Suco detox, exercício detox, detox de redes sociais (peraí, esse é bacana porque viver permanentemente em rede tem hora que enjoa) e agora tem até picolé detox!
Na onda pré-verão de desinchar para caber no biquíni de bolinha amarelinho da ana maria, haja passar fome e abusar das dietas desintoxicantes e purificantes. Mas eu tenho birra de jejum. Jejum sempre me lembra culpa e punição. E me considero a mais inocente das criaturas, imune ao peso do pecado original.
Fiz as pazes com a balança depois de uma infância e adolescência levando broncas de avós e tias para emagrecer. Felizmente, tenho uma mãe sensata e contrariando o coro familiar, ela nunca permitiu que eu tomasse remedinhos (leia-se anfetaminas) prescritos por endocrinologistas insensatos.
Embora reconheça a necessidade de desintoxicar vez por outra e tente cada vez mais praticar o desapego em vários setores da vida (do guarda-roupas às relações que já estão bichadas), tenho birra de matérias do tipo “cinco passos para deixar o corpão tinindo para o verão”. Eleições de “the body” então, me dão um fastio enorme.
“Ah, mas vai ver que é porque você é do time das gordinhas”, algum adepto do Instafitness vai resmungar. Abomino o instafitness e seus correlatos, para seu governo.
Até que gosto de atividade física. Uma hidroginástica e um pilates caem bem para manter os músculos e a cabeça saudáveis, ainda mais depois dos 35. Endorfina que não venha sempre dos chocolates é muito bem-vinda, mas desde que o exercício me dê prazer por mim mesma, não porque tenho de exibir a sequência para meus seguidores. Não tenho seguidores no Instagram, aliás não tenho nem Instagram. E se depois da ginástica der vontade de comer uma barrinha de Galak, que se danem as alfarrobas!
Li essa semana uma matéria falando de um aplicativo que mostra quem começou ou deixou de seguir quem. E do quanto a ferramenta estava levando gente à depressão. Sério mesmo que tem quem se sinta rejeitado (palavra forte) só porque alguém deixou de seguir seu perfil numa rede social? Recomendo um analista, com urgência! Corre lá e marca uma sessão antes de 2013 acabar, não leve esse tipo de neura para o seu ano novo.
Não quero, sinceramente, ninguém curtindo ou deixando de curtir o tamanho das minhas panturrilhas, sem falar em outras partes do corpo! Me dá uma dó muito grande do povo que precisa desse tipo de autoafirmação.
Quer fazer exercício? Faz filho (a), mas faz por você mesmo (a), faz porque gosta de fazer, porque se diverte fazendo, ou até mesmo porque gosta de ver um corpo saradinho quando se olha no espelho… Mas, que seja você a pessoa feliz com a dieta e a ginástica e não o vizinho, os seguidores do Instagram ou quem quer que seja.
Aprenda que a gente não veio ao mundo para agradar ninguém. Que você não precisa do like dos outros para ser feliz e que um unfollow não é o fim do mundo! Pessoalmente, costumo fazer faxinas rotineiras em perfis que não acrescentam nada à minha vida. Então, porque me chatear se uma pessoa achar que eu não acrescento nada à vida dela?
O que você precisa mesmo é dar e receber afeto, respeitar para ser respeitado (a) e seguir a vida sem fazer aos outros o que não quer que façam com você (regrinha de ouro!) e rir de si mesma de vez em quando, só para descontrair, e se divertir com a vida, mesmo quando ela parece monótona, e agradecer sinceramente até mesmo pelos infortúnios.
Porque a gente lembra demais de pedir e pouco se recorda de agradecer, seja a um ou vários deuses, ou à natureza, ou à energia cósmica ou mesmo ao acaso biológico que nos legou a vida em um universo onde até hoje não há consenso se temos companhia.
Deixemos o aficcionado pelo detox e pela malhação sem limite, sem bom senso e ultra exibicionista resmungando que sou apenas uma gordinha ressentida por não caber no biquíni e desconhecida no Instagram. Sinceramente, não ligo. Até porque, sei que está comprovado pela ciência que quem vive de dieta não tem senso de humor e resmunga por qualquer coisa. Muito natural portanto, que se sinta ofendido (a) pelas minhas filosofagens.
Vá lá que a pessoa mantenha-se minimanente na linha, pelo bem do coração e para evitar um AVC, mas viver pulando de detox em detox, deus me livre! Até li recentemente, e já sabia disso na prática, que ser gordo não é sinônimo de ser doente. Minhas taxas de glicose, triglicérides e colesterol são excelentes, mesmo com manequim 46. Desde que a pessoa esteja bem clinicamente e de cabeça, o peso que ela tem só diz respeito a ela mesma. O resto é preconceito, seja contra os cheinhos ou mesmo contra os muito magros.
E ninguém fale de suco verde perto de mim. Adoro sucos (de frutas), mas esse negócio de misturar alface, couve, pepino e chia no liquidificador e tentar me convencer de que a gororoba é gostosa, corta essa!
Queria que inventassem detox mental e espiritual, para que os adeptos limpassem a cabeça e a alma da inveja e da mesquinharia. Um detox de língua, para evitar a maledicência, principalmente quando é gratuita e por pura perversidade, cairia muito bem também.
Que tal um detox para vizinhos de prédio que adoram bisbilhotar outros moradores? E um mais que necessário detox contra preconceitos? Para purificar a alma, o coração e o juízo de machistas, misóginos, racistas, homofóbicos, xenófobos e todos os outros istas e óbicos que contaminam o mundo e tentam jogar para cima dos outros a doença do próprio espírito?
Um detox contra analfabetismo funcional também seria útil, principalmente para atendentes de telemarketing. E detox contra baixarias, mau gosto, cafonices aos montes. E, lógico, detox contra corrupção. Além de um super detox para eliminar, secar e torrar na academia da responsabilidade social e da cidadania, todos os quilos extras do famigerado “jeitinho brasileiro”.
Enxugando essas pelancas sociais aí de cima, viveríamos bem mais felizes…
*Crédito da ilustração: site cristianecardoso.com