(Im)paciente Crônica: Tem pelos de gato nas minhas roupas. E daí?

Esse é o León Pessoa, nosso Pessoinha, aconchegado em meio aos meus jeans e vestidos…

Minha irmã chegou da rua contando que, no ônibus em que ela se deslocava para o trabalho, um senhor solícito advertiu: “Sua roupa está cheia de pelos”. Inspirada na intervenção não requisitada e no fato de um dos nossos gatos amar o aconchego das minhas roupas, escrevo as impaciências de hoje.

Sim, tem pelos de gato nas roupas da minha irmã, nas minhas, no guarda-roupas do meu filho e no meu sofá. Tem pelos de gato aos montes nas nossas vidas e amamos isso. Mesmo sendo uma asmática em remissão (tinha crises históricas na infância e a depender do tamanho da gripe, ainda ocorrem episódios esporádicos e intensos); e minha irmã e filho sofrerem com uma insistente rinite, vivemos cercados por pelos de gato por todos os lados.

Passamos o aspirador, a casa está sempre limpa, nossos gatos tomam banho e são as criaturinhas mais cheirosas da face da terra. Mas, como eles são vivos e não brinquedos, têm pelos e, vez por outra, um pouco de areia aqui e ali, trazida por felpudas patinhas que esquecem de limpar os ‘pés’ e ‘mãos’ no tapete estrategicamente posicionado sob a caixinha higiênica. Caixinha, aliás, que é asseada diversas vezes por dia, que gatos detestam banheiros sujos. E os humanos da residência, idem.

Somos as felizes propriedades particulares e intransferíveis de cinco felinos que alegram nossos dias e fazem companhia para minha mãe quando os outros adultos da casa estão batalhando pela vida. O que tem faltado em memória para ela, ultimamente, sobra em carinho com os “netos” peludos. A presença desse bando animado é uma boa terapia. E percebo que, com o passar dos anos, deixamos de dar importância para coisas banais como sofás sem arranhões e chão reluzente, e passamos a valorizar os afetos incondicionais que nossos bichos oferecem.

Quando éramos crianças, minha irmã e eu tivemos cachorros e gatos, mas minha mãe não permitia que eles entrassem em casa e muito menos dormissem nas camas. O lugar deles era no quintal. Agora, ela se diverte em contar diversas vezes seguidas alguma ‘traquinagem’ ou ‘fofice’ que os bichanos aprontam.

Cada vez que ela reconta a mesma história, é como se fosse uma grande novidade. E o sentimento de amor transborda em minha mãe, principalmente porque a gataria realmente é bastante afetuosa com a nossa velhinha.

Roupa impecável e coração vazio, tô fora!

Nunca mais soube na vida o que é vestir uma roupa preta impecável. Vestidos, calças e camisas nessa cor ganham a decoração extra de pelos cinzas, brancos, castanhos… Os olhares das pessoas me divertem, embora não tenha encontrado ainda nenhum colega de ônibus tão prestativo a ponto de me mostrar que estou com as vestes cabeludas. Se encontrasse, muito provavelmente diria que sim, tenho pelos de gato na camiseta. E daí? Eu moro com um quinteto miador dos mais fabulosos.

Percebi que, por baixo do meu perfume, o cheiro dos meus gatos está entranhado em mim. Ao andar na rua, outros felinos me seguem, miam e farejam o que eu imagino sejam os cheiros de Funk, Emanuele, Pessoinha, Maria Érica e Coiote, nossos filhos de quatro patas e muita graciosidade.

Me pergunto sobre a mania das pessoas interferirem no espaço íntimo alheio, como nas roupas e penteados dos outros. Constato que alertar alguém com um “ei, sua bolsa está aberta”, é um ato de solidariedade porque impede roubos ou avisa sobre a ocorrência desapercebida de um. Ato solidário também é informar ao próximo da fila que aquele terminal de caixa eletrônico não tem dinheiro disponível. Ou ainda, prevenir um incauto com “cuidado com o buraco na calçada!”

Mas comentar “sua roupa está cheia de pelos” não é solidariedade, é só um ato de intromissão e, acredito, uma necessidade de controlar o ambiente, mesmo que esse ambiente seja a superfície do corpo de outra pessoa. Talvez, um pouco de necessidade de sentir-se superior, ‘imagina se eu sairia de casa com as roupas nesse estado!’

Para esses enxeridos de plantão, o recadinho é o seguinte, o que falta de esmero nas minhas calças jeans surradas e peludas, sobra em amor com a trilha sonora de ronrons e a delícia que é chegar em casa, depois de plantões, aí sim, especialmente cabeludos na redação, e encontrar uma tropa de felinos perfiladas diante da porta e com caras muito felizes em ver que a humana deles voltou para casa sã e salva…

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