A escrita passa por um filtro individual?
Sim. Várias pessoas podem ler o mesmo fato, sentir de maneiras diversas e relatar de modos diferentes. Porque cada um tem a sua maneira de sentir, pode ser mais ou menos afetado por aquele fato. Isso tem a ver com a sensibilidade diante das coisas. Você faz a sua leitura do mundo e, à medida que você lê o mundo, está o escrevendo em si…
De onde brota a inspiração para construir uma história?
Vem da vida. O mundo em que você vive te impacta, te afeta, de diversas maneiras. Existe a sua jornada pessoal, que vai mudando, assim como seus textos também. Alguns temas persistem porque são da obsessão do artista, do ser que escreve aquilo, dos embates da vida. A cada instante em que vivemos, o mundo nos dá um lastro de experiência que, se você souber transfigurar, tem histórias para a vida inteira. Não tem por que inventar. Tá ali no mundo.
Quando eu leio e me emociono, vejo nisso um encontro. As pessoas podem mesmo se encontrar e se reconhecer na escrita?
Sim, eu acredito. A literatura é uma espécie de rede de afetos, formada pelas famílias literárias. Se você lê um autor e ele te toca é porque você entra em comunhão com aquele tipo de literatura. Existem outros autores e outros leitores que não entrarão por essa trilha. De certa forma, você está filiado àquele jeito de sentir. É como se você fosse daquela árvore. Isso é uma rede de afetos ou uma família literária da qual fazem parte escritores e leitores.
(Trecho da entrevista do escritor João Anzanello Carrascoza para a revista Vida Simples, edição 184, Junho de 2017)