Não gosto de discutir sobre dinheiro. É fato.
Outro dia, debatendo uma questão importante com uma amiga, fiz a revelação: não gosto, na verdade abomino, as discussões sobre dinheiro. Acho tremendamente mesquinho ficar debatendo item por item quem paga o quê, quem vai dar mais ou menos. Gosto de confiar nas pessoas – não, estou longe de ser uma moça ingênua, sei bem como é a humanidade -. Mas gosto de estabelecer relações de confiança. Não é que despreze os contratos, de forma nenhuma, já vai longe o tempo em que as parcerias e sociedades eram feitas na base do fio de bigode e do aperto de mão. Hoje em dia tudo tem de ser acordado, assinado, jurado e sacramentado, letras pretas no papel branco, sublinhados vermelhos. A confiança passa por uma folha de papel lavrada em cartório. Mas acredito, de verdade mesmo, que discutir dinheiro em demasia é o primeiro passo para aniquilar uma relação. Seja entre casal ou amigos. Não é a toa que querelas envolvendo inventários lotam as audiências das varas de conciliação. Isso depois da partilha dos bens daquele parente rico ter jogado no ralo o respeito entre pais e filhos, o amor entre irmãos, a cumplicidade dos primos, um horror!
No caso específico dos casais, já vivi situações desagradáveis. Tive um namorado que era do tipo que fazia questão de dividir até o valor de uma garrafinha de água mineral. Já tive um também com vocação para coronel de livro de Jorge Amado. Acontece que eu nunca tive vocação para “teúda e manteúda” de ninguém. Muito menos, gosto de me desgastar contando os centavos da garrafinha de água. Resultado: onde não tem equilíbrio, sobra mágoa. Acabaram-se os namoros.
Também já presenciei cenas desagradáveis em restaurantes. Do tipo em que o casal começa cochichando baixinho e termina aos berros, todo mundo olhando, aquele mico. E, lógico, sei bem que tem homem que se aproveita das chamadas “mulheres independentes” e vão empurrando as contas para ela pagar. Quando dá por si, ela está com o nome no SPC e ele trocou o carro. Calma, meninos, o contrário também ocorre!
A questão é que discutir sobre dinheiro é necessário. Não disse que não era necessário, só continuo não gostando. Também detesto ir ao ginecologista, por exemplo, mas é preciso fazer o preventivo uma vez por ano, não é mesmo? A discussão precisará existir, em algum momento. O nível dela é que terá de ser acordado também, desde o início, antes de virar desgaste ou de terminar em cena de novela das oito, com mesa de restaurante sendo virada de ponta cabeça por marido ou namorado nervoso (agora vocês vão ter de admitir meninos, é raro uma mulher virar uma mesa. Elas geralmente puxam a toalha e deixam a prataria toda estatelar no chão).
Aprendi com a experiência que a discussão excessiva sobre quem paga o quê mata o amor – ou a amizade – com um tiro certeiro no meio do coração. Mas deixar de discutir, se calar diante da atitude do parceiro – ou parceira – também provoca a morte lenta, por definhamento. Essa aí é terrível.
O certo mesmo é negociar a questão. Tem jeito não, gente, tudo na vida envolve negociação. As regras precisam estar claras desde o começo e espera-se que cada uma das partes as cumpra com respeito, para não gerar a desigualdade que leva ao desgaste e alimenta a desconfiança.
PARA AJUDAR NA DISCUSSÃO:
ATÉ QUE O DINHEIRO NOS SEPARE
Com base em pesquisa, terapeuta apresenta as problemáticas econômicas na vida a dois e ensina como administrar as finanças com base em diálogos entre casais, fonte de suas análises. No livro “Até que o dinheiro nos separe”, a autora, Cleide M. Bartholi Guimarães, mestre em Psicologia Clínica e especialista em Terapia da Família e de Casais pela PUC-SP, traz um guia de finanças para casais, que mostra como começar, do jeito certo, a administrar o dinheiro na vida a dois. Para que casamento, namoro, rolo ou paquera dê certo, é preciso que ambos se sintam bem, no coração e no bolso.
Editora Saraiva
192 páginas,
R$ 31,00