A foto foi tirada do blog Cupcake de fubá
“A primeira coisa que se aprende na guerra, ou pelo menos uma das primeiras com que construí meu infantil aprendizado de sobrevivência, é substituir. Quando alguma coisa que antes considerávamos insubstituível começa a faltar, coloca-se outra em seu lugar, que passa a ser insubstituível até ser, por sua vez, substituída. Agradece-se aos céus existir a outra. E no lugar da palavra insubstituível põe-se desejável.
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Usava-se a falsa lã vegetal, que pouco aquecia, porque a lã verdadeira era toda requisitada para confecção dos uniformes militares. À população civil, além das giestas, restavam os coelhos. Não creio que necessidade possa ser considerada moda, mas o fato é que logo todos estavam usando suéteres de angorá, que apesar de quente, leve e macia, segue largando pelo vida afora. Meias de seda não havia mais…Então, quando queriam estar mais elegantes, as mulheres passavam maquiagem escura nas pernas e alguém, muitas vezes o marido, desenhava atrás a “costura” com lápis de sobrancelha. Vantagem dessas meias falsas era não desfiar.
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Faltando tecidos, foram proibidos vestidos longos, caudas em vestidos de noiva, coletes, e recomendou-se aos homens evitar o jaquetão. Mas a necessidade da moda subsistia. Os jornais traziam modelos de abrigos chiques feitos com velhos cobertores, e os turbantes de lenços, que antes haviam sido apenas uma variante eventual, tornaram-se necessariamente elegantes por falta de chapéus.”
(Marina Colasanti, em Minha guerra alheia, p.p 84,85, 86, Ed. Record, RJ-SP, 2010)
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