Monique não dorme antes de atualizar o diário. Mas só o faz depois que todos em casa ressonam tranquilos em suas camas. A hora em suspensão, quando a noite se perde em si mesma, depois da meia-noite, antes das três da madrugada, é o seu momento de vagar pela casa, sozinha e em silêncio. Existe uma magia nesse horário, como se para atualizar o grande caderno de capa vermelha, fosse necessário esperar o resto da família entrar em sono REM. Nenhum outro horário é tão seu quanto este, em nenhuma outra hora do dia o caderno se abre tão ávido, e manso, aos seus anseios, medos e revoltas, talvez por timidez, do caderno ou quem sabe, das palavras. (…)
Hoje ela escreveu: “Um dia de decisões impulsivas que podem render um futuro promissor ou não, mas o risco, de alguma forma, terá de ser corrido. Emocionalmente, decidi esperar não por você, especificamente, mas pelo destino. Sempre fica a esperança de que um e outro sejam a mesma coisa, mas não fica mais a expectativa. Nem todas as mulheres precisam cumprir o destino de Penélope.”
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