Será que o destino de todas as mulheres é a espera eterna? Perguntei ao sair do shopping center e me deparar com uma fila de penélopes tecendo o destino na entrada principal. “Está esperando quem?” – quis saber. “Meu marido”. “Meu noivo”. “Meu irmão”. “Meu pai”. “Um amigo”… Todas esperavam um homem. Uma delas comia pipoca com a displicência dos sem pressa, duas conversavam amenidades para matar o tempo, uma terceira parecia triste, talvez só cansada. Vi uma que fazia tricô, de pé, recostada à jardineira. Um ponto, uma laçada, a verdadeira Penélope da Odisséia, cosendo a mortalha de dia, para desfazer o trabalho à noite; enquanto Ulisses, de motocicleta, carro, bike ou “buzú” (em bom baianês), atravessa meia Salvador para resgatá-la da solidão. Divaguei no destino das moças e por uma fração de segundo, quis ficar ali, tecendo o destino com elas, voyer dos seus encontros. Viriam todos os maridos, noivos, irmãos, pais e amigos? Alguma ficaria para trás? Seria testemunha da dor do abandono? Já fui esquecida na escola, tinha quatro anos, por uma tia sempre atarefada… Decidi não invadir o momento privado das moças. Seu abandono, ou o abraço de saudade, a bronca pelo atraso, o frio selinho dos que já não vivem como apenas um, os pequenos dramas e a satisfação de ser a primeira resgatada pertenciam às suas odisseias diárias. Não tinha o direito de assistir. Pus o destino na bolsa, ajeitei-a nos ombros e fui embora. Em casa, alguém à minha espera…
Oi, Andrea! Tempinho que não dou as caras por aqui, mas eis que retorno. O ser humano e suas eternas buscas, esperas, expectativas, né? No fundo, me parece mesmo que estamos sempre esperando alguém, sei lá…
É verdade, Fernando. Ou então deixamos alguém a nossa espera, rsrsrs. Você é sempre bem-vindo!
Abraços