Mãe de adolescente é diferente de mãe de guri

Outro dia entabulei uma conversa com uma conhecida, mãe de um adolescente, sobre a juventude atual e os desafios para ensinar alguma coisa que preste a um filho nesses nossos tempos bicudos. Fiquei pensando na conversa e, inspirada pelo fato de que meu filho fez 13 anos esta semana e entrou, oficialmente, para a faixa dos teens, me dei conta de que agora, também oficialmente, sou a mãe de um adolescente! E como pulga atrás de orelha de mulher precisa ser compartilhada com outras mulheres, olha eu aqui no blog discutindo minhas descobertas de mãe caloura de adolescente com vocês!

A verdade, caso tenha outra mãe na mesma situação acessando o blog neste momento, é que a relação muda, não tenham dúvida. E, segundo a psicóloga Elizabeth Monteiro, autora do livro que indico no fim dessas minhas divagações, até o amor entre pais e filhos muda com o tempo e com o crescimento deles. Constato isso na prática. Embora eu seja do tipo que lambe a cria e adora dar beijos, abraços, colinho – tenho a necessidade de demonstrações físicas de afeto com aquelas pessoas que de fato ganham o meu afeto -, aos poucos a mudança, nesse último ano de transição entre o fim da infância e a chegada à casa dos 13, foi moldando uma nova forma de interação entre mim e o meu “neo adolescente”. Beijos e abraços em público, por exemplo, já precisam de um certo grau de “controle anti micos”, embora em casa eu tenha de arranjar força extra nas pernas para suportar o peso de um garoto da minha altura (1,70 m) pulando no meu colo!

Personagens da série iCarly, do canal Nickelodeon. Três adolescentes de 13 anos mantêm um web show

Mas, reparem bem, se tiver visita por perto, nada de agarramentos. Mesmo ao telefone, me assusto com uma voz meio grossa me chamando de “mãe”, ao invés da vozinha doce de guri que até pouco tempo atrás era “mamãe, posso fazer isso ou aquilo?” Uma amiga minha, que o conhece desde a fase dos cachos dourados de anjinho barroco, ligou para ele no aniversário e imagino a frustração dela ao ouvi-lo monossilábico do outro lado da linha. Tem explicação: até comigo a conversa agora é bem objetiva via telefone, nada de ficar se derretendo. Se eu digo, numa viagem, por exemplo, “filho, tou com saudades”, imediatamente ele me joga um balde de água gelada: “ainda não tive tempo de sentir saudades”. Assim mesmo, impiedoso.

Significa que meu filho não me ama mais? De jeito nenhum. É só que, como era de se esperar e em muitos momentos eu até incentivei, eu não sou mais o centro da vida do meu filho. Ele agora é uma pessoa e não um projeto que eu mantinha aconchegado no regaço. A fase do cordão umbilical foi superada e ele tenta entender-se como pessoa, firmar-se, abrir seu espaço no mundo. Ele já reparou que os adultos são carinhosos uns com os outros, mas apenas na intimidade; que em público, todo mundo se comporta de forma mais contida e que demonstrações físicas de afeto não é para todo tipo de amizade, que há amigos e amigos. Já reparou também que o tom de conversa entre os adultos é mais sóbrio e não cheio de “inhos”, “zinhos” e “uchos”, como quando falamos com eles quando são pequenos. Só que, ao mesmo tempo, esse rapazinho ainda não se sente pronto para encarar o mundo das pessoas grandes, porque de vez em quando, o guri dentro dele se manifesta com a empolgação por um jogo, o riso solto e sonoro ao ver uma animação divertida na TV. Nessas derrapadas, na sequência há um se emendar e uma olhada para os lados para ver se alguém flagrou a “criancice” e o retorno até meio carrancudo à atitude de “rapaz crescido”.

Cena da série Zoey 101, do canal fechado Nickelodeon. Mostra as aventuras vividas por um grupo de adolescentes num colégio interno

É fato que ele está em conflito consigo mesmo e com as relações com o mundo ao redor e vai precisar de muita ajuda, apoio e compreensão para que essa “adultice” se firme, mas sem tirar-lhe a graça, a jovialidade e a ludicidade (que recomendo que todo adulto preserve até o fim da vida). Mas também, para que não se torne um “adultescente” (que cá para nós, é bem ridículo!). Ou seja, nessa fase, nossos filhos precisam de ajuda para encontrar um eixo sobre o qual solidificar o que ensinamos para eles desde pequenos. E é aí que o poder do exemplo e das palavras combinados se faz cada vez mais necessário.

