Outro dia conversava com uma amiga dez anos mais nova que eu. Ainda não tem 30 anos e está naquela fase em que as opiniões são intensas. Essa época da vida é danada de boa, a gente pensa que pode tudo, que nossas convicções são as únicas que valem. Quando o assunto é relacionamento afetivo então, antes dos 30 nos achamos todos experts. Não que algumas pessoas realmente não sejam, a maturidade não tem relação com a idade cronológica, mas na maioria dos casos, ser mais velho ajuda a ter uma perspectiva diferente das coisas. Falo por mim, que aos 17, 27 e, agora, beirando os 37, daqui há menos de um mês eu chego lá, perdi a conta das vezes em que mudei um modo “radical” de pensar porque com o passar dos anos o foco muda e as ideias mudam junto. Mas também é verdade que, com o mesmo passar dos anos, algumas opiniões tendem a endurecer ao invés de pegar o caminho da contemporização. Ser humano é ser luz e sombra ao mesmo tempo, já até falei disso algumas vezes. Gosto dessa metáfora.
O papo com a minha jovem amiga era sobre “dar bandeira”, mostrar para um determinado carinha que você está interessada nele. Na opinião dela, mulher que “dá bandeira” se humilha porque “homem é tudo igual e sempre se faz de difícil, fica se sentindo o tal quando percebe que uma mulher está interessada”. Discordei. Porque acho a colocação meio machista. Para mim, essa visão tira da mulher o poder sobre os próprios sentimentos e delega essa responsabilidade apenas para o homem. Ela pode até gostar dele, mas não dirá, ficará como a Julieta na sacada, esperando a ficha de Romeu cair. Comigo não combina, mas pode dar certo com outras mulheres.
É que para mim, revelar um sentimento bom por alguém não é bem a ideia que faço de humilhação. Humilhante para mim é perder a chance de conquistar o objeto amado por orgulho de não revelar o que se está sentindo, ou por medo de ser julgada. E a gente sabe que o pensamento machista ainda em voga (em homens e em mulheres também), costuma julgar sem pena as mulheres que optam pelo caminho árduo da independência emocional. Já ouvi coisas do tipo: “mulher que toma iniciativa, ih não presta!”; ou ainda: “homem tem medo de mulher que se declara”; e essa também: “o homem gosta é de conquistar e não de ser conquistado”. Estereótipos, o mundo está cheio deles. O que não significa que não existam homens e mulheres que se encaixam no rótulo. Existem, sabemos. Para alguns é sempre mais fácil usar uma roupa já pronta e etiquetada. Criar o próprio modelo dá sempre um tantinho mais de trabalho.
Pessoalmente, já dei bandeira na vida, tanto de forma sutil, até poética, quanto de maneira clara, objetiva e direta: “olha, eu gosto de você”, assim, na lata. Paciência se a pessoa não estava na mesma sintonia, mas eu tirei o peso do meu coração, disse ou insinuei de modo bem claro o que sentia. Pronto! Agora, lógico, ninguém é obrigado a retribuir o amor de outra pessoa. Mas nesse caso, eu sempre encaro assim: quem perde, como diz a letra belíssima de Caetano Veloso é quem “pega um amor assim delicado e despreza”. Porque na minha visão de mundo e por experiência própria, ao revelar meus sentimentos para alguém, mesmo quando dei com os burros n´água, nunca me senti perdedora ou humilhada, porque eu tentei. E tentar é o máximo que posso fazer para que as coisas na minha vida deem certo. Cair do céu, já deu para ver, não cai nada, só as intempéries de sempre (chuva, granizo, um raio aqui e outro lá).
Desde novos somos ensinados a correr atrás dos nossos sonhos, dos nossos desejos, respeitando os outros, óbvio, senão vira coerção. Pelo menos a ideia é que a gente seja ensinado a lutar pelo que queremos, mas sem passar por cima dos nossos semelhantes. Então, a medida daquilo que é uma luta justa pela felicidade e daquilo que é “humilhação” só a pessoa é quem vai saber. Pode ser que na cabeça de uma mulher – ou de um homem, porque eles também são esnobados – apaixonada (o), enviar poemas e rosas toda semana seja uma forma de quebrar resistências. Já para outra pessoa, só o simples fato de ficar com as bochechas coradas quando o objeto amado chega perto, pode ser o maior mico, como diria o meu filho adolescente. Felizmente, não penso assim, ou estaria com a autoestima no subsolo, já que sou do tipo que fica vermelha por qualquer coisinha. Já os poemas, ora, eu tenho a liberdade de enviá-los e o destinatário tem todo o direito de botar na caixa de spam. É a vida. O fato de alguém insistir também pode ser inconveniente para o alvo da insistência. Quem nunca tentou se livrar de um (a) mala que ficava o tempo todo tentando a sorte, que levante a mão! É, meus caros, já fui recusada sem cerimônias, mas também já dei uma boa quantidade de passa fora.
Mas, a questão é que delicadeza, para mim, mesmo quando desprezada, nunca é em vão e amar é tão bom, que mesmo sendo “ridículas”, como diz o poeta, as cartas (ou e-mails, ou twittadas, ou facebokadas…) de amor sempre valem a pena, com toda a melosidade e pieguice que as acompanha. Servem para mostrar que no nosso peito ainda bate um coraçãozinho quente e pronto para aninhar-se com um companheiro (a). Às vezes machuca, e como! Sei que dói para caramba ser rejeitado. Quem é que gosta!? Não lidamos bem com a rejeição. A dor de cotovelo é chatinha, fica lá martelando e não tem “amiga neusa” que cure num estalar de dedos, como no comercial da TV. Mas com certeza, nos dias de hoje ao menos, de amor ninguém mais morre. Mas da falta dele…