Enredada em mais uma rede…

Não dispenso comunicação presencial, o bom e velho contato “olho no olho”. Pelo msn ou pelo scrap no orkut e/ou facebook não dá para perceber sutilezas como o tom de voz, por exemplo, ou as expressões que traem as emoções mais escondidinhas. Tenho amigos que me vêem teclando no msn e que dizem que minha expressão facial muda conforme o “tom” da conversa. Tem gente que acha divertido me ver fazer “caras e bocas” na frente do PC. Deve ser o ranço da migração digital. Não é fácil ter nascido em um mundo analógico, mas que se digitalizou em questão de uma década. Deixa sequelas. Daí eu considerar o msn, por exemplo, como “a arte de entender tudo errado”. Que atire a primeira pedra quem nunca viveu um mal-entendido virtual, que depois acabou tornando-se saia justa física e palpável. As palavras são para se ter cuidado, bem dizia o mestre Saramago.

Mas, é inegável a necessidade de conexão. Enredar-se nas redes, porque são muitas, é questão de sobrevivência na nossa “über moderna sociedade”, ainda mais para um jornalista. No fim das contas, a gente acaba gostando também. Minha nova incursão é o Linkedin, rede social de profissionais de áreas diversas, que se unem por interesses de mercado e acadêmicos. É coisa de adulto, não é para ficar postando as fotos do churrasco na casa da tia, como ocorre no cada dia mais adolescente orkut, por exemplo. Não tenho nada contra o orkut, lógico, eu uso. Como tudo na vida, não é a coisa em si, mas o uso que dela fazemos que vai ditar o que somos e queremos de fato. E sabend0 fazer bom uso, o orkut é mais uma ferramenta, como tantas outras no grande cardápio virtual. Tem coisas boas e coisas ruins lá dentro, tal qual aqui fora. Cest la vie!

Uns amigos que já se enredaram nessa rede viviam me soprando, “entra também!”. Uma reportagem publicada neste domingo na Revista Muito foi o incentivo que faltava.  Agora estou lá também.

Uma coisa interessante me chamou a atenção na reportagem, a advertência de que não adianta ter um perfil exemplar numa rede profissional como o Linkedin e enfiar o pé na jaca no Orkut. Concordo e vou mais longe, o nome disso é coerência. Fazer bom uso de uma rede, não importa qual, é questão de princípios. É você levar para dentro da internet o mesmo comportamento “bacana” que se esforça, que todos nos esforçamos, uns mais, outros menos, para ter aqui fora da web. Os  comportamentos bacanas são a base de sustentação da civilização, porque se cada um fizer o que sua natureza selvagem (somos bichos falantes) dita, aí vira barbárie. É o velho ditado do tempo de vovó: “fazer aos outros o que queremos que façam com a gente”. Simples assim!

Uma diferença que a minha geração pós balzaca de migrantes digitais tem em relação a turminha dos 20 e poucos anos é que, podemos ser menos ágeis no uso de tantas ferramentas simultâneas, mas tivemos educação presente em casa. Isso faz toda diferença na hora de fazer “bom uso” da internet. Mesmo com mães ocupadas nos empregos, conquistando seu lugar ao sol (muito merecido claro!), ou com pais divorciados, recasados e afins, sempre havia uma assistência, um interesse de alguns ou algum membro da família. Havia os avós, para legar seus ditados que no fundo, no fundo, são uma espécie de sabedoria milenar da humanidade.

A turma dos vinte e poucos (com exceções, pelo amor de Deus! exceções sempre existem) perdeu um pouco isso e cresceu, a maioria ao menos, à toa no mundo. Nasceu cercada de tecnologia, de possibilidades, mas não tinha quem ensinasse o básico, o respeito a si mesmo e ao outro. A lógica egoísta do mercado transformou os pais e mães da década de 90 (com exceções, mais uma vez) em autômatos frustrados, cansados demais e que legaram à escola e à televisão o papel de educadores. Deu no que deu.

Retomar essa assistência à educação dos filhos é algo que os pais da minha geração, com crianças na faixa dos 12, tentam resgatar – lutam para resgatar – e quem sabe, legar para os nativos digitais da segunda geração alguns valores esquecidos. Quem sabe, com esforço, essa turminha que vai suceder  a galera do “vale tudo” de agora, tenha mais consciência virtual. Outro dia, numa palestra, ouvi uma especialista em direito digital dizer que não adianta dar a tecnologia sem dar a educação para usá-la. É fato e torço para que em reportagens futuras, sobre redes que surgirão após a Linkedin, essa óbvia advertência do “cuidado com o que você posta na internet”, não precise mais ser dita, porque será absorvida por osmose. Amém!

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