Hoje em dia, além da nossa influência, os adolescentes estão sujeitos a centenas de outras influências, algumas boas, outras péssimas. E como o filtro deles não funciona muito bem ainda, têm umas recaídas de ingenuidade de guri e uma certa tendência kamikaze de se jogar nas coisas para ver “qual é”; o nosso filtro de pais e mães é que vai precisar estar duplamente funcionando. É radar mesmo, GPS mental, mas com espaço para deixar essa turma crescer com as próprias pernas. Criar na redoma só vai torná-los alvo fácil às influências ruins. Quando a Elizabeth Monteiro diz que a relação muda, entendo que é porque de agora em diante, a obediência a uma regra virá depois da negociação. Se uma criança obedece porque os pais estão 100% certos sempre, um adolescente questiona, justamente porque já possuem capacidade suficiente de entender que nós não somos deuses, somos tão humanos quanto eles, e tentamos acertar igualmente.

Elenco de O manual do Ned, série do canal fechado Nickelodeon. O adolescente Ned dá dicas de “sobrevivência” na escola

Mas, e como manter a hierarquia diante de um filho se ele descobre as nossas fragilidades? Comigo funciona na base da conversa e do convite para aprendermos juntos. Isso não significa que não aconteçam os episódios clássicos das broncas mais enfáticas e até um “você está de castigo, sem acessar o PC pelos próximos dois meses!” Afinal, embora exista uma amizade, cumplicidade, confiança e até uma certa “brodagem” entre nós dois, na maioria das vezes, o meu filho – e os adolescentes em geral – quer mesmo é limite. E é nessas horas que nós temos de demonstrar quem é que está no comando do barco. Sem impor ditadura, mas com um certo endurecimento de coração, demonstrando por que não pode isso ou por que tem de ser de tal maneira e não da forma como ele quer.

Ensinar maturidade requer amadurecimento pessoal e todos nós estamos sempre amadurecendo. Também damos nossas escorregadelas, apanhamos aqui e ali, levantamos acolá, surtamos um pouquinho e depois, tapinha nas bochechas, retomamos o eixo e seguimos em frente. Somos humanos antes de sermos pais e mães, mas por sermos pais e mães, temos obrigação de nos tornarmos humanos melhores.

Com o passar dos anos, perdemos, sim, o posto de sol na vida dos nossos filhos, mas um farol e um porto seguro para eles, seremos para sempre.

Dica de leitura:

Criando adolescentes em tempos difíceis

Numa época em que reina a falta de limites e os jovens são vistos como irresponsáveis, o diálogo entre pais e filhos é fundamental. Para a psicóloga Elizabeth Monteiro, nunca foi tão importante dar exemplos. No livro Criando adolescentes em tempos difíceis, ela revela que o jovem precisa de modelos seguros para enfrentar a árdua etapa da adolescência. Já os pais devem parar de estigmatizar os filhos, oferecendo-lhes a oportunidade de mostrar seu valor. Baseada em sua experiência como psicóloga, psicopedagoga e mãe, a autora fala da necessidade de proteger os adolescentes de ameaças como as drogas e, ao mesmo tempo, incentivar a autonomia deles. O livro é resultado de um trabalho que durou seis anos. Nesse período, ela colheu experiências em seu consultório e observou, em diferentes lugares e momentos, o comportamento de pais e adolescentes. Sem fórmulas mágicas e com uma linguagem leve, a autora estabelece um diálogo com pais e educadores, abordando temas como sexualidade, irmãos, amizades, aprendizagem, futuro profissional e distúrbios físicos e psicológicos comuns na puberdade.

Criando adolescentes em tempos difíceis
Elizabeth Monteiro
Editora Summus Editorial (www.summus.com.br)
R$ 39,10
176 páginas
Atendimento ao consumidor: 11-3865-9890

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