Diga aí, meu primo!

“Numa audiência em que Luiz Gama, como advogado, teve necessidade de ouvir o brigadeiro Carneiro Leão, homem que gostava de se referir com visível prazer à sua aristocrática ascendência, e que fazia sempre que calhava, e mesmo quando não calhava, alusões ao seu brazão (sic), o negro interrompeu o depoente para esclarecer um ponto, da seguinte forma:

– Então, o primo afirma que viu…

– Quem é o primo? – indagou o brigadeiro, estupefato com aquela falta de respeito.

– o senhor, naturalmente – insistiu Gama.

– Mas primo de quem?

– Ora, meu, de certo.

– Seu primo? – explodiu o fidalgo num assumo de cólera. – Mas baseado em que parentesco?

– Homessa! – concluiu o risonho advogado. – Eu sempre ouvi dizer que bode* e carneiro são parentes. E parentes chegados.”

*Bode – termo pejorativo para negro, usado no século XIX no Brasil.

(Sud Menucci, citado por Luis Carlos Santos em: Luiz Gama, Coleção Retratos do Brasil Negro, Selo Negro Edições, págs. 33 e 34, São Paulo, 2010)

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