Douglas Adams, autor de O guia do mochileiro das galaxias (já resenhado aqui no blog, em 2009), também é o criador do detetive Dirk Gently, protagonista da série homônima da Netflix (essa Grande Irmã Orwelliana dos serviços de streaming da internet, que está bebendo nossos cérebros de canudinho. E a gente deixa. E gosta!). A série tem oito episódios e é protagonizada por Samuel Barnett (o Renfield de Penny Dreadful), em momento de total fofura ao encarnar o carismático e atrapalhado detetive; e pelo igualmente fofo Elijah Wood. Completam o elenco principal Jade Eshete, Fiona Dourif e Mpho Koaho.
Dirk Gently nasceu nos anos 1980, quando Adams escreveu dois livros sobre as aventuras do detetive e sua holística agência de investigações. O personagem deriva da experiência do escritor ao roteirizar episódios de Dr. Who, a famosa série de ficção científica britânica. Também há referências a Dirk Gently em O salmão da dúvida, uma coletânea de textos póstumos, incluindo inéditos, de Adams.
A adaptação do personagem para a série da internet respeita a ironia anárquica e as viagens sensoriais, temporais e espaciais de Douglas Adams, sem falar no senso de humor britânico fleumático e peculiar; e no apreço por situações nonsense. A história criada para essa primeira temporada, no entanto, não é uma adaptação direta do primeiro livro. O próprio Dirk da série é mais ingênuo e burlesco, e menos arrogante, que o personagem das obras de Adams.
O sotaque de Barnett é uma delícia de ouvir e ele e Elijah Wood também tiveram muita química atuando juntos. Elijah, famoso por papéis dramáticos, funcionou bem como um contraponto mais ‘centrado’ para o transloucado detetive, nesta mistura de comédia absurda, mistério e sci-fi. O elenco inteiro está bastante afinado e os personagens são muito empáticos. Não tem como não cair de amores pelos dois policiais meio abobalhados vividos por Neil Brown Jr. e Richard Schiff; nem como não vibrar com a empoderada guarda-costas com treino de agente secreta Farah Black, vivida por Jade Eshete; ou com a assassina holística Bart, Fiona Dourif em cenas inspiradas e hilárias ao lado de Mpho Koaho.
Dirk Gently´s Holistic Detective Agency é uma diversão recheada de teorias da conspiração daquelas bem malucas, que fazem a alegria dos coraçõezinhos nerd. Tem saltos temporais, viagens ao passado e ao futuro, máquinas sinistras, doenças neurológicas desconhecidas, troca de corpos, teoria do caos e uma infinidade de referências ao universo sci-fi. A fotografia tem um colorido meio nostálgico, oitentista, e a trilha sonora é a cereja do bolo.
Minha sinopse para a série (sem spoilers)
A história da série começa com um estranho assassinato em um quarto de hotel. Dirk Gently, por um imperativo do destino (ou não), inicia a investigação das mortes e quer descobrir onde está a filha de um importante magnata da indústria de energia, cujo desaparecimento parece estar conectado com o massacre. Ele recruta Todd (Elijah Wood), um mensageiro do hotel onde o crime ocorreu, como seu assistente na investigação. Todd é ex-guitarrista de uma banda de rock e irmão de Amanda, baterista punk que tem uma doença neurológica, sofre alucinações e por isso, vive confinada em casa. Ao mesmo tempo, Farah, guarda-costas da jovem raptada, tenta reencontrar a moça; e dois policiais (Brown Jr. e Schiff) investigam as mortes e o sequestro. Enquanto isso, uma assassina de aluguel sinistra (Fiona Dourif), acredita ser seu destino matar Dirk Gently. Em meio a toda essa confusão, agentes da CIA também estão atrás do detetive, da assassina holística e de um grupo de punks que vampiriza a energia vital de outras pessoas. O que acontece quando esse povo todo se junta? Só assistindo para saber…
*Sinopse do livro Agência de Investigações Holísticas Dirk Gently
“Richard MacDuff é um engenheiro de computação perfeitamente normal que sempre se comportou muito bem, obrigado, até o dia em que deixa uma mensagem equivocada na secretária eletrônica de sua namorada, Susan Way. Arrependido, toma a decisão mais natural possível: escalar o prédio dela e invadir seu apartamento para roubar a fita com a gravação. Na vizinhança, Dirk Gently bisbilhota os arredores com seu binóculo quando presencia o ato tresloucado do antigo colega de faculdade e decide entrar em contato para lhe oferecer seus serviços investigativos. Depois de uma série de acontecimentos bizarros, o detetive percebe uma interconexão obscura entre a atitude estapafúrdia do amigo e o assassinato de Gordon Way – irmão de Susan e chefe de Richard, que passa a ser suspeito do crime. De uma hora para outra, os dois veem-se envolvidos num caso incrivelmente estranho, com elementos díspares e desconexos que, no final, conseguem se encaixar de forma perfeita e construir uma trama típica de Douglas Adams”.
*Sinopse retirada do site da Submarino. O livro foi lançado no Brasil em 2014, pela Editora Arqueiro. Na Sub é vendido por R$ 26,17 (preço consultado em 09-02-17).
Saiba mais:
>>Dirk Gently já havia sido adaptado para a TV, em 2010, pela BBC de Londres. E essa nova incursão, capitaneada pela Netflix, também tem a produção da BBC America.
>>O roteirista da nova série é Max Landis, autor que começou na DC Comics e é conhecido por quadrinhos como American Allien. Ele é o roteirista de Victor Frankenstein (2015, Paul McGuigan), o filme em que Daniel Radcliffe vive uma espécie de ‘Igor’ (assistente de cientista louco) para o jovem Victor Frankenstein (James MacAvoy).
>>No site Adoro Cinema tem o trailer legendado e o trailer original.