“Se eu ganhar na Mega-Sena quero uma pilha igual àquela!” – aponta o motorista. A repórter segue com o olhar a direção do dedo em riste, como um perdigueiro com o nariz levantado, farejando a caça. “Que pilha?!” – pergunta, achando que havia entendido errado. “Aquela ali, quero subir de escada para pegar as latinhas”, – continua o motorista.
A moça ri e divertida, comenta: “Entrará em coma alcoólico antes de conseguir chegar à metade da pilha!”. O motorista faz um muxoxo e começa a relembrar histórias de resistência etílica dignas do Guinness.
As latas de cerveja, escoradas do lado esquerdo às bombas de combustível, embaixo do toldo do boteco que serve maniçoba nas noites de quinta-feira, lembra o Empire States de tão alta. “Só espero que não desmorone como as Torres Gêmeas”, devaneia a repórter, entregue ao riso dos colegas de trabalho, que no banco de trás do carro, se deliciam com as aventuras do motorista.
O veículo, abastecido de um tipo de álcool que condutores não bebem, segue viagem. “Você tem filhos?” – pergunta alguém, em determinado trecho da conversa. “Tenho não, se tivesse vendia ali no aeroporto para uns gringos”. A repórter não resiste e pergunta: “E beberia a criança?” Uma colega, no banco de trás – era a hora do “leva”, quando os funcionários do jornal são apinhados em grupos de quatro pessoas nos carros que durante o dia servem à reportagem, para serem deixados em casa -, pisca e balança a cabeça, sem entender o que a outra quis dizer: “Como assim bebe a criança, ele é vampiro!?”.
A repórter ri uma gargalhada alta, sua característica mais marcante e suspira (oh, Senhor! Mais uma da geração Twilight!), responde didaticamente: “Não, anjo. Se ele quer torrar um prêmio de Mega-Sena inteiro numa pilha de cerveja, imagino que com o dinheiro da venda do guri para os gringos vá usar a grana para também comprar cervejas.” – A outra ri e exclama “Ah, entendi!” Depois, abre um sorriso ainda mais largo de “a ficha caiu” e o riso transforma-se em gargalhada.
O motorista, que havia entendido a piada, embora não saiba muito bem como é que a repórter – declaradamente abstêmia – conhece piadinhas de boteco, responde sem pestanejar: “Claro, ué! Bebia esse e voltava para casa, bêbado, para fazer outro”…
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