Duas pesquisas interessantes que ajudam a entender o universo da literatura e a diversidade de leitores no Brasil estão disponíveis na internet. A primeira, no blog da Estante Virtual, transformou dados de um estudo acadêmico em infográfico. E a segunda, no blog da Companhia das Letras, é uma enquete com 20 perguntas cujos resultados apontam tendências nos hábitos dos leitores do país. Veja detalhes:
>>A cara da literatura no Brasil
O infográfico no blog da Estante Virtual se baseia na pesquisa A personagem do romance brasileiro contemporâneo: 1990-2004, da doutora pela Universidade de Brasília (UnB), Regina Dalcastagné. Nesse estudo, realizado a partir de 2003, com 258 romances publicados por três das maiores editoras do país, entre 1990 e 2004, a pesquisadora demonstra a falta de diversidade na produção literária nacional. A maioria dos romances que fizeram parte do estudo foram escritos por homens (72,7%) brancos (93,9%), de classe média, nível superior (78,8%) e moradores do eixo Rio-São Paulo. Os personagens, em sua maioria, também seguem a mesma tendência, com os protagonistas das histórias sendo também homens (62,1%) e heterossexuais (81%). A representatividade de mulheres e negros nessas obras seguem estereótipos: mulheres são o interesse amoroso do protagonista ou descritas de forma objetificadora; enquanto personagens negros são retratados como bandidos.
Vale muito a pena conferir a íntegra do estudo (aqui, disponível em PDF para download) e ver o mapa traçado pela equipe da Estante Virtual (aqui). Representatividade na literatura importa muito porque, como diz Édouard Glissant, autor de Introdução a uma poética da diversidade (livro que em breve vou resenhar aqui para o blog): a literatura tem a função essencial de impulsionar e de moldar o imaginário da coletividade. Ou seja, ao investir na criação de apenas um tipo de personagem como ‘legitimado’ e apresentar outros tipos de forma ‘pejorativa’, os autores, mesmo que inconscientemente, perpetuam preconceitos.
>>Uma enquete mais amena
Ao contrário do estudo da professora da UnB, a enquete/pesquisa Como são seus hábitos de leitura?, do blog da Companhia das Letras, além de abordagem mais informal, também traz resultados curiosos, como por exemplo, demonstrar que na briga entre e-book e papel, os gostos dos leitores ainda pendem para a versão clássica do livro, com tendência ao equilíbrio entre as duas plataformas. Dos 1.926 votos computados para essa pergunta até às 13h de hoje, 03 de abril de 2017, a leitura em papel ganha de 51% a 3% para o e-book. O destaque é que a opção ‘as duas formas’ registra expressivos 46% dos votos. Em uma análise superficial, dá para especular que os dois formatos deverão sobreviver juntos no mercado por um bom tempo…
Neste link, dá para responder a enquete, são 20 perguntas, e, ao mesmo tempo, ver o ranking da votação. Abaixo, montei uma galeria com os meus votos, que aparecem marcados no tom de azul mais forte. E, como nem todas as opções se encaixam exatamente nas minhas preferências, logo abaixo da galeria tem uma versão “customizada” das respostas:
- Como você marca suas passagens favoritas em um livro?
- Como você marca a página onde parou a leitura?
- Qual é o melhor lugar para ler?
- E qual a melhor posição para ler?
- Em que momento do dia?
- Polêmica: livro de papel ou e-book?
- E na hora de emprestar os livros?
- Ler e guardar ou ler e passar adiante?
- E a organização da sua estante?
- Ficção ou não ficção?
- E onde você compra seus livros?
- Livro novo ou livro usado?
- Ler a tradução ou ler no original?
- Edição econômica ou edição de luxo?
- Prosa ou poesia?
- Romance ou contos?
- Como você descobre novas leituras?
- Ler sem saber nada ou ler sabendo o que acontece?
- Ler em silêncio ou com uma trilha sonora?
- Livro bonito é…
>>Respostas pessoais:
1 – Como você marca suas passagens favoritas em um livro?
R – Nos meus próprios livros, sublinho a lápis e uso post-it colorido (aprendi essa do post-it com minha irmã). Nos livros dos outros, anoto trechos ou frases no ‘caderninho roxo de guardar leituras’.
2 – Como você marca a página onde parou a leitura?
