Uma viagem estelar de ironia em ironia
“porque nós aqui, nesta nossa bolinha de barro, não costumamos pensar em nada que seja diferente dos nossos próprios costumes.”
(Voltaire)
Um ser colossal, sábio e carismático que viaja em caudas de cometa e raios de sol por diversos planetas até chegar à Terra. No século XVIII, o pensador francês Voltaire (um dos pais do Iluminismo), criou um pequeno libelo ao livre pensamento, usando para isso uma linguagem recheada de ironia. Micrômegas – Uma viagem filosófica inspira-se em As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, e é leitura instigante para crianças e adultos.
Através das investigações filosófico científicas desse gigante com altura quilométrica, o autor questiona os valores da sociedade do seu tempo e ironiza a igreja e a perseguição que a fé empreende à evolução da ciência. Não poupa também as indolentes cortes europeias, com seus pseudo-sábios, acomodados ao conhecimento já estabelecido e incapazes de questionar o status quo.
Micrômegas, o nome do gigante é o mesmo do livro, é um ser inquieto, milenar, dotado de conhecimentos muito acima da capacidade dos seres humanos, mas ainda assim, mostrando-se discípulo de uma tradição socrática, considera-se um mero aprendiz. De planeta em planeta, ele tenta saciar sua curiosidade inata, mas percebe que o universo é pontuado de criaturas infinitamente menores que ele, tanto em tamanho quanto em sabedoria, que de forma arrogante consideram-se geniais.
Era de se esperar que uma obra para crianças, ainda mais escrita por um filósofo do século XVIII, trouxesse fórmulas morais prontas. Mas Voltaire não pretende catequizar seus jovens leitores, apenas levá-los a questionar o óbvio e enxergar além da aparência ordinária das coisas. De certa forma, o livro é ainda um libelo contra o preconceito, pois Micrômegas, embora muito mais evoluído que os seres que visita, está sempre disposto a ouvi-los e aprender.
A edição em português, da Autêntica, é bem cuidada e recheada de notas de rodapé que familiarizam o leitor tanto com os costumes do tempo de Voltaire quanto com seus conceitos científicos e filosóficos. No tempo do autor, por exemplo, o átomo ainda não havia sido descoberto. Com a contextualização, ao invés de dar a impressão de que o livro é ultrapassado, a edição mostra que as descobertas, mas principalmente aquilo que os cientistas do tempo de Voltaire não sabiam, é que impulsionaram a nossa evolução.
O livro é uma mistura acertada de investigação empírica com dedução lógica, mas seu grande mérito é colocar as coisas sob perspectivas diferentes. A própria metáfora da altura descomunal de Micrômegas é uma forma de nos levar, humanos tão pequenos e tão cheios de si, a olhar a vida sempre por ângulos diferentes.
Ficha Técnica:
Micrômegas – Uma história filosófica
Autor: Voltaire
Tradução: Maria Valéria Rezende
Ilustração: Diogo Droschi
64 páginas
R$ 29,90
*Publicado também no blog Luz sobre a escrivaninha.
**Leia um trecho de Micrômegas, aqui.
E o ser de saturno é provavelmente um ser aracnídeo de Enceladus ,com uma inteligência artística que em relação a nossa que nos deixa “Chimpanzés” .Mas eles não são muito criativos em raciocínios matemáticos …..,apesar da habilidade monstruosa depois da aprendizagem ….
Quem pode afirmar que Voltaire não teve um contato extraterrestre de primeiro grau ?.Então em 200 em 200 anos Micomegas vem conversar com os “Superhumanos”..