Repórter dá volta ao mundo inspirada em Verne

Nellie Bly pronta para bater o recorde de Phileas Fogg. Durante a viagem, ela visitou Júlio Verne!

Nellie Bly pronta para bater o recorde de Phileas Fogg. Durante a viagem ela visitou Júlio Verne!

Na edição deste mês de dezembro da revista Aventuras na História, descobri a existência de Nellie Bly, jornalista norte-americana que no final do século XIX, inspirada por Phileas Fogg, personagem de Júlio Verne, decidiu dar a volta ao mundo em menos de 80 dias, batendo o recorde da persona literária. Nellie desafiou o editor do jornal onde ela trabalhava, o The New York World: faria a mesma viagem do romance A volta ao mundo em 80 dias, só que levaria 75. No final, cumpriu a missão em 72, usando um costume de viagem costurado especialmente para ela e uma malinha de mão (na foto) recheada apenas com itens necessários à sobrevivência (canetas e bloquinhos entre os itens de primeira necessidade).

Sempre fui fascinada por aventureiros e viajantes em geral e conheço as histórias de muitos dos cronistas que vieram ao Brasil desde os tempos coloniais. Mas saber da existência de Nellie Bly me deu também um pouco de orgulho feminista. A história dela é fantástica e está contada na biografia Nellie Bly – Daredevil, Reporter, Feminist (Nellie Bly – Temerária, Reporter, Feminista, em tradução livre), da também jornalista Brooke Kroeger, mas infelizmente ainda não lançada no Brasil.

Na reportagem da Aventuras na História é contada um pouco da viagem de Nellie, bem como mostrado o mapa da sua aventura. Nem preciso dizer que ela teve de cortar um dobrado para convencer o editor do jornal a deixá-la fazer a viagem, pois ele queria enviar um homem no lugar. Durante o trajeto, várias lendas surgiram sobre ela, inclusive uma em que diziam que ela era uma jovem herdeira rica. Nellie teve de se esquivar de vários pedidos de casamento ao longo das travessias de trem e navio.

Nellie Bly tornou-se repórter por acaso. Órfã de pai, ela ajudava a mãe a cuidar de uma pensão. Foi quando leu um editorial no jornal da cidade onde vivia em que o autor criticava as mulheres que buscavam instrução e lutavam para construir uma carreira naquele final de século XIX, quando os primeiros ecos da luta das mulheres por direitos começavam a surgir na Europa e nos Estados Unidos.

Nellie, indignada pelo teor machista do artigo, escreveu uma carta desaforada, porém cheia de argumentos racionais, ao editor do jornal. Impressionado pela atitude da moça, ele a convidou para ser repórter. Importante dizer que depois da volta ao mundo Nellie Bly se casou, contrariando o estereótipo em voga na época e infelizmente, ainda hoje para muita gente, que pregava que feministas eram mulheres frustradas e sem vida afetiva. Mesmo casada, com filhos e tal, ela foi a primeira mulher a atuar como correspondente em um conflito bélico, a I Guerra Mundial.

Nem preciso dizer que para mim, que resolvi ser repórter quando assisti à cobertura jornalística da queda do muro de Berlim, em 1989, quando tinha 15 anos, e sonhava em ser justamente correspondente em zonas de conflito, Nellie Bly virou uma inspiração!

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