Pô, dona Coelba, custava avisar?

Cheguei da aula de GCP (Grupo de Consciência Postural) por volta das 10h30 da manhã desta terça e minha mãe anunciou: “estamos sem energia elétrica há cerca de uma hora”. Perguntei o motivo e, pelo que ela havia apurado com a síndica do prédio, era um “serviço” da Coelba no bairro (Vila Laura, na macro-região de Brotas). Que tipo de serviço ninguém sabia. Tampouco quanto tempo ficaríamos sem energia.

Tentei falar com algum atendente de telemarketing (adoro eles) da Coelba e me informar, mas após diversas tentativas frustradas de ligar para o 0800 071 080o (número que aliás está estampado em caracteres garrafais no meu recibo), desisti, antes que tivesse um colapso.

A energia só voltou às 16h30 da tarde, seis horas depois que cheguei da minha aula e, pelos cálculos da minha mãe, sete após a falta de luz no quarteirão onde moro e na vizinhança.

Imagino que a energia tenha sido desligada para algum serviço de manutenção importantíssimo. Para confirmar a teoria, tão logo ela voltou, corri para a internet, em busca de informações. Vasculhei todos os sites de notícias sobre Salvador de que consegui me lembrar, inclusive aquele em que trabalho (e que me encontro em férias nos últimos 25 dias) e o seu principal concorrente. Nenhuma linha sobre o assunto. Não foi um apagão na cidade toda, ah bom, senão haveria alguma notinha, nem que fosse no plantão de notícias, e eu percorri todos os plantões dos sites.

Cheguei à conclusão de que a Vila Laura é o reino das fadas, não existe no mapa. Ao menos não no mapa de cobertura da mídia soteropolitana. Perdi as contas das vezes em que sugeri pautas sobre a falta crônica de transporte coletivo no bairro ou sobre os desvios que foram adotados para acessar essa região da cidade, depois que começaram as obras da Via Expressa, na Rótula do Abacaxi. Engraçado é que não é um loteamento minúsculo com meia dúzia de casas, é um bairro! Até temos shopping center e uma agência do Banco do Brasil!! Mas não estamos no mapa. A especulação imobiliária nos descobriu, o bairro virou um canteiro de obras gigante, casas antigas com jardins imensos e terrenos de cinco mil metros quadrados cedem lugar a espigões com mais de 17 andares. Em uma dessas revistas especializadas, do mercado imobiliário, a Vila Laura é apontada como o novo retiro para quem busca um bairro perto de tudo e que ainda guarda aquelas características típicas do bom viver (árvores, ventilação, pracinha, essas coisas). A propaganda atrai um enxame de novos moradores para o bairro, sobrecarregando as ruas com carros e mais carros e levando quem precisa andar de ônibus ao desespero. Mas a imprensa e ao que tudo indica, o setor de relacionamento da Coelba com os clientes, não sabem que a Vila Laura existe. Moro em Avalon!

Como diz o ditado: “casa de ferreiro, espeto de pau”. Não consigo emplacar pautas sobre o meu bairro, essa é a triste verdade. O jeito é apelar para o blog pessoal, reeditando os velhos dias do falecido Bala no Alvo (um blog onde eu reclamava de tudo o que precisava de uma reclamação. Chamam isso de cidadania). Hoje nem me dei ao trabalho de tentar vender mais uma pauta, confesso.

Entrei no site da própria Coelba, já que o 0800 não atendia durante a manhã e lá também não havia informação sobre o tal “serviço”.

Especulo que o motivo da falta de energia tenha sido a instalação dos postes e da fiação que levará eletricidade ao Vila Privilege, este sim um novíssimo loteamento, atualmente em construção no bairro. Bem ali pertinho do Extra. Ah sim, além de banco e shopping, temos hipermercado, tão pensando o quê?

Até aí tudo bem, os moradores do Vila Privilege – mais um dos mega complexos classe AB+ de Salvador  – merecem sua cota de energia. Rico também é gente e eu não faço a linha pobre revoltada. Aliás, não gosto do tipo pobre revoltado. Porque esses, quando chegam ao poder, e temos provas ao longo da história, conseguem ser ainda mais mesquinhos que os nascidos em berço de ouro, como diria minha avó.

Mas custava avisar? Custava emitir um comunicado na imprensa? Uma daquelas chamadas em tela azul e letrinhas brancas na TV no intervalo da novela? Custava distribuir panfletinho nos condomínios? Aqueles editais minúsculos nos jornais impressos não valem, ninguém sensato lê aquilo. A população do bairro, seja ela pobre ou rica, merece respeito. Sete horas sem energia elétrica, no mundo de hoje, é impensável!

Tudo bem que houve um tempo em que não havia luz nas casas e as pessoas se viravam na base do candeeiro a gás. Minha alma nostálgica acha isso a coisa mais linda do mundo, puro romantismo. Quebrei muitos dos candeeiros da minha avó quando era criança e levei surras homéricas por todas as mangas espatifadas. Não, quando eu nasci já havia luz elétrica, lógico, mas minha avó mantinha candeeiros em casa, para emergências. E eu, estabanada, quebrava vários.

Mas, se a alma é saudosa do tempo dos candeeiros (menos das surras, dessas não sinto falta), o corpo está muito bem plantado no presente. Somos dependentes de energia elétrica e de tudo o que ela proporciona: desde conservar a nossa comidinha contaminada de agrotóxicos na geladeira, até acessar o internet banking e movimentar o suado dinheirinho, que cada diz precisa mais ser virtual, porque em espécie o ladrão leva.

Não tenho a menor ideia do que vai ser de nós, pobres criaturas dependentes de tecnologia e energia elétrica, quando o planeta se exaurir e fizer “Kabuum”. Mas enquanto ele não explode de vez, o mínimo que esperamos das prestadoras de serviço, que cobram os olhos da cara, é que prestem seus serviços com o mínimo de competência.

Sete horas sem energia e sob o risco de algum equipamento (como o PC em que escrevo, por exemplo) fazer Kabuum antes do planeta e me deixar no prejuízo, não pode, dona Coelba!!

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