“Não passarão”

A revista de moda ELLE, publicada na versão brasileira pela Editora Abril, trouxe na sua edição de dezembro um Manifesto Feminista escrito por seis representações do movimento no Brasil, na atualidade: Sofia Soter, editora da revista Capitolina; Helena Dias, editora da Azmina; Djamila Ribeiro, mestre em filosofia política e colunista da Carta Capital; Juliana de Faria, fundadora do Think Olga e idealizadora das campanhas #chegadefiufiu e #primeiroassedio; Clara Averbuck, do site Lugar de Mulher; e o coletivo Blogueiras Negras. Ao todo, as seis redigiram 41 itens no manifesto, que dão conta de diversas lutas e expressões do feminismo, abraçando a diversidade como bandeira. No editorial da revista, ELLE fez um mea culpa, reconhecendo o quanto as revistas de moda ou as ditas revistas femininas, muitas vezes contribuem para perpetuar o machismo. E o quanto a publicação está buscando mudar essa realidade na sua redação. Quem tiver a oportunidade, vale dar uma conferida na edição. Por agora, reproduzo aqui o manifesto. Os tópicos levantados pelas seis militantes são essenciais, embora ainda não deem conta de todos os desafios que as mulheres enfrentam. Até por questão de espaço, não daria para contemplar tudo em uma única edição. Mas, vale muito a pena pensar em cada um desses itens, sem preconceitos. Talvez, assim, dê para entender de uma vez o que é o movimento feminista, formado de diversos outros movimentos e, cada vez mais aberto a dialogar com as múltiplas manifestações da feminilidade e com outras militâncias ainda necessárias nesse mundo desigual…

Para facilitar a leitura, os tópicos do manifesto:

1 – Queremos que se pare de acreditar que somos todas rivais.

2 – Queremos que todas saibam que todas juntas somos mais fortes.

3 – Queremos aprender com outras mulheres sempre que possível.

4 – Queremos nos dar as mãos, em vez de nos dar as costas.

5 – Queremos que a empatia seja estendida a todas que têm experiências distintas das nossas. A sororidade só entre iguais não basta.

6 – Queremos ler textos de mulheres, ver filmes de mulheres, valorizar trabalhos de mulheres, porque esse apoio é fundamental para que mais mulheres façam seus trabalhos.

7 – Queremos que todas reconheçam seus próprios privilégios e o impacto que eles têm nas relações mesmo entre mulheres. Que se considere, respeite e crie empatia com a diferença.

8 – Queremos que as mulheres se escutem, se respeitem e se apoiem.

9 – Somos contra padrões de beleza irreais, que nos diminuem, controlam e adoecem, para alimentar uma indústria que só tem a ganhar com nossa insegurança e um machismo que quer nos manter enfraquecidas.

10 – Queremos deixar claro que não devemos beleza ao mundo. Ela é apenas uma das muitas características que possuímos. Dizer que mulheres devem ser bonitas é só mais uma forma de nos manter inseguras e impedir que alcemos voos maiores.

11 – Queremos aceitar nosso corpo, nossa pele e nosso cabelo e poder nos amar como somos, em todas as variedades que nos tornam únicas.

12 – Nosso corpo, nossas regras; a escolha de não nos depilarmos, não usarmos maquiagem ou vestirmos determinadas roupas só diz respeito a nós mesmas. Fazer ou não essas coisas não nos torna melhores e nem piores do que ninguém.

13 – Queremos o direito de envelhecer em paz, sem a exigência de uma pele e um corpo eternamente jovens.

14 – Pelo fim do uso do photoshop em nossas fotos, pois não precisamos ser diferentes do que somos.

15 – Por respeito às nossas próprias construções de feminilidade, que possamos ampliar o conceito de feminilidade e não sejamos forçadas a seguir um padrão, seja de beleza, seja de comportamento.

16 – Que possamos nos sentir livres para escolher viver a feminilidade que nos fizer sentido.

17 – Como feministas, refutamos a imposição de comportamentos, de um padrão restrito de feminino, e lutamos para que um dia possamos ser livres para fazer nossas escolhas.

18 – Por respeito ao nosso desejo (ou não) de sermos mães, que a maternidade possa ser uma livre escolha, e não um destino imposto.

19 – Pelo direito do gênero não ser utilizado como desculpa para legitimar a opressão ou criar hierarquias.

20 – Não queremos mais ter medo de caminhar pelas ruas por sermos mulheres.

21 – Não queremos lidar com comentários de teor obsceno, olhares, intimações e toques indesejados, que hoje são entendidos pelo senso comum como elogios, brincadeiras e parte da vida. Nada disso é normal e aceitável.

22 – Precisamos de novas estratégias para a segurança feminina que não se baseiem em determinar que roupas devemos usar, se devemos ou não sair sozinhas ou em determinados horários e lugares. E que nem signifiquem segregar ou confinar as mulheres.

23 – Exigimos que as cidades sejam seguras para as mulheres de forma que possamos ocupá-las da mesma maneira que os homens.

24 – Não queremos mais ser convencidas de que repudiar o assédio e denunciá-lo é exagero ou vitimismo. Tem algo poderoso em se descobrir vítima, só assim é possível enxergar que existe um culpado e que não somos nós.

25 – Repudiamos toda forma de violência contra as mulheres na internet ou fora dela. Queremos que crimes virtuais não sejam mais aceitos como violência de menor importância.

26 – Queremos receber o mesmo salário que os homens ao exercermos a mesma função.

27 – Queremos exercer plenamente nossa licença maternidade, livre de pressões de empregadores e colegas.

28 – Acreditamos que o homem deve ter responsabilidade igual na criação dos filhos.

29 – Queremos respeito no ambiente de trabalho independentemente de nossa vida pessoal.

30 – Queremos políticas públicas que nos permitam exercer nossos direitos sexuais e reprodutivos.

31 – Queremos a garantia de atendimento de qualidade em caso de violência sexual.

32 – Queremos que nossas vozes sejam ouvidas.

33 – Repudiamos sermos definidas como morenas e mulatas, somos mulheres negras / pretas.

34 – Exigimos o reconhecimento de nossa importância enquantos seres responsáveis pelo desenvolvimento político, econômico e cultural.

35 – Não permitiremos mais que as mulheres, cis ou trans, permaneçam cabisbaixas e silenciadas. Parafraseando a escritora Audre Lorde, jamais seremos livres enquanto outra ainda for prisioneira.

36 – Não admitimos mais ser retratadas por estereótipos e de maneira eurocêntrica pela midia e pela sociedade, apagando nossas vivências e nossa existência.

37 – Repudiamos os conteúdos racistas, machistas, transfóbicos, bifóbicos, lesbofóbicos e classistas de formadores de opinião e de pessoas comuns que usam a liberdade de expressão como escudo para nos atacar.

38 – Demandamos o fim do genocídio da população negra, assim como do feminicídio e da violência doméstica.

39 – Reivindicamos o respeito à nossa religiosidade e aos nossos símbolos de resistência. Não toleramos vê-los tratados como moda!

40 – Denunciamos os monopólios midiáticos e as escolhas racistas e misóginas da agenda pública, que mascara nossas reais mazelas.

41 – Reivindicamos a valorização e a consideração das vozes negras.

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