“Hoje é domingo!” – fragmentos de um dia

“Vai tangerina aí, dona?” Respondo que não, obrigada. “Olha o  CD e  o DVD para o dia das criançaaaaas” Mas é pirata, moço! Vencendo corrida de obstáculos, vou desviando dos vendedores ambulantes na praça Nilton Rique, em frente ao Shopping Iguatemi de Salvador. Tomo cuidado para não pisar na lona onde espalham-se as sandálias plásticas hit do verão 2011. “Olha a bolsa, olha a bolsa, são as últimas, é R$ 5 pra acabar”. Mas ontem também não era R$ 5 e tava acabando? Do outro lado da rua, não posso evitar o riso. Cinco ou seis moleques pouco mais velhos que meu filho, perucas rosa chiclete e verde neon, estrela vermelha no peito, se equilibram em pernas de pau e gritam o nome de um candidato que rima – ironicamente? – com “dinheiro, dinheiro, dinheiro”. Penso no cartaz grande, as letras piscando, garrafais: o circo chegou! Apresentações gratuitas, (fora o dinheiro do transporte) no dia 03 de outubro. Haverá palhaços, mágicos e ilusionistas dos reinos de esquerda, direita e de cima do muro. Traga a pipoca, mas desligue o celular. Ainda não confirmada se haverá segunda apresentação no dia 31…

O trajeto de casa é o mesmo de todo dia, mas sempre há novidade!

Decidi que não tocaria o interfone, tirei a chave, vou fazer surpresinha. Beijo na cabeça suada do filho (será que lavou o cabelo ou só jogou uma água mentirosa e largou as marcas de sujeira na toalha de banho? Santa adolescência, Batman!). Beijo no cabelinho grisalho de mamãe. Ela me conta: “Liguei para sua avó hoje, está broquinha. Perguntei como estava, disse que ia bem. Perguntei pelos meninos (meus tios, todos com mais de 55), contou que estavam lá com ela (detalhe: moram fora da Bahia desde antes de eu nascer). Também né, filha, 95 anos. Me disse que hoje era domingo e quando eu corrigi e disse que era sexta, ela emendou que podia ser aqui, mas na casa dela era diferente!”

“Tomara, meu Deus, tomara”, que eu também chegue aos 95 com o poder de transformar os dias em eterno domingo…