A Vila Laura, esse bairro minúsculo e labiríntico no finalzinho de Brotas, que para as empresas de transporte coletivo de Salvador não existe no mapa, reserva surpresas agradáveis que me fazem adorar o lugar, mesmo dependendo da boa vontade de Naná (Narandiba-HGE), o ônibus que me leva ao trabalho diariamente.
Entre essas surpresas, ouvir o apito do amolador de tesouras e facas (minha mãe é freguesa rotineira), o triângulo do vendedor de taboca (que me perdoem as crianças menores de 30 anos que leem este blog se não sabem o que é taboca) e o grito inconfundível do vendedor de vassouras: “Vaaaaassssoooouuuuureeeeiiiiiirroooooooo!!!!”.
A cerejinha do bolo: o vendedor de vassouras ainda vende daquelas de modelo antiguinho, de espanar a poeira e as teias de aranha das paredes e teto, e que muito se parece com a vassoura da Madame Mim de minha infância.
Tudo isso, como diria aquela famosinha propaganda de cartão de crédito, não tem preço para uma alma velha como o tempo, romântica e nostálgica feito a minha.
Mas, como todo paraíso precisa ter seu oposto para manter o cosmos em equilíbrio, a Vila Laura (essa Avalon que meus amigos nunca conseguem encontrar e ficam me ligando, perdidos em suas muitas ruazinhas, quando dão na veneta de me visitar, de caju em caju, visto que não sou muito visitável); nos últimos tempos virou o endereço da classe pseudo-rica de Salvador.
E como atual endereço dos pseudo-ricos – e cafonas esbanjadores -, ao coro de vassoureiros, taboqueiros e amoladores, juntam-se de agora em diante os garotões sarados, com seus potentes alto-falantes de trio-elétrico instalados em carros japoneses enfeitados com adesivo em forma de tatuagem tribal.
Uma conclusão: a vida cotidiana é uma mistura inusitada de poesia e miséria…
Acho ótimo quando o vaaaaaaaaaaasssoureeeeeeeeeeeeeiro dá aquela respirada e solta: ssssssssssooooooouraaaaaaaaa =P
Morar em bairro onde ainda existe vassoureiro é uma experiência única, Clarissa. Fico imaginando como Salvador devia ser interessante há 50/60 anos atrás, quando ainda ocorriam os pregões da madrugada, as vendedoras de acarajé mercando com o tabuleiro na cabeça. Ai ai ai…