O romance A vida invisível de Eurídice Gusmão, da jornalista e escritora Martha Batalha, publicado em 2016 pela Companhia das Letras, teve os direitos de publicação vendidos para a editora árabe Dar Al Adab, para a croata Naklada Ljevak e para a chinesa Dook. O livro já teve os direitos vendidos para outros oito países e para o cinema. As informações são do site PublishNews.
Li o livro em 2016 e ele é maravilhoso. O romance é ambientado no Rio de Janeiro dos anos 1940 e conta as vidas das irmãs Guida e Eurídice Gusmão, trazendo temas como a opressão feminina, machismo e todas as formas de violência contra a mulher, principalmente as violências sutis, psicológicas, que deixam marcas no espírito. Enquanto Eurídice foi educada para ser uma dona de casa nos moldes da malfadada Amélia de Mário Lago e Ataulfo Alves, sua irmã Guida fugiu de casa na juventude.
Eurídice, resignada à vida doméstica sem graça e com um marido desprezível e que desvaloriza tudo o que ela faz, se refugia na culinária e inventa receitas que registra em um caderno. Já Guida, com a fuga e por ter um espírito que anseia por liberdade, ficou estigmatizada como ‘perdida’, como acontecia com as mulheres dos anos 1940 que diziam não às convenções sociais.
A história soa muito familiar porque muitas mulheres da minha geração certamente já ouviram histórias sobre as duras vidas de suas avós e bisavós e do quanto elas viveram uma existência de reclusão e submissão diante dos maridos. E aqui cabe o adendo de que não é fácil perceber que o avô querido era um tremendo opressor da avó simpática e doce que, boa parte das vezes, aceitava calada todas as humilhações.
Os outros personagens do livro são igualmente fascinantes, com destaque para a ex-prostituta Filomena, que cuida de crianças abandonadas e acolhe todos os necessitados que batem em sua porta. A história de Filomena é dolorosa e diz muito sobre preconceitos e marginalização.
>>Leia reportagem da revista Época sobre A vida invisível de Eurídice Gusmão