“Há uma questão de mercado nas novas espiritualidades que é vender uma coisa para a pessoa ler e se sentir legal. Ao contrário, a espiritualidade profunda – seja budista, islâmica, católica, hinduísta, etc. – está sempre fincada em uma experiência de esvaziamento do eu, de descentramento de valor. É típico do eu inflado, por exemplo, achar que o principal problema da vida é se sentir amado, quando na realidade o mais importante é ser capaz de amar. Em vez da cultura narcísica em que a preocupação primeira é o direito a ser amado, a espiritualidade profunda propõe muito mais eu ser capaz de amar. Santo Agostinho diz: “Se você quer ser livre, ame”. Porque isso liberta você de você mesmo. Os melhores dias da nossa vida não são os que lambemos as nossas feridas, mas aqueles em que estamos envolvidos com pessoas. Isso chamo de descentramento. Outro exemplo: estudos mostram que grandes templos vazios provocam essa noção de tamanho e descentramento ao mostrar quão pequenos somos. Uma igreja, uma sinagoga, me causam essa sensação sublime. Sou mais receptivo, paciente, me vejo como alguém que depende de um número enorme de pessoas e da boa vontade delas.”
(Luiz Felipe Pondé, pensador e cronista pernambucano em entrevista para a revista Bons Fluídos de dezembro de 2013. Pondé se define como ateu, mas afirma não ter “bode” de Deus. Na visão do pensador, religião e espiritualidade são coisas diferentes)