Primeira versão de Mary Shelley´s Frankenstein ganha edição bilíngue e é lançada pela primeira vez no Brasil

O primeiro texto de Frankenstein – O moderno Prometeu, lançado originalmente em 1818, será relançado de forma inédita no Brasil, em versão bilíngue, pela Landmark. Escrito pela britânica Mary Shelley quando a autora tinha 19 anos, o romance gótico, com inspiração também no romantismo, conta a história do estudante de medicina Victor Frankenstein e sua obsessão por derrotar a morte.

A história de 1818, mais densa, foi publicada sem dar o devido crédito para Mary Shelley, mas com um prefácio assinado por seu marido (!), o poeta Percy Shelley. Em 1831, a obra foi reeditada e a injustiça reparada, com as devidas explicações dadas no prefácio da edição daquele ano. O relançamento da Landmark, além de trazer a primeira versão  completa do texto de Frankenstein, traz comentários de estudiosos da obra.

O monstro de De Niro, o mais fiel à descrição do livro

O monstro de De Niro, o mais fiel à descrição do livro

O romance resultou de uma aposta feita entre Mary Shelley, seu marido e o amigo do casal, o também poeta Lorde Byron, quando os Shelley passavam férias na casa de Byron. Quando foi lançado pela primeira vez, Frankenstein obteve grande sucesso, graças a sua combinação certeira de terror, romance frustrado (bem ao gosto dos românticos do século XIX) e questões éticas, morais e religiosas que confrontavam Deus e a ciência. O livro é considerado, junto ao Drácula de Bram Stoker, um dos pilares do terror clássico e do romance gótico, tendo inspirado diversas gerações de autores ao longo do tempo.

A história – Em seu laboratório, o estudante de medicina Victor Frankenstein cria um ser animado usando pedaços de cadáveres e eletricidade. Depois, horrorizado por ter tentado “brincar de Deus” (daí o subtítulo da obra ser O moderno Prometeu, em referência ao titã que rouba o fogo dos deuses para dar aos humanos), abandona a criatura à própria sorte, desencadeando uma série de eventos trágicos que se abatem sobre aqueles que ama.

Frankenstein toca em questões espinhosas ao longo da sua narrativa, como preconceito, ingratidão, injustiça e a inevitabilidade do destino, sempre tendo como pano de fundo a filosofia e até mesmo citações da literatura clássica, como O paraíso perdido, de John Milton, livro que a Criatura encontra nos escombros do laboratório de Victor.

O monstro de Karloff, o mais amado pela cultura pop

O monstro de Karloff, o mais amado pela cultura pop

Vale lembrar que, embora o monstro tenha sido retratado muitas vezes no cinema como um zumbi violento e incapaz de raciocínio, o personagem concebido por Mary Shelley era inteligente e capaz de citar filosofia. Mas, mesmo tendo “conhecimentos refinados”, a criatura  – pense em Robert De Niro no filme de Kenneth Branagh, de 1994, e você terá a imagem precisa do monstro que Mary Shelley imaginou -, sofre diversas agressões e é rejeitada pela sociedade por conta da aparência grotesca e origem obscura, tornando-se assim amarga e vingativa.

A tônica do romance é a obsessão de Victor por controlar os processos pelos quais a vida acontece (com base nos conhecimentos científicos do século XIX, Mary Shelley adorava ciências), derrotando assim a morte. A partir da segunda metade da obra, o centro nervoso da história passa a ser a relação de dependência e ódio que se estabelece entre Criador (Victor) e Criatura. O “monstro” nunca foi oficialmente batizado, mas por conta das muitas vezes em que o romance foi adaptado para o cinema, acabou conhecido pelo nome de seu mestre. A Criatura persegue Victor até os confins da Terra para confrontar o Criador e questionar o propósito de sua existência. No fundo, Frankenstein fala de rejeição, abandono, inadequação e da incapacidade humana de lidar apropriadamente com as consequências mais graves de seus atos.

Mito na tela – A primeira adaptação do livro de Mary Shelley para o cinema ocorreu ainda nos tempos do cinema mudo, em 1910. A mais famosa delas é a protagonizada por Boris Karloff, em 1931 (100 anos depois do lançamento da segunda e mais famosa edição da obra, aquela em que finalmente o nome da autora aparece creditado), inclusive essa versão consolidou a aparência do monstro para a cultura pop, com aqueles eletrodos, parafusos e andar robótico. Mas, a obra mais fiel ao romance é a adaptação literal de Kenneth Branagh, inclusive com o exagero romântico típico da época em que o romance foi escrito. No longa, o ator e diretor britânico vive Victor Frankenstein. O filme de Branagh foi bastante injustiçado na época do lançamento porque a referência que se tinha da criatura era o filme de Karloff, com seu monstro desajeitado, mas que mora no imaginário afetivo dos fãs. Se os críticos de cinema da época tivessem se dado ao trabalho de ler o livro de Mary Shelley, veriam que é um dos poucos casos de adaptação fiel ao original. Como fã confessa do romance, a versão de Branagh me agrada por essa fidelidade e respeito, embora o monstro de Karloff (o filme de 1931 foi dirigido por James Whale) também more no meu coração e faça parte das sessões infantis de Corujão da Madrugada.

Quem é – Mary Wollstonecraft Shelley (1797-1851) escreveu Frankenstein entre 1816 e 1817. Após o casamento com Percy Shelley, o casal se mudou para a Itália, onde ela perdeu os dois filhos e o marido em um trágico acidente de barco, em 1822. Mary organizou a vasta produção poética do marido após a morte dele, garantindo assim a longevidade da obra de Shelley. Sua produção literária esteve por muitas décadas ofuscada pela relevância da obra poética do marido, que é considerado um dos maiores poetas britânicos.  Recentemente, a crítica literária especializada tem revisto essa postura e estudado as obras de Mary Shelley com mais atenção, pois sua contribuição é valiosa. Além de Frankenstein, ela escreveu diversos outros romances e com O Último Homem,  de 1826, considerado seu melhor livro,  foi uma das pioneiras da ficção científica, influenciando toda uma geração de escritores do gênero.

Ficha Técnica:

FrankFrankenstein – primeira versão de 1818

Autora: Mary Shelley

Tradução: Doris Goettems

Editora Landmark

R$ 42,00

Advertisement

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s