Resenha: O príncipe da névoa (Carlos Ruiz Zafón)

A origem promissora de um autor

O príncipe da névoa, romance de estreia do catalão Carlos Ruiz Zafón está aquém de A sombra do vento, livro que revelou o autor espanhol ao mundo, mas o intervalo de 15 anos que separa uma obra da outra (O príncipe da névoa é de 1993 e A sombra do vento, de 2008) demonstram o quanto o escritor amadureceu na arte de contar histórias.

Não significa que seu livro de estreia seja ruim, ao contrário, O príncipe da névoa já traz os elementos que marcam a narrativa de Zafón, como o gosto pelo realismo fantástico, a capacidade de traduzir a realidade de forma onírica, a recorrência de temas ligados à velha Barcelona, ao período entre guerras e a guerra civil espanhola; além da habilidade de narrar cinematograficamente, fruto da experiência como roteirista.

O príncipe da névoa, vale ressaltar, não é ambientado na Espanha, mas em algum lugar situado entre França e Inglaterra, mais especificamente em uma praia isolada em um dos lados do Canal da Mancha. Mas, sendo fiel ao tempo histórico que o inspira, a narrativa está situada nos anos 40, durante a II Guerra Mundial. O livro faz parte da Trilogia da Névoa, a primeira que Zafón escreveu.

No Brasil, O príncipe da névoa sairá pela Suma de Letras, mesma editora que já publicou a trilogia iniciada com A Sombra do Vento e que também publicou Marina, o quarto romance do autor. A editora já divulgou a capa do livro, embora ainda não tenha data precisa de lançamento por aqui.

Capa de O príncipe da névoa divulgada pela editora Suma de Letras

Capa de O príncipe da névoa divulgada pela editora Suma de Letras

Para crianças que pensam – Para quem quer adiantar a leitura, existem versões em PDF de O príncipe da névoa na internet, e foi uma dessas que li. As outras obras dessa trilogia são O palácio da meia-noite e As luzes de setembro, que ainda não encontrei versões para download ou leitura on line. Esses três livros e Marina situam-se na produção de inicio de carreira de Zafón e são definidos como juvenis.

A leitura de O príncipe da névoa e de Marina, porém, irá entreter também ao público mais velho, pois a habilidade de Zafón como narrador transcende a idade do seu público. Ele escreve para crianças que sabem pensar e para adultos que fazem questão de preservar a capacidade de sonhar.

O próprio Zafón, em entrevistas, revelou que ao escrever esses livros pensou nas obras que gostaria de ter lido quando era garoto. Pessoalmente, não vejo empecilhos para um adolescente fruir a trilogia de A sombra do vento, considerada mais adulta, da mesma forma que considero as obras “juvenis” do escritor indicadas aos leitores maduros.

Magia que assusta – Em O príncipe da névoa a magia está presente de uma forma bem menos atenuada e lúdica do que se vê em Harry Potter, por exemplo, chegando a flertar com o terror das antigas fitas do expressionismo alemão. Qualquer semelhança com O gabinete do Dr. Caligari, ou o Nosferatu, de Murnau, não creio que seja mera coincidência.

O protagonista é Max Carver, um garoto de 13 anos que se muda com a família para um vilarejo em uma praia isolada, fugindo da II Guerra. Os Carver compram uma casa marcada por uma tragédia do passado, o filho do antigo dono teria morrido afogado de forma misteriosa. Sem querer, e levado por acontecimentos estranhos com membros de sua família, Max começa a investigar o passado. Ao mesmo tempo, desenvolve uma profunda amizade com Roland, o neto adolescente do faroleiro do vilarejo, que é fascinado pela história de um antigo navio naufragado nas imediações. Colaboram com o clima de suspense e terror o exótico jardim de estátuas, permanentemente envolto em névoa, situado nos fundos da casa dos Carver, e as histórias do velho faroleiro sobre um personagem sinistro, o Dr. Caín.

O que falta ao livro, para chegar no mesmo nível de A sombra do vento, ou mesmo de Marina, o mais bem acabado dos romances iniciais de Zafón, é uma amarração dos fatos de forma menos apressada. A sensação é de que, iniciante, Zafón ainda se deixava levar pelo fluxo narrativo, de roldão, sem aquela maturidade dos autores mais experientes para domar a história e conduzi-la de modo intenso, porém coerente, bem alinhavada e costurada.

O livro, no entanto, é bom entretenimento, tem carisma e mostra o processo de amadurecimento de um escritor em seu ofício. Trata-se de uma semente bastante fértil, aquela que deu origem à vicejante produção recente de Zafón.

Leia também sobre o autor:

>>Resenha de A sombra do vento e O jogo do anjo

>>Resenha de O prisioneiro do céu

>>Ler O príncipe da névoa on line

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Um pensamento sobre “Resenha: O príncipe da névoa (Carlos Ruiz Zafón)

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