R – Com um marcador. Tenho dois de couro com pingente, que minha irmã me deu. Também tenho alguns personalizados, com a estampa da capa do livro, que ela fez para mim. E uso, sem problemas, os marcadores promocionais, daqueles de livraria, também!
3 – Qual é o melhor lugar para ler?
R – Leio em casa. Não consigo ler em ônibus, porque fico enjoada. No metrô, nunca tentei, porque Salvador só ganhou metrô recentemente. Gosto de ler em avião.
4 – E qual a melhor posição para ler?
R – Deitada é a posição que mais adoto, mas também leio sentada, com as pernas apoiadas em um banquinho ou pufe.
5 – Em que momento do dia?
R – À noite, antes de dormir, preciso de minha dose diária, nem que seja um capítulo. Também gosto de ler no final da manhã ou final da tarde, nos dias de folga.
6 – Polêmica: livro de papel ou e-book?
R – Leio os dois, sem problemas.
7 – E na hora de emprestar os livros?
R – Empresto, mas já tive alguns problemas com devolução e até precisei re-comprar duas obras de Saramago que um amigo levou e nunca mais devolveu!
8 – Ler e guardar ou ler e passar adiante?
R – A maioria dos meus livros, eu guardo, porque costumo reler, pesquisar passagens e porque gosto de ter livros, de colecionar mesmo. Mas, ocasionalmente, faço umas limpezas na estante e separo alguns para passar adiante.
9 – E a organização da sua estante?
R – Por tema e por autor, mas arrumar por tema prevalece.
10 – Ficção ou não ficção?
R – Os dois. Existem livros de não-ficção que são leituras fundamentais!
11 – E onde você compra seus livros?
R – Ultimamente, compro mais online. Mas gosto muito de ir à livrarias.
12 – Livro novo ou livro usado?
R – Desde que esteja em condições de uso, me interesso pelo conteúdo. Eu tenho fetiche é por boas histórias.
13 – Ler a tradução ou ler no original?
R – Costumo ler as traduções em português, que são muito boas, principalmente das grandes editoras. Mas tendo oportunidade, leio o que eu entender (inglês e espanhol) e estiver disponível na hora.
14 – Edição econômica ou edição de luxo?
R – Mais uma vez: “Eu tenho fetiche é por boas histórias”.
15 – Prosa ou poesia?
R – Leio os dois. Gosto muito dos dois!
16 – Romance ou contos?
R – Ver resposta 15
17 – Como você descobre novas leituras?
R – Sigo as editoras e sites como PublishNews, Estante Virtual, Skoob e outras redes de leitores. Por ser jornalista e por causa do blog, estou em alguns mailings de imprensa das assessorias das editoras.
18 – Ler sem saber nada ou ler sabendo o que acontece?
R – Spoiler, filme adaptado do livro, série, etc., nada disso nunca me impediu de desfrutar de um bom livro. Se eu gosto do autor e se a história chama minha atenção, leio com a mesma empolgação, mesmo se algum pirralho sem noção me disser “que a mocinha morre no final e quem matou foi o marido” (quem lembra do comercial dos anos 90, da marca Semp Toshiba?).
19 – Ler em silêncio ou com uma trilha sonora?
R – Em silêncio. Mas tenho uma capacidade de abstração enorme, então, quando embalo na leitura, pode até começar o apocalipse que eu não vejo.
20 – Livro bonito é…
R – Aquele que tem boas histórias, é bem escrito e me cativa. O resto, como diria um ex-chefe, “é só perfumaria”.
Terminei há pouco a leitura desta ótima pesquisa feita pela doutora Regina Dalcastagné, e que só soube através de vosso artigo. É realmente incrível e iluminador ver o quanto nossa literatura está enlameada por restrições sociais, condição quase que enraizada em nós. Vi muito do preconceito em meus próprios textos e não tive outra reação, senão me sentir ultrajado com meu preconceito “escondido”. Está semana também assisti a ótima entrevista no programa roda-vida sobre o mercado editorial e a dominação mafiosa das grandes editoras, com o editor André Schiffrin. E como não poderia ser diferente, quase ninguém viu por estas bandas…
A enquete sugerida me serviu mais como passatempo, mas o estudo da literatura brasileira vai valer até futuras releituras.
Em tempos de buscar luz para minha precariedade, agradeço a ti pelas indicações e pelo ótimo artigo.
Abraços!!
Obrigada, Michel, por compartilhar sua experiência. Abraços!