Monteiro Lobato.
O site, que está na rede desde sexta-feira, 22 de abril, reúne coletânea de fotografias e artigos sobre esse e outros livros do autor.
O interessante na exposição, que pode ser visitada em: ameninacentenaria.bbm.usp.br, é que além de falar do criador de Narizinho e do Sítio do Pica-pau Amarelo, há artigos sobre a literatura e o hábito de leitura no Brasil de 1921, a recepção de leitores e educadores à obra de Lobato ao longo do tempo, os ilustradores que desenharam para seus livros e, o mais importante, o racismo presente nas obras dele. Sim, porque não tem como estudá-lo nos dias atuais sem cutucar essa ferida.
O artigo sobre o racismo na literatura infantil de Monteiro Lobato é assinado por Cilza Bignotto, que faz um apanhado do contexto social da época em que ele viveu e escreveu, trazendo ainda diversos outros livros infantis daquele período que, quando não invisibilizavam totalmente a população negra e afrodescendente brasileira do começo do século XX, tratava os poucos personagens negros existentes nas obras de então sempre de forma bastante negativa e/ou subserviente.
Nos últimos anos, muito se discute se Monteiro Lobato ainda deve figurar nos catálogos infantis e as opiniões sobre se o autor deve ou não ser ‘cancelado’ ainda se dividem e rendem debate.
Pessoalmente, acredito que Monteiro Lobato não deve mais ser lido por crianças, principalmente pequenas, mas defendo que é preciso estudá-lo na universidade e não só nos institutos de letras, mas nos de história também.
A história social brasileira do começo do século XX, do pós-abolição, da primeira república, está muito presente não só na literatura infantil e adulta produzida por Monteiro Lobato, como também por outros autores anteriores e contemporâneos a ele. E é necessário e urgente que o Brasil olhe sua própria história com consciência crítica e honestidade. O povo brasileiro teve uma formação bastante tumultuada, violenta e marcada pela miscigenação e pelo racismo, que ainda hoje permeia as relações sociais e econômicas no país. Não se pode mais fingir que nossa construção enquanto nação foi uma ‘harmoniosa união de três raças’, com o branco colonizador salvando as almas de indígenas e negros africanos, como diziam aqueles livros de História do Brasil de antigamente…