De longe, parece que o homem carrega um travesseiro pela rua, em pleno sábado de manhã, caminha pela calçada onde ficam a padaria e o supermercado, um prédio ao lado do outro, como irmãos. É como se, ao acordar, lembrasse do pão e da vontade de ficar na cama, as duas coisas ao mesmo tempo. Mas não veste pijamas. Traja o uniforme típico dos dias de folga: bermuda cargo, camiseta, boné, tênis e meias de cano curto, brancas. Mas carrega um travesseiro, que tem pernas!
Tem mesmo uma perninha saindo daquele travesseiro? Tem. É um bebê. Minúsculo, todo embrulhado. Mas dá para ver a carinha de joelho. Não entendo porque bebês pequenos nascem com cara enrugada. Se são tão novos, deviam ter pele lisinha. Parecem sempre cães sharpeis nessa idade (os primeiros 45 dias), como se vestissem uma pele muito maior que eles mesmos.
Acomodado sobre o travesseiro, que o pai carrega como uma oferenda, o bebê viaja indiferente ao mundo ao seu redor. Não dá para ver se é menino ou menina. Mas a caminha improvisada parece macia e os tênis do pai, reparei, são do tipo que amortecem o impacto.
A mãe é uma moça que vem logo atrás. Carrega uma bolsa de bebê e uma bolsa de mulher. A roupa folgada disfarça o inchaço do primeiro mês pós-parto. Dá para ver a alça do sutiã de amamentação sobressaindo por baixo da alça do vestido indiano cor salmão que usa, combinado com sandália rasteirinha de tiras largas.
O pai entra no supermercado carregando seu precioso travesseiro. A mãe pega o carrinho de compras e o empurra porta adentro…
…Meia hora depois, nada do meu ônibus passar. O casal retorna, carrinho agora cheio. O pai segura o bebê-travesseiro com apenas uma mão, com a outra empurra as compras. A mãe vai à frente, desta vez, para abrir o carro, parado 100 metros distante. Abre a mala e some do meu campo de visão. O pai, ainda equilibrando o seu bebê-travesseiro, embaixo do braço (agora parece uma baguete de espuma com recheio de criança), retira os sacos do carrinho e vai passando para a mulher, ainda sumida por detrás do porta-malas aberto. Um, dois, três…paro de contar os sacos. É falta de educação olhar as compras dos outros!
Terminam a operação. A mãe empurra o carrinho pela calçada e o devolve ao estacionamento do supermercado. Volta para o carro, pega o travesseiro das mãos do pai, aspira o cheiro de caramelo misturado com leite de peito coalhado e alfazema (o meu bebê, ao menos, cheirava assim nessa idade). O pai faz o veículo deslizar macio pela rua, passam por mim e eu sorrio. Bendigo o dia e a demora do ônibus, que me fizeram testemunha de uma cena tão delicada, logo no começo do dia…
O sábado prometia ser bom!
Andreia,
Nunca paro para ficar lendo texto no computador, mas seu texto
caminhou macio como os passos daquele pai.
Parabens!!!!!!!!!!!
Obrigada, Cirleia. Seu comentário me deixa honrada :)
Ah, Andreia, amei esse texto. Que delícia esse bebê! Abraços!
Oi Mária, obrigada :)