
Ebenezer Scrooge, o personagem cruel e mesquinho de Conto de Natal, de Charles Dickens (A imagem é reprodução de uma adaptação da Disney para o conto)
Tem gente que perdoa tudo que os idosos fazem ou dizem, com uma condescendência semelhante à daqueles pais e mães que vêem suas crias destruindo o mundo ao redor e apenas sorriem e afirmam: “São crianças, criança é assim mesmo”. Ou então, com a condescendência usada por muita gente para justificar o comportamento de homens cafajestes quando traem as parceiras: “São homens. Homens são assim mesmo”.
A velhice não é um passaporte para atos e palavras maldosos. Ser velho não dá a ninguém o direito de ser ofensivo, grosseiro, mal-educado, de praticar o ‘espírito de porquismo’ no grau máximo. Ser velho não é desculpa para dizer tudo o que vêm à cabeça sem filtrar, revelando veneno e preconceitos de todo tipo.
Quando alguém envelhece e se torna perverso ou mesquinho, na verdade a pessoa não se tornou ruim do dia para a noite, apenas perdeu a autocensura que, mais jovem e por conveniência, a impedia de dizer ou fazer maldades e que a fazia esconder seus muitos preconceitos e arrogância.
A velhice não muda o caráter de ninguém, muito pelo contrário, a velhice apenas solidifica, enraíza e fortalece o que as pessoas já trazem dentro de si. Se for alguém muito bacana, sensato, generoso, só vai aumentar essas qualidades. Se for alguém amargo, ranzinza, tóxico e opressivo, só vai aumentar esses defeitos.
Acredito que exista algo de muito doentio nas velhinhas e velhinhos verborrágicos que usam o dom da palavra como arma para disparar rajadas de infelicidades a quem passar perto.
Se para os mais jovens, a liberdade de expressão não pode e nem deve ser confundida com licença irrestrita para semear o ódio e a intolerância, na velhice também não é possível achar graça de quem diz coisas atrozes e muito menos, permitir que idosos – principalmente quando são famosos – usem a liberdade de expressão como meio para destilar frustrações, mau-humor e ofensas. Maledicência não é qualidade em ninguém, não importa a idade. É só um meio de revelar almas sombrias, espíritos vazios.
Ser condescendente com uma cantora idosa que ofende e xinga deus e o mundo é tão grave quanto ser condescendente com um apresentador idoso que humilha LGBTs ou assedia mulheres em rede nacional, ou ser condescendente com uma idosa branca que faz piadas ou destrata pessoas negras como devia destratar sua antiga ‘bá’ lá nos idos dos anos 1950.
Em situações assim, não dá para passar a mão na cabeça e justificar que a pessoa tem direito de soltar o verbo porque já está gastando a cota extra do fio da vida. Velhice, definitivamente, não é desculpa para crueldade de nenhum tipo. Falta de caráter e de bom senso não se curam com o avançar da idade. Ao contrário, como todos os achaques legados pelo peso dos anos, a coisa só tende a piorar, porque idosos, geralmente, também são teimosos.
E a combinação de teimosia com maldade e o tempero da senilidade, definitivamente, não rendem um envelhecer bonito de se ver…