Filmes da Semana: Uma nova chance para Anne Rice

Entre os filmes que vi ultimamente, para botar minha eterna filmografia atrasada em dia (o descompasso é apenas do ponto de vista de quem não perde estreias), aproveitei e revi Entrevista com o vampiro. Dei uma nova chance para a Anne Rice, já que o filme é baseado em livro homônimo dessa autora que, justiça seja feita, anos antes da saga Crepúsculo virar febre teen, foi quem passou camadas de verniz pop nos clássicos sugadores de sangue. O mais bacana, sem perder o charme soturno e demoníaco à moda de Bram Stoker. Abaixo, listinha e comentários do que vi ultimamente…

E quem quiser saber realmente sobre cinema, com comentários especializados, entrou no ar nesta domingo o blog Ponto C de Cinema, do jornalista Adalberto Meireles. Inclusive, devidamente endossado pelo sempre mestre  de todos nós, André Setaro.

Legião, Scott Stewart, EUA, 2010 – Me interessei por causa do Paul Betany, um ator de quem gosto bastante. Nesse filme, ele vive um anjo rebelde que recusa-se a executar a ordem divina de destruir a humanidade. Apesar dos efeitos especiais e do talento do ator, é só mais um filme com motivação religiosa, muitos tiros e explosões. Nota 5 e nada mais a declarar.

Invictus, Clint Eastwood, EUA, 2010 – A vida de Nelson Mandela sempre rende histórias comoventes, tanto pelo drama do Apartheid e tudo o que ele passou na prisão, quanto pelo carisma do personagem. Mandela vivido por Morgan Freeman e uma parte da sua biografia contada por Clint Eastwood, para mim ao menos, é garantia de 100% de acerto. Vale destacar a atuação de Matt Damon e o fato de só Eastwood conseguir unir algo tão brutal quanto o rúgbi com uma mensagem de respeito ao outro, dotada de grande beleza. Nota 10, como tudo o que Clint faz. Ele é sim um dos meus diretores favoritos, sou totalmente passional para julgar seus filmes.

Entrevista com o vampiro, Neil Jordan, EUA, 1994 – Eu tinha uma certa cisma com esse filme. Quando foi lançado, em 1994, gostei, mas nem tanto, seria um dos filmes que chamo de “nota 7”, bom, mas não notável. Naquela época, Tom Cruise e Brad Pitt estavam no auge da “gatice” e as mocinhas correram ao cinema para suspirar pelos bofes. Antonio Banderas, igualmente sex simbol, recebeu críticas pesadas pelo seu vampiro Armand e ele está mesmo sem sal nem pimenta no papel. A aparição esporádica não ajuda, nem deu tempo dele seduzir a plateia. Mas, revi recentemente o filme, 17 anos depois, e me reconciliei com a Anne Rice, com  o Tom e o Brad Pitt. Ao contrário da lenda em torno da atuação dos dois protagonistas, eles estão bem como o amoral Lestat e o inseguro Louis (um vampiro bom moço). Para os padrões da época, a tensão sexual entre os dois está na medida e gerou cenas muito interessantes. A bronca da crítica especializada é com a comparação do Lestat do cinema com o literário. Mas, embora existam adaptações realmente sofríveis, é preciso ter em mente que cinema e literatura, embora artes irmãs, não são a mesma coisa, até por questão de espaço, tempo e linguagem. Creio que a injustiça com Entrevista… seja porque não tem como não associar qualquer vampiro do cinema nos anos 90 com o brilhante conde Drácula vivido por Gary Oldman. Mas é injusta a comparação, primeiro porque Copola é Copola e em segundo lugar porque Gary e Tom tem estilos de interpretação totalmente diferentes. Kirsten Dunst, novinha, salva muitas das cenas, em duetos muito bons com Tom Cruise. Aliás, gosto mais das cenas de Claudia com Lestat do que com Louis. Mudei a nota, agora o filme vale 8,5 e gostei bastante de ter revisto.

O mundo de Jack e Rose, Rebecca Miller, EUA, 2005 – O arredio e sempre sedutor Daniel Day-Lewis interpreta um ex-hippie que vive isolado com a única filha em um pântano e cria a menina longe dos valores classe média. Até que ele descobre que está para morrer e resolve casar de novo e apresentar a civilização à filha… O filme é um pequeno idílio com um toque shakespeareano, tem uma trilha sonora maravilhosa (muito blues) e atuações ótimas e na medida por parte de todo o elenco. É um filme que não entrou no circuitão, faz mais a linha alternativa. Até pela presença de Paul Dano, sempre perfeito em papeis de garotos desajustados, o filme é uma espécie de Little Miss Sunshine mais amargurado, com conflitos familiares intensos e aquele sentimento de inadequação típico dos que tentam fugir do american way of life. Nota 8,5 também.

Um olhar do paraíso, Peter Jackson, Nova Zelândia/EUA/Reino Unido, 2009 – O diretor da bombástica saga O Senhor dos Aneis e do igualmente remake blockbuster do clássico King Kong da década de 30, pratica a contenção nesse drama familiar ambientado nos anos 70, que mostra o drama de pais que perdem filhos jovens, vitimados pela violência gratuita. O filme é narrado por uma garota de 14 anos, do além túmulo, após ter sido sequestrada, estuprada e morta brutalmente por um pedófilo psicopata. Isso não é spoiler gente, até porque, a identidade do assassino todo mundo conhece desde o começo da trama, bem como seus crimes. A ideia aqui não é desmascarar um criminoso, caçadas policiais e outras coisas do gênero. O foco é na dor dos que ficam e a ideia é mostrar que existe um lado de lá, diria até que convencer os mais céticos da existência de uma vida após a morte. A menina morta gravita em um limbo, angustiada por querer mostrar aos pais que ainda existe e nutrindo sentimentos de vingança contra seu assassino, que continua calmamente vivendo na vizinhança onde moram seus pais e suas irmãs. A abordagem é totalmente espiritualizada e para quem gosta do tema, o filme vai comover com toda certeza. Para o público mais crítico – e mais cético – a história soa ingênua e poética demais, derrapando para a pieguice com facilidade. A fotografia, por sua vez, é linda e bastante onírica, sem contar no carisma da jovem narradora da história. Nota 7 pelo conjunto.

O mundo imaginário do Dr. Parnassus, Terry Gilliam, Canadá/França/Inglaterra, 2009 – Talvez por ter crescido com as imagens do fantástico As sete faces do Dr. Lao (1964, George Pal), que passava muito na sessão da tarde dos anos 80 e que já revi em DVD (tenho uma relação afetiva com esse filme tanto quanto com Tom Tumb, 1958, também de Pal); e talvez ainda por ser o último filme de Heath Leadger, inclusive ele morreu durante as filmagens, em 2008, assisti esse com muita expectativa. É bacana, mas não é inesquecível, ainda prefiro o Dr. Lao. A sensação que eu tive é que Terry Gilliam (um cineasta de filmografia irregular e até meio controversa) quis fazer uma mistura do carisma do já citado Dr. Lao com uma atmosfera no melhor estilo de David Linch (em Império dos Sonhos), mas não teve êxito, mesmo!  “Não é um filme para agradar todo mundo”, diz a crítica especializada que tenta justificar mais esse fracasso de Gilliam. Mas, para mim, é bonitinho e vai apenas para a lista dos “filmes nota 7”. Pode ser que algum dia o reabilite, como fiz com Entrevista com o vampiro. Mas pode ser que não.

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