Quando Marina Abramović Morrer: uma biografia, do jornalista inglês James Westcott, integra a programação da exposição Terra Comunal – Marina Abramović + MAI, que pode ser vista no Sesc Pompeia (SP) desde o último dia 10 e fica em cartaz até maio deste ano. O livro conta a história da artista sérvia desde a infância, em Belgrado, até o reconhecimento internacional como uma das maiores artistas da performance no mundo.
Para investigar a vida e a arte de Marina, Westcott fez mais de 60 entrevistas entre janeiro de 2007 e fevereiro de 2009, pesquisou nos arquivos pessoais da artista, percorreu instituições e galerias de arte. O livro mostra a relação turbulenta da artista com os pais (especialmente com a mãe), o início da carreira na universidade, onde começou as primeiras experimentações artísticas, até os dias atuais, quando é um ícone pop.
Com toques de bom humor, James examina a obra desafiadora de uma das artistas pioneiras de sua geração, e que continua sendo considerada de vanguarda. Em 2010, a artista apresentou a exposição A artista está presente, no MoMA, em Nova York, em que ficou sentada durante três meses com uma cadeira vazia à sua frente aguardando o público que iria fitá-la. A performance teve um recorde de 850 mil visitantes e 1750 pessoas sentaram diante da artista, incluindo o ator James Franco.
A capa do livro traz o desconcertante testamento redigido pela artista com uma descrição detalhada de como deverá ser a cerimônia fúnebre em sua homenagem. O documento revela que Marina fará de sua despedida uma performance celebrando a vida e a morte.
A artista extrema – Nascida em 1946, no dia da República da ex-Iuguslávia, em 29 de novembro, Marina teve uma educação rígida e disciplinadora, que a influenciou também em seu método de performance, ao levar seu próprio corpo a extremos e limites durante as apresentações. Aprovada na Academia de Belas Artes de Belgrado, inicialmente dedicou-se à pintura e ficou por um período interessada em acidentes de carro. Usou contatos policiais do pai para descobrir detalhes sobre as colisões graves e ia até os acidentes para tentar captar sua violência. Frustrada com a incapacidade de traduzir a complexidade do tema para a pintura, Marina se dedicou a descobrir novas formas de expor artisticamente.
Uma das primeiras propostas de performance, em 1969, foi recusada. Come wash with me (Venha lavar comigo) pretendia que a galeria se tornasse uma grande lavanderia, com o público entregando suas roupas para Marina lavar, secar e passar a ferro. Quando as roupas estivessem secas, o público poderia ir embora. Em 1970, outra proposta também foi recusada. Esta poderia ser sua primeira – e última – aparição pública. A ideia seria Marina trocar suas roupas pelas peças que sua mãe comprava: uma saia deselegante que descia até as panturrilhas, pesadas meias sintéticas, sapatos ortopédicos e uma blusa branca de algodão com pontos vermelhos. Seria, para ela, como vestir uma camisa de força. E então, apontaria uma pistola contra a própria cabeça e apertaria o gatilho.
Marina Abramović, autoproclamada avó da performance, tem outros trabalhos extremos, como deitar em uma estrela de cinco pontas em chamas até perder a consciência; permanecer obstinadamente passiva durante seis horas enquanto membros do público faziam o que quisessem com ela; e cortar um pentagrama em seu abdômen antes de chicotear-se e deitar-se nua em uma cruz feita de gelo.
No livro também é retratado o intenso e longo relacionamento entre Marina e o artista alemão Ulay. Eles passaram anos juntos, inclusive morando numa van, e se despediram com uma última performance, após 12 anos de colaboração na vida e na arte, ao percorrer a Grande Muralha da China a partir de extremidades opostas, até que, 90 dias depois, encontraram-se no meio e se despediram um do outro. Marina e Ulay só voltaram a se encontrar quando o artista foi ao MoMA e sentou-se diante dela na performance A artista está presente. A cena do reencontro dos dois viralizou no Youtube.
FICHA TÉCNICA:
Quando Marina Abramović morrer: uma biografia
Autor: James Westcott
Tradução: Tiago Novaes
Edições Sesc São Paulo
336 páginas
R$ 80,00
*Com informações da editora Sesc São Paulo
*Imagem: Sean Kelly / Divulgação