Um pequeno comentário de cada um, na ordem em que foram vistos:
Tokyo! – É um mosaico formado por três curtas. Três visões, de três diretores estrangeiros (Michel Gondry, Leos Carax e Bong Joon-ho), sobre a capital japonesa, que misturam técnicas de documentário e realismo fantástico, temperado com altas doses de uma narrativa contemporânea mezzo cult e mezzo caótica. O mais fraquinho, na minha opinião, é justamente o de Michel Gondry (Interior Design), que conta a história de uma garota e seu namorado, que quer ser cineasta e traz um filme B no currículo. A garota começa a se transformar numa cadeira, mas embora a metáfora tenha relação com a história, particularmente, não gostei do conjunto. Shaking Tokyo, do coreano Bon Joon-ho é o meu preferido. Muito sensível, conta a história de um jovem que decide confinar-se em casa, por desencanto com o mundo fora de seus portões. Ao se apaixonar, 11 anos depois, revê seu exílio voluntário, mas descobre que um grande terremoto separou Tokyo do resto do mundo e que outros jovens também desistiram da vida exterior. Já o último filme, o do francês Leos Carax, é o mais irônico, divertido e metafórico dos três. E aqui sim, o recurso da metáfora é bem usado. Merde conta a história de um improvável terrorista, comedor de flores, que vive nos bueiros de Tóquio e decide atacar as pessoas na véspera do Natal. Nota 9.
P.S.: Eu te amo – Comédia dramática e romântica bonitinha estrelada por Hillary Swank (sempre boa de ver) e Gerard Butler. Conta a história de uma jovem viúva que aprende a lidar com suas inseguranças e a aguentar a ausência do marido a partir de cartas deixadas por ele, antes de morrer. Ao longo do filme, ela tanto redescobre o prazer de viver quanto encontra a verdadeira vocação, pois enquanto o marido estava vivo, mantinha-se atrelada a ele e o culpava pelas frustrações pessoais. O tema principal é o amadurecimento, mas abordado de uma forma bem “coisa de mocinha”. Para quem gosta do gênero, vale a pena. Um adendo é a sempre maravilhosa Kathy Bates, que aparece pouco, mas rouba a cena como a mãe meio amarga e totalmente pé no chão da viuvinha vivida por Swank. Nota 8.
A vida secreta das abelhas – Um drama comovente e nada piegas, que pessoalmente, gostei bastante. Fala de amor, mas não aquele de casal e sim o de família, pertencimento, autoestima e segundas chances. Dakota Fanning e Paul Bettany estão ótimos nos papeis, respectivamente, de uma adolescente tímida e retraída que carrega a culpa pela morte da mãe (ela disparou uma arma acidentalmente aos 4 anos) e o pai da menina, um homem rude, racista e amargurado pela perda da esposa, que mantém a filha confinada e entregue aos cuidados de uma babá que ele trata como escrava. O pano de fundo são os anos 60 e as lutas pelos direitos civis dos negros norte-americanos. Queen Latifah também merece pontos por sua interpretação convincente de uma maternal fabricante de mel, que ajuda a adolescente vivida por Dakota a encontrar um lugar no mundo. Nota 9.
1492: A conquista do Paraíso – Por mais incrível que possa parecer, nunca tinha assistido a versão romantizada de Ridley Scott para o descobrimento da América e só assisti dessa vez porque meu filho precisava fazer um trabalho escolar. A professora de História indicou, decidimos ver. Como sou fascinada por História, não é sacrifício. O filme tem aquela grandiosidade que, em alguns momentos, beira a megalomania, inerente a algumas obras de Scott. Como entretenimento vale a pena e como recurso paradidático rende discussão. Até porque, a visão do diretor é muito condescendente com a colonização e suas consequências. Gerard Depardieu é um ótimo ator e consegue criar um Colombo meio visionário, meio doido, mas ingênuo demais para ser verossímil. Os demais atores estão corretos dentro de seus papeis. Não é o melhor épico de todos os tempos, mas como reconstituição de época é interessante. Nota 7,5.
O contador de histórias – O filme é inspirado na vida real de Roberto Carlos Ramos, mineiro, pedagogo, ex-interno da Febem, que transformou-se em arte educador depois de ter flertado com a marginalidade na adolescência. Aos 6 anos, Roberto Carlos foi levado pela mãe (que tinha mais 9 filhos) para uma nova instituição anunciada pelo governo militar, justamente a Febem, como local onde as crianças teriam oportunidade de estudar e garantir um futuro melhor. Mas a realidade era bem outra. Por ser uma cinebiografia e por contar uma história de vida que começa trágica, mas encontra a redenção pelo amor, o filme poderia ser água com açúcar das mais melosas, mas não é nada disso. Embora comova em inúmeras cenas, de fazer chorar mesmo, a narrativa conduzida com maestria pelo diretor Luiz Villaça, é lúdica, sensível e tão criativa como o próprio biografado. O retrato da época, o Brasil dos anos 70, é magistralmente construído. Nota 10!
Império dos sonhos – Confesso minha incapacidade de analisar este filme no momento. Estou digerindo, mas creio que precisarei rever. Embora David Linch não seja dos diretores mais fáceis, a opção pelo surrealismo e por abrir mão totalmente da narrativa clássica e linear que agrada boa parte dos espectadores torna-o pouco palatável, coleciono algumas de suas pérolas, que me colocam em estado de êxtase: Cidade dos Anjos, Coração Selvagem e Twin Peaks, tanto a série quanto o longa Os últimos dias de Laura Palmer. Nunca tive problemas para entender o universo onírico de Linch antes, mas Império dos Sonhos, que ainda não tinha visto, me parece, numa primeira impressão, um delírio visual puro e simples, uma experiência sensorial intraduzível. É para ver e sentir, sem definição aparente. A nota ficará para quando eu rever a obra.