Faço parte da geração que cresceu assistindo ao Fúria de Titãs original, de 1981, com aquele elenco estelar que incluia Sir. Lawrence Olivier (Zeus), Ursula Andrees (Afrodite), Maggie Smith (Thetis) e Claire Bloom (Hera). Uma certa nostalgia já era esperada quando ano passado o remake foi lançado no cinema. Não fui ver, só assisti no último final de semana, na “sessão sofá”, no HBO. Não é o pior remake que já vi na vida, embora não seja fã de remakes, acho-os desnecessários. Não entendo o porque de refilmar uma história boa, refazer um clássico, me parece sempre oportunismo e falta de criatividade dos roteiristas, produtores, diretores… do povo por trás da indústria do cinema. A desculpa de que a história precisa ganhar roupagem nova para atrair as novas gerações só serve, na minha opinião, para explicar a iconoclastia burra e desmemoriada da geração atual (salvo exceções). “Vamos queimar o passado porque ele é velho”. Dá até medo! Mas de forma inesperada, acabei não desgostando de todo desse novo Fúria de Titãs, embora ele seja bem infiel tanto ao original quanto à mitologia grega. Cometeram um sem número de “licenças poéticas” com a lenda de Perseu, que é uma das mais bonitas de todo o panteão grego. Só que, depois de assistir, deixei de encarar O Fúria de Titãs de 2010 como um remake do de 1981. Para mim são duas versões do mesmo mito, com personagens em comum e situações parecidas e só. A história tem a mesma inspiração, mas a abordagem é outra. O clássico da minha infância, talvez porque o cinema naquela época fosse mais criativo ou porque na falta de tecnologia abundante os filmes se pegavam mesmo era na força da história para sobreviver, bebe lindamente na fonte mitológica, com respeito quase reverencial aos mitos e heróis da antiguidade. Já o novo, é justamente o contrário: sobra tecnologia, falta força na história, falta aquela aura de mito. O ritmo da narrativa é tão alucinante, tão blockbusteriano, que para quem gosta e entende um pouco de mitologia, ao menos já leu a lenda de Perseu, é frustrante. Para quem não sabe patavina do assunto, passa por mais um filme de ação e super efeitos especiais. Dá no mesmo ver esse ou Transformers. Fúria de Titãs – 2010 – é um filme que não tem raiz, foi esvaziado pelo tecnicismo. Mas, ainda assim, não desgostei de todo. Dou uma nota 7,5 por trazer de volta a nostalgia da infância e porque como filme de ação e aventura, ele é fiel a si mesmo. Do elenco, Ralph Fiennes como Hades merece um 8,5 pelo esforço em não se parecer com o Lorde Voldemort da saga Harry Potter. Liam Neeson, que é um ator de quem gosto tanto, não me disse a que veio como Zeus. Também pudera, Lawrence Olivier é imbatível na clássica cena do “libertem o Kraken!”, sem contar naqueles bonequinhos de cera que os deuses ficavam manipulando em uma mini arena no Olimpo, e para cada remodelagem nos bonecos, uma catástrofe atingia a pessoa real aqui na terra. Tiraram isso do filme atual, uma alegoria perfeita da crença antiga de que os humanos eram mero joguete dos deuses. Sam Worthington? Bem, não é o pior da sua turma, mas por birra, ou talvez mais uma vez por nostalgia, ainda prefiro o carisma dos fortões de outrora, mesmo quando eram canastrinhas. Me deu saudade de Lou Ferrigno vivendo Hércules!
Ficha do filme:
Fúria de Titãs, EUA/Reino, 2010, épico/ação/aventura
Direção: Louis Leterrier
Elenco: Sam Worthington, Ralph Fiennes, Liam Neeson, Gemma Arterton…
Sinopse: Perseu é criado por uma família de pescadores e após Hades matar sua família, ele chega à cidade de Argos, onde descobre ser um semi deus, filho de Zeus. A cidade, que desafiou o poder dos deuses, está ameaçada. Hades, aproveitando-se da luta entre mortais e divinos, arma um plano para vingar-se do Olimpo por tê-lo banido para o mundo inferior. Para combater Hades, vingar os pais mortais e ajudar Argos à sobreviver à fúria olimpiana, reconciliando humanos e deuses, Perseu parte em uma longa jornada cheia de perigos e lutas com criaturas sinistras como a Medusa e Calibo…