A revista Muito deste domingo traz uma entrevista fabulosa com o professor Nelson Pretto, uma das criaturas que gravitam na UFBA e por quem tenho um grande respeito. Sempre foi uma das minhas melhores fontes na época de repórter de geralzona. Pretto é um cara muito lúcido, criativo, consciente e que milita em prol da educação com uma paixão comovente e contagiante. Selecionei alguns trechos que considero os melhores da versão impressa da entrevista…
Abra aspas para Nelson Pretto:
“(…) A educação virou mercadoria. Esse é o grande problema. A gente tem exemplos típicos disso. Os meninos não chegam à escola com os deveres errados. Isso é um absurdo. O dever errado é a melhor forma de aprender. Nem entrando no mérito se deve ou não ter dever. Mas você desenvolver uma coisa e errar, não tem nada mais lindo e rico que isso. Essa escola fake, artificial, nem os alunos nem os professores aguentam. Vira um cabo-de-guerra.”
“(…) Repare, eu não sou tão velho assim, mas na minha escola nunca ouvi falar em produtividade, ranking, desempenho. E hoje converse com um educador. Em cinco minutos sou capaz de apostar que ele vai falar nisso. É uma loucura, porque você traz para dentro da escola uma lógica de competição que destrói tudo. É aquilo que o filósofo espanhol José Antonio Marina fala, da necessidade de resgatar a ética dos náufragos. Ele diz: ‘a atual ética é míope porque pensa como único valor a vida, e não o direito à vida’. A metáfora do náufrago é ótima, porque na hora que o bicho tá pegando é que você vê quem tem ética. Se for a ética da vida, vou salvar a minha. Se for a ética do direito à vida, todos têm. Lembro o professor Felipe Serpa dizendo que a gente tem que se inspirar na lógica indígena de que, quando um tem fome, isso é um problema de todos. Na sociedade capitalista atual, a lógica é, ‘farinha pouca, meu pirão primeiro’. Acho que a gente tem de substituir por ‘farinha pouca, um pouco para cada um'”.
“(…) Tá passando dos limites essa falta de educação na Bahia. O cara abre o carro, bota o som na maior altura e aí vem alguém e diz que isso é da cultura da Bahia. Não é, é falta de educação. (…)”