O romance A hora da estrela, de Clarice Lispector, completa 40 anos da primeira publicação em outubro próximo. Para marcar a data, a editora Rocco preparou uma nova edição de luxo e recheada de material extra. O relançamento do livro também marcará os 40 anos da morte da escritora, ocorrida em 9 de dezembro de 1977.
A hora da estrela é um dos romances mais conhecidos de Clarice Lispector e sua desengonçada e infeliz Macabéa, uma das heroínas mais trágicas da literatura brasileira. A nova edição preparada pela Rocco é item de colecionador e traz, além da íntegra da história da jovem migrante nordestina de 19 anos, ensaios assinados por críticos do Brasil, França, Irlanda e Argentina, um texto de apresentação inédito assinado pela escritora, tradutora e pesquisadora Paloma Vidal e um caderno de 16 páginas, com cerca de 30 reproduções de manuscritos originais do romance, bilhetes e anotações de Clarice.
Li A hora da estrela quando tinha 16 anos, mas Macabéa me marcou para o resto da vida. O primeiro livro de Clarice que eu li, também na adolescência, foi Perto do coração selvagem, seu romance de estreia, que continua sendo o meu preferido e também era um dos favoritos do argentino Julio Cortázar. Mas a força e a beleza trágica e irônica da vida de Macabéa também ocupam lugar especial na minha galeria particular de leituras.
A hora da estrela possui dois enredos que se entrecruzam. De um lado, somos apresentados à Macabéa, jovem órfã de 19 anos, migrante de Alagoas que se muda para a cidade grande com a tia muito moralista e religiosa que a criou imersa em tabus, castigos, punições e muita repressão sexual. Semi-alfabetizada, desnutrida, pedindo desculpas a todos ao redor apenas por existir, Macabéa trabalha como datilógrafa e, após sair do jugo da tia, divide um quarto de pensão com quatro garotas que são balconistas de loja. Ela namora Olímpico de Jesus, um metalúrgico também migrante do Nordeste, que carrega um crime nas costas e é extremamente abusivo com a garota. O outro enredo é o do narrador da história, o escritor Rodrigo S.M., que conta a história das desditas da moça para exorcizar a culpa por ter um padrão de vida mais confortável do que aquele das pessoas marginalizadas e excluídas, como é a própria Macabéa. Em meio aos fatos da vida embrutecida de sua protagonista, Rodrigo, espécie de alter-ego de Clarice Lispector, faz digressões sobre literatura e existencialismo. Outros personagens da trama são a amiga Glória, que rouba o namorado de Macabéa, e a cartomante e ex-cafetina Madame Carlota, que lê a sorte da jovem no tarô e contribui para um dos desfechos literários mais chocantes, belos e poéticos que já li na vida…
Macabéa no cinema
A adaptação de A hora da estrela para o cinema, em 1985, com direção de Suzana Amaral e Fernanda Montenegro no elenco, é considerado um dos 100 melhores filmes brasileiros segundo a APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). Veja o trailer:
Ficha Têcnica:
A hora da estrela – Edição Comemorativa
Autora: Clarice Lispector
Editora: Rocco
224 páginas
R$ 44,50
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